“Mal-estar, sofrimento e sintoma”, título do livro recém-publicado pelo psicanalista e professor da USP Christian Dunker, é o tema do Café Filosófico da CPFL Cultura, em Campinas, no mês de maio. Os encontros são abertos ao público e ocorrem às sextas-feiras, às 19h. Também é transmitido ao vivo no site www.cpfcultura.com.br/aovivo.
Curador da série, Dunker abre a programação com uma palestra nesta sexta (8), e fala sobre os limites do sofrimento que as pessoas devem suportar e aceitar. “A pergunta que rege o módulo é saber quando é preciso agir para mudar o mundo ou a nós mesmos”, questiona.
Mais sobre o tema
O condomínio é uma construção que protege sem proteger. Trancados entre muros, seus moradores trocam uma duvidosa sensação de segurança por uma vida de restrições e vigilâncias impostas por regras internas geridas pela figura do síndico. Apesar das normas de convivência, os condôminos não estão livres dos problemas que imaginam deixar do lado de fora: a imperfeição das leis, a pressão pelo sucesso, a violência, a intolerância, a inveja dos vizinhos, etc.
A figura desse “condomínio” é a alegoria desenvolvida pelo psicanalista Christian Dunker para criticar a privatização dos espaços públicos e analisar os medos, angústias, preconceitos e revoltas dos indivíduos na sociedade contemporânea. Segundo ele, existem condomínios murados por toda parte. Erguem-se na agressividade do debate político, no fundamentalismo religioso, nas perseguições contra minorias, nas redes sociais, na produção do conhecimento, nos hospitais psiquiátricos, no tratamento de crianças “problemáticas”.
Para o curador, a violência silenciosa que se estabelece quando criamos uma zona protegida – com leis próprias e particularizadas, com síndicos a nos proteger e a nos oprimir, com rituais de humilhação e ostentação – permite, em uma segunda etapa, a manifestação de outro tipo de violência: a que nomeia o nosso mal-estar. “Afinal, não foi em nome disso que nos protegemos nos condomínios? A violência está lá fora, e se vamos sair de nossos condomínios é em nome de uma espécie de estado de barbárie”, diz.
“Se nos sentimos inseguros é porque há um objeto intrusivo entre nós, potencialmente violento e, portanto, fica justificada nossa atitude violentamente ‘preventiva’ contra negros, nordestinos, homossexuais e todos estes outros que vêm lá de ‘fora’ de nossa antes harmoniosa cidade, para alterar nossa ordem social.”
Essa gritaria desarticulada do debate político, afirma o psicanalista, tem uma demanda em curso. “É uma demanda de quem exprime de forma aberta e até certo ponto nova um conjunto de narrativas de sofrimento. E o sofrimento contém sempre um déficit de reconhecimento. A pergunta seguinte nos levaria a pensar sobre que tipo e qual qualidade de sofrimento estão em jogo aqui. Não seria uma intolerância à equidade? Será que não sofro porque ‘agora meu filho vai à faculdade com o filho da empregada’? Ou porque ‘os aeroportos viraram estações rodoviárias’ ou porque se ‘qualquer um tem carro o trânsito fica impossível’?”
Dunker aponta para o risco de o Brasil criar seu próprio fundamentalismo a partir de uma mistura entre grupos religiosos conscientes de sua capacidade de combate, ao modo de milícias da fé, com a estrutura em condomínio das relações de poder no espaço público. “A bancada evangélica não tem verdadeiros opositores. Ela é o retorno invertido do que há de pior em termos de intrusão de crenças privadas na esfera pública.”
Um sinal da despolitização desse sofrimento, diz o especialista, é a medicalização excessiva dos indivíduos. “O capitalismo descobriu que o sofrimento é um bom negócio e está tentado segmentá-lo, geri-lo e empreitá-lo como qualquer outro bem simbólico. A massificação do emprego de drogas em crianças é um holocausto psiquiátrico anunciado. A banalização do uso de drogas para criar desempenho sexual, laboral, educacional ou social criará uma civilização de pessoas cuja experiência subjetiva jamais poderá criar uma história que não a de sua própria anestesia.”
Programação:
Após a abertura do módulo com Dunker, o psicanalista e professor da USP Nelson da Silva Jr fala sobre “Sintomas sociais e racionalidade diagnóstica”, no dia 15 de maio.
No dia 22, a psicanalista e professora da USP Lívia Moretto Tourinho discute o sofrimento na cultura do sucesso na palestra “É preciso ser feliz?”.
O filósofo Vladimir Safatle encerra o módulo no dia 29 com o tema “A lógica do condomínio”.
08/05
“Mal-estar, sofrimento e sintoma” – Com Christian Dunker, psicanalista, colunista e professor da USP. Colunista de várias revistas, pós-doutor pela Universidade Metropolitana de Manchester, Analista Membro da Escola dos Fóruns do Campo Lacaniano. Recebeu o prêmio Jabuti em 2012 por “Estrutura e Constituição da Clinica Psicanalítica” (Annablume)
Neste programa serão apresentadas três noções no contexto da expansão do uso de diagnósticos clínicos e sociais para definir nossas formas de vida. A dimensão filosófica e existência da angústia que se apresenta no mal-estar, bem como as condições narrativas pelas quais o sofrimento se exprime e é reconhecido socialmente, bem como a ideia de sintoma como algo que atrapalha mas também porta uma verdade que ainda não pode ser reconhecida pelo sujeito.
15/05
“Sintomas sociais e racionalidade diagnóstica” – Com Nelson da Silva Jr, psicanalista e professor da USP
Diferentes sentidos, muitos deles incompatíveis entre si, compartilham a mesma expressão: “sintomas sociais”. De fato, pode-se encontrá-la tanto em um discurso higienista, marxista, gerencial ou psicanalítico, com significações profundamente heterogêneas. O estabelecimento de fronteiras e o exame da racionalidade diagnóstica presente em cada um desses usos exige a explicitação de sua compreensão do que é a vida social em seu princípio. Isto exige, em resumo, o seu posicionamento político.
22/05
“É preciso ser feliz – o sofrimento na nossa cultura do sucesso” – Com Lívia Moretto Tourinho, psicanalista e professora da USP
Como os sujeitos que chegam ao psicanalista apresentam o seu sofrimento hoje? O argumento orientador da discussão é que toda expressão de sofrimento traz em si uma demanda de reconhecimento, mas entre o desejo de reconhecimento e o reconhecimento do desejo é preciso examinar de modo crítico a relação do sujeito com as ideias de sucesso, beleza, autonomia e autenticidade.
29/05
“A lógica do condomínio – Com Vladimir Safatle, filósofo, professor da USP e colunista da Folha de S. Paulo
Seguindo a via aberta por Christian Dunker em seu novo livro, o filósofo debate como a lógica do condomínio impõe-se como modelo de produção social de afetos. Veremos como ela só pode ser compreendida no interior da elevação do medo a afeto social fundamental, seguindo com isto uma tradição que remonta a Hobbes. Veremos ainda como tal articulação pode nos dizer muito sobre as formas de sofrimento social em terras nacionais.
Café Filosófico
Local: CPFL Cultura. Rua Jorge Figueiredo Corrêa, 1.632, bairro Chácara Primavera – Campinas. (19) 3756-8000
Entrada: gratuita (por ordem de chegada, recomenda-se chegar com antecedência)
Também é transmitido ao vivo no site www.cpfcultura.com.br/aovivo
Fonte: assessoria de imprensa
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