Aniversário de Campinas

Maestro Carlos Prazeres estreia à frente da Sinfônica de Campinas no concerto de aniversário da cidade. Veja entrevista

11 de julho de 2022

Pronto para estrear como regente da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas (OSMC) no concerto do aniversário de 248 anos da cidade, o maestro Carlos Prazeres conversou com a equipe do Campinas.com.br sobre os caminhos que pretende trilhar neste novo desafio.

Carioca, Prazeres está há 10 anos em Salvador, onde também é o titular da Sinfônica da Bahia (OSBA) desde 2011, e diz que irá morar em Campinas.

Escolhido pelo prefeito Dário Saadi e pela secretária municipal de Cultura e Turismo, Alexandra Caprioli, após o envio de uma lista com quatro candidatos pela Associação dos Músicos da Orquestra Sinfônica, Prazeres já teve a experiência de reger a Sinfônica de Campinas duas vezes como convidado, 2009 e 2014, e agora assume a orquestra campineira, além de seguir com os trabalhos na Bahia.

O nome de Prazeres foi anunciado no mês de maio, e a estreia será no concerto especial na Concha Acústica do Taquaral no próximo domingo, dia 17 de julho, às 18h, que ainda terá a participação da cantora Fafá de Belém.

Com um perfil eclético, que pretende manter na OSMC, o simpático maestro conta que já passou alguns carnavais em Campinas no passado, e que já está vivenciando a cidade. “A gente vai ter uma fase muito bonita pela frente”, comenta.

Confira o bate-papo:

Campinas.com.br: Qual a ‘cara’ que o Sr. pretende dar à Orquestra Sinfônica de Campinas?

Carlos Prazeres: Eu penso que as pessoas têm uma ideia muito preconceituosa da música sinfônica, uma ideia pré-concebida de que a música clássica só serve para relaxar, que ela só serve para atender a uma faixa etária mais elevada, só serve para chegar em pessoas que tem uma bagagem intelectual e, ao mesmo tempo, também uma condição financeira que permita que a pessoa frequente. A cara que eu quero dar à Orquestra Sinfônica de Campinas é a cara que eu quero dar à música clássica, uma cara acessível a todos, e ela primeiramente vai começar a ir um pouco de encontro a esses clichês, com repertórios que possam ser mais joviais. Então, essa cara jovial é a que eu quero dar, inicialmente, à Sinfônica de Campinas, para que as pessoas se desprendam desses preconceitos. Nesse momento, é importante que a gente vá de encontro a esses estereótipos e, então, eu acho que a gente vai buscar um lugar de conquistar um público novo, um lugar de tirar uma ‘carranca’ que tem na orquestra sinfônica de maneira geral, no mundo inteiro, e que está, muitas vezes afugentando, sobretudo, o público do século 21.

Foto – crédito: divulgação/Prefeitura de Campinas

Campinas.com.br: Esta é a nossa próxima pergunta, já que o Sr. tem esse perfil de mesclar vários gêneros musicais,  certo? E essa também é uma particularidade da Sinfônica de Campinas. Haverá uma continuidade desta característica? A própria OSBA é a única orquestra no Brasil com um fã-clube e já tocou músicas de cantores como Anitta, Pabllo Vittar e Beyoncé. Pretende trazer esse ecletismo também para a OSMC?

Carlos Prazeres: Pois é, na verdade, eu gosto desse ecletismo, mas eu gosto de frisar também que ele faz parte de uma minoria da programação, já que nós temos muitas atividades de música popular e a orquestra é única, o único organismo, o único ente voltado para música sinfônica. Mas, muito embora seja uma minoria, 5%, 7% da programação, acho que é muito importante que esse diálogo seja feito, e mantendo, claro, as características de cada cidade. A Bahia tem um movimento muito forte de música popular, mas é muito diferente daqui. Eu já tô sabendo, pesquisando e vivenciando Campinas, já começo, provavelmente, a morar no meu apartamento de Campinas no dia 1º de agosto, e eu quero vivenciar essa cidade, não quero morar num hotel, entrar nessa cidade com um turista que de vez em quando pousa aqui. Eu já percebi que o hip hop é uma coisa muito interessante, então, o movimento da Sinfônica de Campinas com hip hop, com certeza, vai ser uma história muito bem-vinda, e a gente vai precisar estudar isso, da maneira como isso vai se dar direitinho. Então, claro, esse ecletismo vai continuar, eu acho que a orquestra tem que sempre estar aberta para dialogar com aquilo que o Brasil tem de melhor, que é a música popular. Para mim, a música brasileira é a melhor música do mundo, eu acho que nem a americana está na nossa frente, então, seria um desperdício que uma orquestra não pudesse trocar com a música popular.

Campinas.com.br: o Sr. falou sobre vivenciar Campinas, pretende levar os concertos para diferentes regiões da cidade?

Carlos Prazeres: É isso, eu acho que a orquestra tem que ‘desencastelar’. É claro que o teatro Castro Mendes será a nossa sede, a maneira que a gente vai fazer, da melhor forma, o nosso trabalho, mas buscar outras regiões da cidade e outros públicos é muito importante. Eu pretendo morar em Campinas porque eu só acredito assim, em um maestro que vivencia a cidade na qual ele vai estar. Eu só me refiro a Campinas mesmo, não tô me referindo a São Paulo, claro, a proximidade de São Paulo é tentadora, ir, assistir alguma coisa em São Paulo, ir a um restaurante em São Paulo, e eu vou fazer isso, não é um problema. Mas eu quero vivenciar Campinas, eu quero estar aqui, como, por exemplo, estou. Esse fim de semana agora (o que passou), poderia estar na Bahia, mas eu optei por vir, e eu já aproveitei para vivenciar Campinas, é o meu objetivo, se tiver alguma dica também, eu vou adorar (risos)!

Campinas.com.br: E o Sr. já conhecia Campinas, já havia se apresentado por aqui e na região?

Carlos Prazeres: Quando eu tinha mais ou menos por volta de 17, 18 anos, eu frequentava as oficinas de verão de Curitiba, que são bem tradicionais para a música clássica e também para música popular. Nessas oficinas de verão, a gente se reunia, eu conheci vários amigos, conheci minha primeira namorada. Enfim, tudo acontecia por ali. A gente se conhecia em fevereiro voltava para suas respectivas cidades, e no Rio de Janeiro não tinha Carnaval naquela época, só o do Sambódromo, não tinha Carnaval de rua, então, eu tinha um amigo que morava aqui em Campinas e o pessoal do Brasil todo, umas 10, 15 pessoas, ia para casa desse amigo, e a gente ficava vendo filme e fazendo nosso Carnaval aqui em Campinas, era na Rua Culto à Ciência. Então, eu passei vários carnavais em Campinas, jogando sinuca no Giovanetti. É inacreditável, né? (risos). Mas Campinas fez parte de vários carnavais surreais da minha vida, porque não tinha nada, todo mundo ia embora da cidade, o Carnaval mais desanimado que já vi na minha vida, mas a gente adorava vir pra cá, coisa de músico clássico (risos). E aí nasceu essa história de carinho que eu tenho com a cidade desde aquela época. Conheci muita gente legal aqui, muita gente que, daquela época, que fazia parte dessa casa, desse núcleo, hoje está na Sinfônica de Campinas, inacreditavelmente. Então, eu tenho uma história de carinho muito grande já pela cidade desde aquela época. E já me apresentei com a Sinfônica de Campinas duas vezes, acho que 2009 e 2014, se não me engano. Então, eu já tenho uma tradição também de me apresentar na cidade.

Foto – crédito: divulgação/Prefeitura de Campinas

Campinas.com.br: E o Sr. pretende trazer um pouco do trabalho realizado na Sinfônica da Bahia para a Sinfônica de Campinas?

Carlos Prazeres: Essa pergunta interessante porque, na verdade, pretendo, pretendo sim, sobre o seguinte prisma: eu acredito que uma orquestra precisa ter uma conexão muito forte com a sociedade a qual ela pertence, em todas as vertentes dessa sociedade. Então, nesse ponto, sim, vai ser uma forma muito parecida a de administrar a Sinfônica da Bahia. Por outro lado, eu preciso respeitar as idiossincrasias de cada cidade, eu tenho certeza que tem coisas que eu faço na Bahia que não dariam certo aqui em Campinas, e vice-versa. Então, eu preciso agora estar em Campinas, aproveitar Campinas. Esse semestre vai ser de reconhecimento, eu vou entender Campinas, eu preciso estar nos lugares legais da cidade, eu preciso conhecer os segredos da cidade, para que eu possa, dessa forma, começar 2023 conectando essa orquestra ao viés mais íntimo, mais recôndito dessa cidade, isso é muito importante. E aí sim a gente vai poder ter a Sinfônica de Campinas no seu lugar, no seu oceano azul, ou seja, na sua forma de ser única, de ser a Sinfônica do estado de São Paulo, estando na Bahia, em Minas Gerais, as pessoas vão olhar e vão entendê-la como Sinfônica de Campinas, e a figura-chave de Carlos Gomes já é um excelente farol, um excelente guia nesse processo.

Campinas.com.br: E, ainda no assunto, como pretende conciliar o trabalho entre as duas orquestras?

Carlos Prazeres: Essa pergunta é muito simples de responder. Na verdade, um maestro de uma orquestra sinfônica não deve, e normalmente não pode, reger os concertos durante o mês todo, ele é um intérprete, então, se ele fizer, por exemplo, dois concertos no mês de quatro semanas, já é um número grande. Então, dessa forma, enquanto eu não estiver regendo, enquanto mais maestros convidados estão regendo, apesar de continuar fazendo reuniões on-line, apesar de estar administrando, verificando todas as partes da orquestra, todas as programações futuras, convidando os novos solistas, fazendo parte das bancas de músicos que estão entrando, enquanto não estiver regendo aqui, eu estou regendo na Bahia, e as reuniões eu vou fazendo das duas, isso não vai ser um problema.

Campinas.com.br: Por fim, como estão os preparativos para a estreia? Já pode adiantar um pouco sobre como será a apresentação?

Carlos Prazeres: Nós vamos começar os ensaios na terça-feira (12), mas também estamos fazendo reuniões para elaborar a temporada do semestre e a temporada do ano que vem. Está todo mundo muito empolgado, muito confiante, que a gente vai ter uma fase muito bonita pela frente. Vai ter uma peça no programa (no concerto de aniversário), que chama “Moldávia”, do Rio Moldávia, de Smetana. Na verdade, ela mostra musicalmente a nascente de um rio, e eu acho que o que a gente vai ter é exatamente isso, a nascente de um rio, e eu espero que esse rio flua para o mar, da melhor maneira possível.

Foto no alto: crédito Carlos Bassan/Prefeitura de Campinas

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