Aniversário de Campinas

Palácio dos Azulejos: Passado e presente de um dos principais patrimônios de Campinas

11 de julho de 2022

Atualizado em 10 de julho de 2023

O imponente e belíssimo prédio localizado bem no cruzamento das ruas Regente Feijó com Ferreira Penteado é um dos principais patrimônios de Campinas. De residência nos áureos tempos do café à sede da Prefeitura e hoje um museu, o famoso Palácio dos Azulejos é um ícone da cidade.

A construção nasceu da junção de duas residências construídas pela família do cafeicultor e empresário Joaquim Ferreira Penteado, o Barão de Itatiba, e o genro, o Tenente Coronel Pacheco e Silva, no fim da década de 1870.

A historiadora, mestre em história social e doutora em história cultural pela Unicamp, e coordenadora do departamento de Turismo da Prefeitura de Campinas de 2003 a 2012, Mirza Pellicciotta comenta sobre a construção do Palácio, e destaca a importância da economia cafeeira na época para a cidade: “Fazia já algum tempo que Campinas tinha se destacado de forma plena como grande espaço de uma cultura cafeeira que trouxe para a cidade imensas riquezas. Então, nascia uma área da cidade de muita nobreza. Por outro lado, também nesse período, já estava em cena a instalação da ferrovia, que ficava nas ruas exatamente atrás da Catedral e do Palácio dos Azulejos. Observamos na instalação dessa construção um lugar nobre, estratégico e de desenvolvimento urbano”, explica.

De acordo com a historiadora, a modernidade arquitetônica também chama atenção. “Ele trazia inovações, trazia o tijolo, encapando as estruturas feitas em taipa. Vinha com inovações extraordinárias nas estruturas de telhado, na utilização de materiais de decorações internas, pinturas, murais maravilhosos”, comenta. “É realmente uma edificação que, quando a gente pensa no seu tempo de construção, é extremamente inovadora e marcante de toda a transformação que a cidade estava vivendo, e a riqueza trazida pelo café, essa riqueza que estava na origem da família que construiu esse casarão.”

O casarão foi construído em taipa de pilão e tijolos, sendo sua fachada revestida com azulejos portugueses, em estilo neoclássico inovando o panorama da cidade, conforme aponta a historiadora. A sua construção em 1878 contou também com materiais importados como: mármores, tintas, lustres, e metais.

Além do revestimento com a aplicação de azulejos portugueses (que deu ao prédio o nome pelo qual é conhecido), há estátuas em louça branca no topo da fachada e gradis de ferro trabalhado no balcão do segundo pavimento e na porta de acesso principal. Internamente, pinturas murais decoram todos os ambientes.

O Palácio foi, durante muitos anos, um dos maiores símbolos da aristocracia cafeeira na cidade de Campinas.

Segunda fase – Paço Municipal e Sanasa

De acordo com o livro “Palácio dos Azulejos – Cenas de ressignificação e ocupação popular de um prédio histórico em Campinas”, de autoria dos jornalistas Martinho Caires e José Pedro Soares Martins, a história do prédio tem três fases. Após a primeira, original, nas últimas décadas do século 19, quando Campinas vivia o auge do Ciclo do Café, como moradia do coronel Joaquim Ferreira Penteado e família, a segunda ocorre entre as décadas de 1910 e 1960, e corresponde à ocupação do Palácio dos Azulejos como sede da Prefeitura de Campinas e de reuniões da Câmara Municipal. Uma terceira fase reportada no livro seria aquela em que o Palácio dos Azulejos se torna um dos mais emblemáticos territórios das artes no Centro de Campinas, passando a receber o Museu da Imagem e do Som.

Mas antes do que se tornar o que é hoje, o imóvel foi adquirido pela Prefeitura de Campinas no início do século XX. A residência de Penteado fora comprada no ano de 1908, assim como a do Tenente em 1916, se formando então um único imóvel, com adaptações, abrigando, portanto, as novas instalações do Paço Municipal, onde cumpriu função a partir de 1909 até 1968.

Apesar de ser uma das mais importantes construções urbanas e arquitetônicas do período imperial, mesmo assim chegou a flertar diretamente com diversos projetos de demolição, como, por exemplo, em 1938, o que após o regimento do Plano de Melhoramento Urbano, acabou sendo impedido por alguns especialistas que enxergavam no Palácio uma possibilidade de abrigar o Museu Histórico de Campinas. Também houve forte ação de um movimento de intelectuais e dos jornais contra a destruição do prédio.

Em 1968, com a inauguração do novo Paço Municipal, o Palácio dos Azulejos passou ao controle da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S/A (Sanasa). Durante essas ocupações do edifício por órgãos públicos, o imóvel sofreu algumas alterações, como: substituição de pisos e telhados, trechos de paredes removidos, criação de um pátio interno e construção de dependências anexas.

Após ser transformado em espaço público, o edifício foi tombado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 1967, pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico, órgão subordinado à secretaria da Cultura do Estado de São Paulo) em 1981, e pelo CONDEPACC (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas) no ano de 1988, e é o único prédio da cidade tombado, portanto, nas esferas municipal, estadual e federal.

Com o passar dos anos foi assunto de diversos debates sobre qual deveria ser o devido uso do local, ao mesmo tempo em que a Lei do Uso e Ocupação do Solo, nos anos 1980, regulamentava um novo perímetro para o Centro Histórico campineiro. Sendo assim, ocupado pela Sanasa até o ano de 1996, o Palácio recebeu mais um projeto de revitalização, procurando também restaurar as instalações e a reutilização dos espaços internos.

Terceira fase – MIS 

A partir de 1996, o edifício passou a abrigar diversos órgãos da Secretaria de Cultura. Ainda de acordo com o livro dos jornalistas Martinho Caires e José Pedro Martins, o ex-prefeito Antônio da Costa Santos fez esforços para a preservação e recuperação do Palácio dos Azulejos, que ele projetava ser o início de um grande programa para o Centro da cidade, tendo consultado inclusive o arquiteto Oscar Niemeyer visando a construção de um sonhado e esperado teatro à altura de Campinas, mas Toninho foi assassinado no ano de sua posse, em 2001.

Em 2004, o prédio tornou-se a sede do Museu da Imagem e do Som de Campinas (MIS), atividade que é mantida até hoje no local.

Mas a tão aguardada revitalização geral ainda não saiu.

Em 2014, a Prefeitura chegou a anunciar que receberia do Ministério da Cultura uma verba de R$ 1,3 milhão, que já estava prevista e que estaria aguardando apenas a liberação dos recursos, para reformas na área de acessibilidade, construção de um espaço de alimentação, paisagismo interno, além de uma sala de cinema equipada com aparelhos de última geração.

De acordo com a Prefeitura, o projeto elaborado pela Secretaria Municipal de Cultura em 2014 foi detalhado e pleiteou recursos junto ao Ministério da Cultura, que não liberou os recursos.

A Prefeitura informou ainda que na época foram apresentados os detalhamentos do projeto, como solicitado, mas com as mudanças ocorridas com a gestão do Ministério foram cancelados programas e projetos de repasses e recursos, e a verba não estava mais disponível para transferência ao município de Campinas.

Partes do projeto, segundo a administração municipal, foram executados com recursos do próprio município, por exemplo, o projeto de prevenção e combate a pânico e incêndio com a instalação de sensores e alarmes e também a obtenção do AVCB – Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros do prédio do Palácio dos Azulejos.

A Sala Glauber Rocha, que não era possível utilizar na época, está hoje em uso. “A secretaria de Cultura busca recursos para atualização constante de equipamentos e para melhorias no imóvel. Após a pandemia, o MIS já está com diversas atividades em funcionamento, como o cineclube, debates e encontros e ampla programação aberta à população durante a semana e no período da noite e aos sábados”, informou a Prefeitura.

Em 1º de setembro de 2022, a sala foi reaberta com um novo projetor e teve toda sua parte elétrica refeita, de acordo com a Prefeitura, e traz uma programação gratuita de exibição de filmes.

Em julho de 2022, a Prefeitura informou que a Cultura desenvolveu em conjunto com a secretaria de Infraestrutura um projeto de intervenção para a recuperação do telhado, com troca de telhas no prédio principal e troca total de telhas no anexo, também pintura da fachada e substituição de vidros. Este projeto está em análise no Condepacc, no Condephaat e o IPHAN, aguardando aprovação desses três órgãos para ser aberta uma licitação para execução das obras pelo município com recursos da própria Prefeitura. O prazo dependerá das respostas dos órgãos federal e estadual que cuidam do patrimônio, segundo a administração municipal.

Em julho de 2023, a Prefeitura informou que o projeto para a reforma do prédio (telhado e fachadas) ainda está em desenvolvimento e que deve ser concluído em cerca de 90 dias. A partir daí, poderá ser iniciado o processo de licitação. A estimativa de investimento é de R$ 1 milhão.

Sobre o acervo e atividades

O acervo do Museu da Imagem e do Som (MIS) de Campinas é composto de fotos, filmes, negativos, vídeos, slides, discos, fitas e objetos sobre a história social e cultural da cidade de Campinas e região, e se apresenta em cinco diferentes linguagens: Audiovisual (cinema e vídeo), Fotografia, Música, Tecnologia e Biblioteca, disponível para pesquisadores de todo o país.

O setor de acervo fotográfico traz 75 coleções e aproximadamente 35 mil imagens, retratando Campinas e região desde o final do século XIX até os dias atuais, sua intensa e gradual transformação urbana na cidade, os movimentos culturais, os atos administrativos de vários prefeitos, obras públicas, solenidades políticas e a população.

Já o acervo de música é denominado “Discoteca Rynaldo Ciasca”. Tem a função de preservação, catalogação e é constituído por 60 CDs, 900 gravações em fitas de rolo e aproximadamente 20 mil discos, dentre os quais os antigos de 78 rotações, LPs de vinil em 33 1/3 rotações, compactos, discos gigantes, discos curiosos, de diversos materiais, etc.

E o tecnológico possui um significativo acervo com aproximadamente 400 peças, correspondentes a objetos tecnológicos de imagem e som, formado através de doações ou obsolescência de seus materiais de uso. A maioria está na exposição de longa duração, possibilitando o conhecimento da evolução de câmeras e materiais fotográficos, projetores cinematográficos, gramofones, aparelhos de TV, entre outros.

O MIS-Campinas realiza diversas atividades, como exposições, cursos gratuitos, palestras, debates e exibições de filmes, com uma programação mensal de sessões temáticas.

Serviço:

MIS-Campinas – Palácio dos Azulejos
Local: rua Regente Feijó, 859, Centro de Campinas
Funcionamento: de terça a sexta, das 9h às 17h; sábados, das 9h às 15h
Programações de cinema podem ter horários diferentes do atendimento para visitação
Mais informações: www.facebook.com/campinasMIS

Foto – crédito: Luiz Granzotto/Prefeitura de Campinas (arquivo)

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