Por Vinícius Zaia Ferreira
O Urban Sketchers é um movimento global da prática do desenho local criado em 2008 pelo jornalista espanhol Gabriel Campanario. Em diversas partes do mundo, pessoas se juntam para desenhar as cidades e mostrar por meio da arte como vêem o lugar onde vivem. Presente em mais de 60 países, o movimento também possui sua versão campineira.
Luiza Bonon (27), designer gráfica, é cofundadora e coordenadora do movimento Urban Sketchers Campinas. Ela explica que o grupo local se originou no início de 2018 visando valorizar a cidade, os espaços públicos e as pessoas, através do desenho urbano.
O grupo foi criado inicialmente pela arquiteta e ilustradora Fernanda Bonon, também de 27 anos, administradora do grupo, com o objetivo de “desfragmentar a ideia de espaço público como algo banalizado, sem história e sem vida, reconhecendo-o como algo dotado de valores, de memória coletiva e de vivência, sendo assim, o desenho uma ferramenta essencial.”
Ela conta que estava no último ano da faculdade de arquitetura buscando novas experiências e conheceu o movimento mundial. Para trazer a iniciativa para Campinas, ela só precisou entrar em contato com o administrador do Urban Sketchers Brasil. “Acredito que ajuda na valorização de Campinas na medida em que faz as pessoas pararem um tempo para olhar a cidade de uma forma como não olhariam cotidianamente com a pressa do dia a dia”, comenta.
Por usarem o nome Urban Sketchers, os integrantes fazem parte de um coletivo muito maior, seguindo as orientações do manifesto do movimento, mas funcionando de forma independente. Os encontros reúnem entre 15 e 20 pessoas, de acordo com as fundadoras. É um grupo aberto e gratuito, qualquer pessoa pode participar, sem precisar ter uma base de técnicas de desenho.

Foto – crédito: divulgação
“Os encontros são mensais, então, uma vez por mês fazemos enquetes de onde as pessoas gostariam de desenhar, marcamos o encontro normalmente no primeiro domingo do mês. O encontro dura, mais ou menos, 2h, Os participantes se espalham e escolhem um lugar para desenhar e no final colocamos os desenhos todos no chão que para as pessoas que estão passando no entorno possam presenciar o trabalho produzido pela manhã. No final, conversamos sobre a produtividade, trocamos experiências de como foi o encontro”, explica.
Ela conta que a escolha das opções da enquete surgem por já estarem fazendo os encontros há quatro anos e irem entendendo quais são os lugares mais interessantes para se reunirem. “Nos parques as pessoas vão muito, mas também marcamos em lugares mais privados. O Swiss Park foi um encontro em que foi muita gente, por mais longe que seja e um pouco fora de mão para a maioria das pessoas. Pensamos em lugares confortáveis para desenhar, com bancos, vegetação e com mais de um elemento para ser desenhado”, disse.

Foto – crédito: divulgação
Além de postar fotos dos encontros e de alguns desenhos na página oficial no Instagram (@uskcampinas), Fernanda conta que os trabalhos já fizeram parte de exposições itinerantes pela cidade. “Já fizemos exposição no Museu da Imagem e do Som que ficou por quatro meses desde o início do ano. Fazemos em galerias ou eventos que nos convidam para expor ou fazer desenhos. Teve um evento no Largo do Rosário que a gente foi lá desenhar a convite do Senac, ou seja, são lugares que a gente entende que faz sentido expor nossos desenhos.”
De acordo com Fernanda, os organizadores dos encontros explicam a história do lugar para os desenhistas entenderem o contexto do que será desenhado. Ela acredita que o projeto ajuda a valorizar a cidade por mostrar, por meio da arte, cenários de Campinas que passam despercebidos durante a vida cotidiana. Ela completa dizendo que um cartão postal da cidade que ainda precisa ser desenhado é a Catedral Municipal de Campinas, mas que por ser um lugar muito movimentado, é um pouco difícil de ser retratado.
“Uma coisa bacana nos encontros é que nunca distinguimos um desenho bom de um ruim. Sempre procuramos enxergar o ponto de vista de cada um e seu olhar da cidade”, afirmou.
Fernanda é de Campinas, assim como todos os moderadores do projeto. Porém, pessoas de outras cidades da região também costumam participar dos encontros por não ter um Urban Sketchers ativo nos municípios do entorno.
“Além da arquitetura, eu sempre andava muito pela cidade a pé. Sempre fui muito curiosa e gosto de observar a região central de Campinas. Eu sempre me encantei muito pelas coisas cotidianas, achava muito legal as pessoas que colocam a cadeira na frente de casa e ficam olhando a rua, os vizinhos conversando e as crianças brincando. Por mais normais que sejam, sempre vi muita beleza nessa vida urbana. Como gostava de desenho, comecei a ligar o útil ao agradável, uma forma de mostrar através da arte esse cotidiano tão bonito que eu enxergo na cidade”, disse ela, explicando como a relação pessoal com a cidade influenciou na criação do movimento campineiro.
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