(*) Por Sandra Racy
Em um país de dimensões continentais onde se produz cafés em regiões tão variadas seria quase impossível não registrar fatos, costumes que são peculiares e comportamentos tão arraigados nas populações e comunidades ao longo dos anos que envolvem o cultivar e suas diferentes formas de “passar um café”.
O café é democrático. Está presente em todo o país e cada região tem nele a influência das pessoas, do comportamento e ambiente, o que faz com que o Brasil seja uma referência no modo de fazer a bebida, e receitas que fazem do café um ingrediente tão rico.
Procurando, então, conhecer melhor o que cada região nos oferece, encontramos no Rio Grande do Sul _estado que não tem tradição no cultivar do grão_, o café feito na cambona, que, segundo Ana Paula Alvarenga, que é guia de turismo em São Nicolau, “é um costume que surgiu a partir das tropeadas, pelos tropeiros, que ao deslocarem-se de um ponto a outro para comercialização dos rebanhos, em suas paradas, em seus acampamentos, faziam o fogo de chão”, explica.
Ela conta que os tropeiros colocavam água para ferver em um utensílio de lata chamado cambona ou chiculateira, acrescentavam pó de café e logo em seguida um tição (madeira) em brasa para que o pó e a água se misturassem, e o pó do café (borra) fosse todo para o fundo da cambona (madeira utilizada que dá um toque especial ao sabor da café).

Para os profissionais da área, a ‘técnica’ pode causar muita curiosidade, mas devemos lembrar que a cultura e comportamento seculares nos traz a sabedoria popular na solução de coisas que nunca imaginamos, como o café de cambona.
Para acompanhar o café era servido o bolo frito (conhecido como “chinelinho”) que levava ovo, farinha, sal e água e era frito em gordura bem quente. Ana Paula faz o café na Pousada dos Jesuítas (São Nicolau-RS), que, não por acaso, leva esse nome. Segundo os historiadores, teriam sido os jesuítas que começaram a fazer o café de cambona.
Para a guia de turismo, é um privilégio fazer e servir o café que remonta há cerca de 400 anos no Brasil. Ela conta que os turistas, brasileiros ou europeus, sempre têm curiosidade em relação ao café, ou se sentem emocionados por ter alguma memória afetiva, uma lembrança familiar ligada ao café de cambona.

Ana Paula Alvarenga é guia de turismo na Pousada dos Jesuítas, onde faz o café de cambona e apresenta seu modo de preparo aos turistas.
(*) Sandra Racy é jornalista e barista
Fotos – crédito: Cátia Martins
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