Em sua 7ª edição em Campinas, o Festival de Música Contemporânea Brasileira está de volta após um hiato de dois anos em virtude da pandemia da Covid-19. O evento, que este ano homenageia os renomados músicos Liduino Pitombeira e João Donato e traz uma extensa programação gratuita de concertos, além de um congresso (veja abaixo), entre os dias 22 e 26 de março, assume o papel não só de valorizar produções e artistas nacionais, como também proporciona o contato do público com as obras.
“Acho que o festival é uma importantíssima iniciativa para que o público tome contato com a produção musical contemporânea brasileira. É uma atividade gratuita e aberta, muito importante até pra gente, compositor, já que é uma oportunidade de mostrar o nosso trabalho, não só do ponto de vista artístico, mas com as mesas e seminários, onde podemos falar sobre o processo composicional, dialogar com os músicos e com o pessoal que está lá presente”, afirma o compositor Liduino Pitombeira.
Liduino Pitombeira. Crédito: divulgação
Natural de Russas, no Ceará, professor da UFRJ e pesquisador, Liduino é um dos principais nomes da composição nacional. Em 2019, o artista foi homenageado pela Academia Brasileira de Música com a Medalha Villa Lobos, na categoria compositor, devido ao seu legado na música brasileira. Suas referências vão de Hermeto Pascoal e Egberto Giasmonti a Stravinsky, Anton Welbern, Magnus Lindberg e Bela Bartók, além da própria produção nordestina, que possui alguns aspectos importantes para ele, como é o caso da escala, o material melódico e o próprio ritmo, que é muito ligado ao gênero musical. Tais referências estão presentes em obras famosas do autor, como é o caso de “Brazilian Landscapes”.
O músico lamenta a falta de fomento para uma educação musical que aproxime as pessoas de produções nacionais contemporâneas. “A principal dificuldade é a questão da educação musical, que precisa estar presente na escola para que os alunos tenham acesso a produção artística. Cinema, literatura, pintura, música de concerto, música de tradição oral e música popular. Para quem já tem uma base e tem recurso, consegue ter acesso a isso, mas é preciso que se fomente, você não vai gostar daquilo que não conhece”, argumenta o artista.
Em 2008, foi sancionada a Lei nº 11.769, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases Orçamentárias (LDB), estabelecendo a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas de educação básica. Apesar de ser considerada uma grande conquista, mais dez anos após a sua implementação, é possível observar que ela não é colocada em prática.
“A produção musical brasileira é riquíssima, em todos os campos, música em tradição oral, música popular, música de concerto, tem só que ser valorizada!”, reforça Pitombeira.
João Donato. Crédito: Cristina Granato/divulgação
Além do compositor, também está sendo homenageado nesta edição o músico João Donato.
Nascido em 1934, no Acre, João Donato é multi-instrumentista, arranjador, compositor e cantor. É um dos precursores da bossa-nova e também um dos principais nomes da música popular brasileira. Dono de um estilo cativante, que mescla uma grande variedade sonora, o músico viveu e atuou nos Estados Unidos onde gravou com grandes nomes do jazz, como Bud Shank, Herbie Mann e Chet Baker. No Brasil, atuou ao lado de artistas dos mais diversos estilos como João Gilberto, Tom Jobim, Gilberto Gil, Marcelo D2, Joyce Moreno e Tulipa Ruiz. Recentemente, lançou o disco “Síntese do Lance” (2021) em parceria com Jards Macalé. “João Donato não é pessoa que se apresente”, já diria Gilberto Gil.
Mais sobre o FMCB
Criado com o intuito de oferecer uma oportunidade para as pessoas terem a experiência de imersão no cenário de produções musicais nacionais, o Festival de Música Contemporânea Brasileira é uma das iniciativas que buscam promover este acesso citado por Liduino.
Ao longo das seis edições anteriores, todas realizadas em Campinas, nomes como Marisa Rezende, Egberto Gismonti, Hermeto Pascoal, Edino Krieger, Ricardo Tacuchian e o inspirador desta ideia, Edmundo Villani-Côrtes, foram homenageados no FMCB. Além disso, o Festival já apresentou um total de 47 comunicações orais, 12 mesas-redondas e 45 apresentações artísticas. Passaram pelos seus palcos mais de 800 músicos entre proponentes de apresentações artísticas e artistas convidados.
Thais Nicolau. Crédito: Pedro Soares Neto
A pianista e idealizadora do Festival, Thais Nicolau, conta que este ano há uma novidade. Pela primeira vez, o FMCB contará com uma abertura, realizada pela Orquestra Sinfônica da Unicamp, na qual será feita uma homenagem às edições anteriores com um retrospecto incluindo obras de Marisa Rezende, Ernani Aguiar, Guinga, Paulo Costa Lima, por exemplo. “Vai ser um evento muito interessante que vai trazer um panorama geral do que já aconteceu até agora nesses últimos seis anos”, conta Thais.
“E esse ano é muito especial pra gente, porque depois de dois anos sem poder realizar nenhum evento presencialmente, depois de ter cancelado o Festival uma semana antes do que estava previsto em 2020, estamos extremamente felizes em contar novamente com a parceria da CPFL Energia, patrocinador do projeto, e também com o Instituto CPFL, com Unicamp e secretaria de Cultura e Turismo, que nos permitem, mais uma vez, trazer o Festival para Campinas”, ressalta.
Além disso, o evento, que em todos os anos traz uma contrapartida social, em 2022 será no hospital da PUC-Campinas, levando uma apresentação musical às crianças, na intenção de auxiliar no tratamento e na recuperação dos pacientes que estão internados no hospital na ala pediátrica.
Confira a programação do 7º Festival de Música Contemporânea Brasileira:
Teatro Castro Mendes
Ingressos: gratuitos. Distribuição 2h antes das apresentações por meio do Sympla na página do teatro. Acesse o link
22/03
20h – Abertura FMCB com Orquestra Sinfônica da Unicamp
Regente: Cinthia Alireti
23/03
20h – Bate-papo com homenageados e concerto com Unicamp Cello Ensemble
24/03
20h – Concerto comentado com João Donato e Convidados
25/03
20h – Concerto comentado Liduino Pitombeira e Convidados
26/03
20h – Encerramento da FMCB com concerto Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas
Solistas: Lei Weng (piano) e Felicia Coelho (flauta)
Participação especial: Instituto Anelo, João Donato e Grupo
Congresso FMCB – Instituto de Artes da Unicamp
Data: 24 e 25 de março
Horário: a partir das 10h
Inscrições: gratuitas, no hall de entrada no Instituto das Artes
Festival de Música Contemporânea Brasileira – FMCB 7
Mais informações: www.fmcb.com.br ou Instagram @fmcbsp
Foto no alto: João Donato – crédito Clever Barbosa/B2C Filmes / Liduino Pitombeira – crédito divulgação
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