Músicos de Campinas têm shows cancelados em bares em virtude de regra do Comida di Buteco

Os bares e os artistas estão entre os mais prejudicados pela paralisação das atividades durante a pandemia. Com a liberação dos bares, a tradicional música ao vivo também volta à cena nos estabelecimentos com essa característica, mas uma regra do concurso Comida di Buteco, que também voltou a ser realizado neste mês de agosto após quatro adiamentos, fez com que algumas agendas de shows fossem canceladas em Campinas.

O concurso, criado em 2000 em Belo Horizonte, sempre teve uma regra de não ter música ao vivo nos bares participantes, mas em Campinas era permitido até 2020, desde que os proprietários não cobrassem pelo couvert artístico. Em 2021, a atração musical está proibida no período, ou seja, de 29 de julho a 22 de agosto. Segundo a coordenadora do concurso em São Paulo e interior, Marina Chimenti, o principal motivo é que o objetivo do Comida di Buteco é valorizar o trabalho de cada bar e sua equipe. “O espaço é estimulado a apresentar seu petisco, sua história, seu trabalho, tantas vezes não reconhecido. É inviável ele fazer este trabalho de mesa em mesa, cliente a cliente com uma atração musical acontecendo. No mês do concurso, a estrela e a atração é o ‘buteco’ e sua equipe”, explicou.

Ainda segundo a coordenadora, quando o bar é convidado a participar, um ano antes do concurso, a grande maioria não tem música ao vivo, e é informado aos proprietários que durante o concurso não é permitido música ao vivo (apenas durante o período do concurso), e que a opção é do  estabelecimento.

São 33 participantes em Campinas este ano (sendo dois em Jaguariúna).

Diante do cenário, o músico Fabinho Azevedo, um dos principais artistas da noite campineira, fez uma postagem em seu perfil no Instagram questionando a regra do Comida di Buteco. Ele diz que sempre respeitou o concurso pela mobilização e incentivo cultural, mas que a classe artística, sem poder trabalhar há mais de um ano, está sendo prejudicada. “Acho no mínimo uma falta de sensibilidade e respeito com os artistas que mal voltaram a trabalhar, serem afetados por um evento desse porte”, comentou em sua rede social.

Azevedo disse que perdeu cinco datas de apresentações em bares devido à regra do concurso.

A cantora Bruna Volpi, outra artista de destaque na cena musical campineira, também se manifestou em suas redes sociais fazendo um apelo em nome dos músicos que estão tendo suas agendas de apresentações canceladas.

Segundo um representante de bar participante do Comida di Buteco que não quis se identificar e que oferece música ao vivo regularmente, há várias questões envolvidas. Uma delas é que os ‘botequeiros’ gostam de fazer um roteiro para provar os petiscos dos bares participantes do Comida di Buteco, passando em mais de um estabelecimento no mesmo dia, e o couvert pode gerar um custo maior, o que poderia afastar os clientes.

Ele disse também que entende que há regras e que os bares ainda enfrentam um período muito difícil, de recuperação, e que precisa participar neste momento do concurso, mas que há clientes da casa que perguntam pela música.

Mas ele também dá uma ideia: como o concurso tem patrocinadores, uma possibilidade seria destinar um fundo para as atrações musicais no período, embora a questão do protagonismos do bar seja destacada pela organização como o motivo principal da diretriz.

Ainda de acordo com a coordenadora do Comida di Buteco no interior, a regra vai se manter porque os objetivos do concurso continuam os mesmos.

Enfim, uma discussão que pode gerar novas perspectivas futuras diante dos impactos da pandemia para todos os setores.

Foto: Jefferson Campos/Unsplash (banco de imagens)