Aniversário de Campinas

Monumentos públicos de Campinas: A constante necessidade de rememoração

10 de julho de 2023

(*) Por Josemar Antônio Giorgetti

Campinas é um dos exemplos de monumentos em espaços públicos orientados pela construção da modernidade urbana a partir da república brasileira. De acordo com pesquisas recentes, são aproximadamente 200 monumentos tombados que se relacionam com o tema, erguidos nos últimos 120 anos, entre eles, 23 obras são do acervo do artista italiano Lelio Coluccini, que viveu na cidade.

Uma das principais inquietações das cidades ocidentais, que se modernizaram no século XIX, era a construção de valores que pretendiam educar a sensibilidade social para o rumo esperado na sociedade industrial e urbanizada. Entre eles, a promoção de monumentos artísticos públicos, geralmente em pedra ou bronze, materiais de resistência quase infinita, com o intuito de rememorar personagens locais, autoridades, eventos históricos e marcos, conquistas tecnológicos e econômicas.

A metrópole se urbaniza. Ruas, praças, jardins e esquinas receberam, às vésperas da modernização, novas calçadas, iluminação e estacionamentos, além de nova arquitetura pública com obras de arte com formas plásticas, criadas por alguns dos melhores artistas da época.

Foto: passeio “Monumentos Públicos de Campinas: Arte, História e Cidade”, promovido pela agência Próximo Passeio e projeto “Revisitando o Brasil – edição Campinas”

Numa primeira análise da memória coletiva, os memoriais constroem, inclusive, um sentimento de pertencimento a um lugar que acompanha todo o desenvolvimento da comunidade a partir daquele momento. Através do monumento, a intenção primeira é a lembrança. Essa tradição nos dá um sentimento de pertencimento e de conhecer a história do lugar.

O patrimônio cultural é uma parte importante da identidade coletiva e nos ajuda a entender o passado e a dinâmica de uma sociedade. Conhecê-lo é, portanto, um passo fundamental para a ação dos diferentes grupos sociais, bem como para o planejamento urbano e o desenvolvimento de políticas públicas – e ele requer, a qualquer tempo, proteção. Mas a missão de rememorar por meio de um monumento não é uma tarefa fácil.

O monumento tem como característica se ligar ao poder de perpetuação, voluntária ou involuntária, das sociedades históricas (é um legado à memória coletiva). Mas o esquecimento, o desinteresse na rememoração e o vandalismo retiram dos monumentos públicos a intenção inicial histórica e artística.

Acreditamos que a cultura de um povo é viva e marcada por relações sociais em constante mudança, manifestando-se em diversos aspectos simbólicos e materiais e  revelando, cotidianamente, a essência de uma sociedade: suas características, contradições e valores. Ela se consolida e se transforma ao longo do tempo e das gerações. O legado deixado constitui o patrimônio cultural de um povo, que é parte integrante da sua identidade, porque nos permite compreender o passado e a dinâmica da sociedade sempre em movimento. Por meio de monumentos públicos, a cidade pode nos ajudar a entender como a sociedade se desenvolveu, para que isso não seja esquecido.

Foto: monumento das Andorinhas, ao lado da Prefeitura e em frente a biblioteca central

Considerando as pessoas ilustres e eventos históricos homenageados, devemos levar em conta que tais obras não são frutos da casualidade, pelo contrário, trata-se de protagonistas e acontecimentos que tiveram papel fundamental na história de nossa tradição, devendo ser estudados no ambiente cultural atual.

Essas narrativas de homenagem devem sempre exercitar uma compreensão teleológica, isto é, uma análise do contexto, um estudo filosófico dos fins, do propósito, objetivo ou finalidade. Caso contrário, esses monumentos ou homenageados não serão entendidos adequadamente.

Assim, a imagem da obra por si só não basta. Ela precisa vir acompanhada de elementos que construam a narrativa apresentada, pois o descaso gerado pela falta de informação culminará na perda completa da memória daquele monumento.

Por meio do conhecimento dos monumentos públicos, vamos rememorando esses personagens, fatos e acontecimentos que fizeram nossa história, além de podermos entrar em contato com uma arte escultórica única, já que os referidos monumentos foram confeccionados por grandes artistas, não só campineiros, mas de grandeza nacional, como é o caso de Lelio Coluccini, Vilmo Rosada, Vicente Larocca, Etore Ximenes, Amadeo Zani, Rodolfo Bernardelli, Julio Guerra, Celso Antonio de Menezes, Yolando Malozzi, Fernando Frick e tantos outros anônimos, que deixaram marcas artísticas indeléveis. Esses artistas merecem um artigo à parte, dado a importânciancia que tiveram no contexto artístico, principalmente no movimento Modernista brasileiro.

Na história da nossa cidade, contamos com a feliz iniciativa dos nossos antepassados ​​em deixar uma memória através destes monumentos, cujo objetivo é perpetuar as nossas memórias coletivas. Resta-nos a tarefa de preservar e rememorar.

Para saber mais, acesse no link o mapa do Centro de Campinas, onde se localizam os principais monumentos.

(*) Josemar Antônio Giorgetti é advogado e historiador; mestre em História pela Unicamp, com ênfase em História da Arte, na linha de pesquisa de arte moderna e contemporânea e doutorando na mesma área; titular da cadeira nº 2 do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas (IHGG – Campinas); conselheiro do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc), titular representando a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

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