O cultivar de café em Campinas

(*) Por Sandra Racy

“Campinas, cidade do café…?” Essa é uma afirmação em forma de pergunta que ouvimos com certa frequência, e a outra é: “Campinas ainda tem o cultivar em suas fazendas?”. A resposta é sim, a cidade ainda possui lavouras de café, ainda que de forma tímida. Obviamente, nada parecido com o que havia nos finais do século XIX e começo do XX, desses restam apenas um patrimônio mal identificado e, muitas vezes, mal cuidado, com algumas exceções, como a Catedral Metropolitana e o Mercado Municipal, que agora depois de longos anos passa por reforma.

Locais como os distritos de Sousas e Joaquim Egídio foram o que podemos chamar de um cinturão do cultivar do café por suas condições geográficas, e hoje abrigam algumas fazendas centenárias e sítios. E foi neste ambiente do distrito de Joaquim Egídio que tivemos a  grata surpresa de encontrar o Sitio Boa Vista, propriedade de Daniel Coudry.

Em uma visita, e depois de muita caminhada e conversa, soubemos que em um espaço de 2 hectares dos 17 que o sítio possui há vários tipos de cultura, em uma organização exemplar de belas paisagens há o que podemos chamar de  um café campineiro, o que torna tudo mais interessante e responde ainda mais a pergunta que ouvimos com tanta frequência citada acima: “Campinas tem café?”

Hoje podemos responder com mais veemência que sim, a cidade tem o cultivar do café e pode ser encontrado para consumo.

Segundo Coudry, o projeto do sítio Boa Vista começou em 2021, quando ele e a agrônoma Leila Pires, através de consultoria, projetaram o plantio com sistema de  agrofloresta, que transformou dois hectares do sítio em plantio de culturas perenes onde podemos encontrar café, frutas como banana e amora, e árvores medicinais, depois do processo de recuperação do solo onde anteriormente havia criação de gado.

Tudo isso trouxe como resultado o que é conhecido como SAFs, (Sistema agroflorestal), em que árvores frutíferas e outras culturas são plantadas fortalecendo o plantio e trazendo um benefício social, sendo que o sistema exclui os agrotóxicos e proporciona a fixação de nutrientes no solo.

“Apostamos no sistema não só pelo benefício, mas também para ter certeza de que o cultivar do café traria um fruto de alta qualidade”, ressalta Coudry. O plantio do café esta aliado ao de bananas e o resultado impressiona quando é visto.

A união das culturas já pode ser percebida em pouco tempo e o que foi e está sendo colhido traz qualidade para a colheita seletiva do café que apresenta doçura nos frutos. “Quero que este café seja conhecido como o ‘café campineiro’ e de muita qualidade , com plantio diferenciado”, afirma Daniel. O sítio hoje possui a variedade Arara e Acauã.

Seguimos então com mais uma pergunta: “O que mais determina uma boa bebida?” Com consumidores cada vez mais exigentes e aumento das cafeterias na região metropolitana, cresceu também o processo que envolve uma boa torra do café, marcas conceituadas e pequenos produtores de alguns anos pra cá se voltaram ao que é chamado de uma torra de qualidade.

Para quem conhece tudo que envolve o café sabe que a etapa da torra determina a qualidade da bebida. Ferramentas cada vez mais modernas são aplicadas para que o fruto tão bem trabalhado continue sendo tratado com qualidade e, assim, a torra tornou-se uma etapa determinante.

Pensando nisso, Daniel foi em busca de profissionais conceituados, chegando até aos irmãos Gabriel e Felipe Pine, que são mestres de torra, e aceitaram de imediato participar do projeto de plantio e lançamento desse café campineiro agroflorestal orgânico.

Para Felipe Pine, está sendo ótimo participar do projeto, colocar nossa experiência no processo para que Campinas tenha um café de alta qualidade. “Nos empolgamos quando nos foi apresentado tudo que seria feito e hoje já podemos ver resultados, isso é muito gratificante”, afirma.

Esse é um dos projetos do sítio que pretende disponibilizar o espaço para a área educacional também. “Tem mais projetos sendo elaborados, estamos em planejamento para outros e que incluem o café”, comenta Coudry

Fotos – crédito: Filomena Colevate

(*) Sandra Racy é jornalista e barista de café