(*) Por Vagner Couto, psicanalista
Arte: Giovanna Pascke
Mais um simpósio em produção na agenda… – desta vez refletindo as diversas mudanças que a pandemia trouxe ao fazer psicanalítico, subvertendo o seu ambiente e as suas condições tradicionais de atendimento, conhecido por enquadre – em especial no deslocamento do atendimento presencial para o atendimento on-line. É dentro deste contexto que se situa este evento: o “32º Simpósio Cefas – As Novas Configurações e Vínculos da Clínica Psicanalítica”, programado para o dia 19 de novembro de 2022 e produzido sob coordenação deste escriba e do professor doutor Antonios Terzis, diretor acadêmico do Cefas, tradicional escola de psicanálise em Campinas.
No Brasil e no mundo, a pandemia de Covid-19 estabeleceu novos paradigmas a respeito da vida cotidiana, modificando estruturas e processos em quase todos os âmbitos da sociedade, seja na cultura, na vida doméstica, na comunicação ou no trabalho. A necessidade de distanciamento, preconizada pelos protocolos de saúde pública como forma de prevenção à contaminação pelo coronavírus – seja no âmbito público e, também, no âmbito privado, familiar, criou situações radicais de isolamento entre as pessoas – às vezes por períodos prolongados, que teve, como consequência, a provocação de uma gigantesca onda de distúrbios mentais, atingindo pessoas de todas as classes sociais, etnias, sexo e faixas de idade. Uma segunda pandemia seguiu-se à primeira, a pandemia psicopatológica, a pandemia da angústia, da depressão, da ansiedade, do desalento e da falta de sentido.
Essa emergência em saúde mental também criou um dilema particular na área psicanalítica: como manejar essa situação perante o clássico e secular protocolo estabelecido quando ao enquadre psicanalítico? Como transferir para a tela e para a virtualidade todo um aparato clínico fundado no presencial do encontro terapêutico entre analista e paciente? Transferir o enquadre para a tela não seria transgredir com mais de 100 anos de tradição da psicanálise? Na tela, sem divã e sem a intimidade do consultório, a psicanálise seria a mesma praticada por Freud e seus continuadores?
Por um lado, impedidos de atenderem presencialmente, psicanalista e outros profissionais psi foram impelidos, ou “obrigados”, a uma releitura dos protocolos quanto ao atendimento psicoterapêutico. Seja por um motivo nobre – atender essa emergência de saúde mental pelo único meio que pacientes e eles próprios, analistas, dispunham – o on-line, e seja por outro motivo também nobre – os analistas precisavam trabalhar, ganhar seu pão, e o on-line era o único jeito, muitos analistas, mesmo os mais resistentes, se viram obrigados a vencer resistências e mudar posturas, se vendo na contingência de ampliar seus horizontes e, assim, aderir ao atendimento on-line.
Por outro lado, se eles ficassem fechados em seus casulos psicanalíticos, presos a dispositivos arcaicos de sua conveniência ou concepção, sem levarem em conta o paciente em sua circunstância, estaria sujeito que a pandemia na área de saúde mental fosse ainda mais devastadora do que já é.
É assim que este simpósio se propõe a avaliar como o imenso aparato tecnológico do mundo contemporâneo – particularmente aqueles com imagens por vídeo – Zoom, Skype, Google Meet, Jeetsi Meet, WhatsApp… – influenciam o trabalho analítico e possibilitam, ou não, que o mesmo aconteça conforme as condições que a psicanálise prescreve para o seu funcionamento. E investiga quais são efeitos ou transformações a que a clínica psicanalítica está sujeita a partir da entrada dessas novas ferramentas como intermediadoras da relação analista-paciente. Por assim dizer, um novo modo Zoom de psicanálise.
Programação
Além de participar da coordenação de produção deste simpósio, estarei fazendo a mediação das suas diversas palestras e mesa redonda, com a participação de eminentes psicanalistas como Márcio Garrit e Neyza Prochet, do Rio de Janeiro; José Carlos Veras Di Migueli, Carmen Fabriani, Cláudia Tassara e Antonio Terzis, de Campinas, ainda contando com uma conferência do médico e pediatra José Martins Filho, ex-reitor da Unicamp, nosso convidado especial.
Teremos, enfim, as seguintes palestras:
– As configurações vinculares e práticas psicanalíticas individual e de grupanálise on-line
– Reflexões sobre uma clínica psicanalítica para o século XXI
– Vicissitudes das regras fundamentais da psicanálise no atendimento psicanalítico on-line
– O desenvolvimento cerebral na infância, os primeiros mil dias e psicopatologias da tecnologia atual
Fechando o simpósio, acontecerá a mesa redonda: “Como o analista iniciante pode ampliar e aplicar seu conhecimento e o método psicanalítico para a construção de um dispositivo terapêutico efetivo no atendimento on-line”, que visa aprofundar a reflexão sobre como acontecem fenômenos considerados essenciais à psicanálise no atendimento on-line: a transferência, a contratransferência, a resistência, a associação livre a atenção flutuante, a escuta e a fala.
Desta forma, o simpósio transitará na valorização de um olhar sobre a necessidade do psicanalista desenvolver um novo manejo das suas formas de intervir na clínica, onde a flexibilidade, a criatividade e a elasticidade se impõem como recursos essenciais ao desenvolvimento de um novo processo no eixo transferência-contratransferência da sua relação com seu paciente. Como num velho filme, de volta para o futuro.
Para saber mais, acesse o link: www.cefas.com.br/simposio
*Vagner Couto – Psicanalista, é assessor acadêmico do CEFAS. Já coordenou a realização de mais de 50 simpósios e outros eventos psicanalíticos e de saúde mental junto a instituições como Associação Brasileira de Psicoterapia de Grupo, Núcleo de Estudos Psicológicos da Unicamp, Sociedade Psicanalítica de Campinas, Sociedade de Psicoterapia Analítica de Grupo de Campinas, Sociedade de Psicologia de Campinas, Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas – Departamento de Psiquiatria e CEFAS. É escritor, jornalista e produtor cultural. Tel. 19 99760 0201 – [email protected]
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