A 10ª edição da Bienal Sesc de Dança e 2ª em Campinas vai se espalhar pela cidade entre os dias 14 e 24 de setembro, trazendo um panorama da diversa produção nacional e internacional da dança contemporânea.
Ao todo serão 67 atividades entre espetáculos (36), performances, intervenções, instalações, ações formativas, oficinas, residências, exibições de filmes e lançamentos de livros, distribuídas entre espaços do Sesc Campinas, da Unicamp e administrados pela Prefeitura, como teatro Castro Mendes, Estação Cultura e Museu da Imagem e do Som, além de áreas públicas como ruas, praças e até a rodoviária. A programação reúne seis atrações internacionais (Uruguai, Argentina, Burkina Faso, Itália, Bélgica e Japão) e 61 nacionais representados pelos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Bahia e Piauí. Dessas, oito estreias nacionais (espetáculos nunca apresentados no Brasil) e três estreias inéditas no mundo todo.
Veja a programação completa do evento.
A maratona de dança tem início com o espetáculo “Do Desejo de Horizontes” (“Du désir d’horizons” – foto à esq.), do país africano de Burkina Faso, dia 14 de setembro, às 20h no Sesc Campinas. Dirigido pelo coreógrafo Salia Sanou, que vive entre a França e a África e inspirado nos ateliês de dança conduzidos em campos de refugiados africanos, a coreografia é um convite à reflexão sobre a condição do exílio interior que cada um carrega dentro de si. Os ingressos já estão esgotados para a abertura.
“A Bienal Sesc de Dança tem como proposição expandir as relações com a dança contemporânea e as reflexões que ela pode suscitar”, afirma Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc em São Paulo. No lançamento do evento em Campinas, realizado no final de agosto, o diretor disse que parece fora de contexto diante de um momento com grandes questões sendo discutidas, mas que a Bienal de Dança representa uma “luta permanente”, um chamado para um desejo de transformação, um papel fundamental que a arte aponta neste momento, com proposta para refletir e colaborar para que a realidade seja transformada em algo melhor.
Berço da mais tradicional graduação em Dança do Estado de São Paulo, na Unicamp, Campinas se estabeleceu como sede da Bienal em 2015, após oito edições na cidade de Santos (de 1998 a 2013), recebendo mais de 60 mil visitas de pessoas interessadas pela programação.
A curadoria do festival, formada por Claudia Garcia, Wagner Schwartz, Fabricio Floro e Claudia Müller, selecionou os artistas/obras, entre 799 inscritos de 32 países, com a proposta de apresentar a multiplicidade do universo da dança e seus hibridismos com outras expressões artísticas, fomentando a produção e ajudando no desenvolvimento de novas criações, enquanto estreita o relacionamento com o público e amplia seu acesso. De acordo com os curadores, na seleção dos trabalhos, houve um compromisso com o momento atual vivido no Brasil e no mundo.
Mais sobre os esptáculos
Além do espetáculo de abertura de Burkina Faso, estreia também no Brasil “Folks – Você Ainda me Amará Amanhã?” (“Will you steal love me tomorrow?”), do italiano Alessandro Sciarroni, que revisita a dança folclórica tirolesa Schuhplattler (literalmente “bater o sapato”), presente na fronteira da Itália com a Áustria, para refletir sobre o tempo e o legado da cultura, e “Big Bang”, concerto de dança contemporânea uruguaio dirigido por Andréa Arobba que conta com trilha sonora executada ao vivo e aparatos tecnológicos que exploram como temas a física e a cosmologia.
Entre as apresentações nacionais, os destaques ficam por conta das estreias de “Dança Doente”, de Marcelo Evelin, que apresenta a impactante mistura da dança Butô com os movimentos do candomblé, e “Título em Suspensão”, o novo solo de Eduardo Fukushima, que dá continuidade à sua pesquisa sobre a sutileza e precisão do movimento. Quase sempre sentado no chão sob um facho de luz, o artista encena uma coreografia minimalista, minuciosa e precisa, enquanto maneja pedras, paus e chocalhos ao som de ruídos de avalanches e assovios.
A Bienal Sesc de Dança ao mesmo tempo em que sugere um resgate à memória do corpo e da dança, apresenta a potência de um presente urgente que dialoga com novas militâncias sociais, políticas, de gênero e estéticas, configurando um novo campo de linguagem que aponta para o futuro, com esperança e também preocupação com o que virá.
Prova disso é “Para que o céu não caia” (foto à dir.), espetáculo da companhia carioca dirigida por Lia Rodrigues, coreógrafa presente desde o primeiro evento e que, nessa edição, traz à tona o mito do fim do mundo, relatado pelo xamã yanomami Davi Kopenawa. “Como imaginar formas de continuar e agir? O que cada um de nós pode fazer para, a seu modo, segurar o céu? Dançar para segurar o céu é o que podemos fazer!”, afirma a artista.
Outro exemplo é “Protocolo Elefante”, resultado de uma longa pesquisa sobre o tema da continuidade e um exercício de sobrevivência e de busca de sentido para estar junto e continuar atuando coletivamente, e que comemora os 20 anos de atividade do grupo catarinense Cena 11. Colocando em cena a sensação de isolamento, o grupo questiona noções de pertencimento e identidade.
Já “Fio do Meio”, montagem em construção do carioca Paulo Emilio Azevedo e sua Cia Gente com coprodução do Sesc SP, usa a rua como palco e percurso de experimentação, lidando com o elemento do “inusitado”. O trabalho representa, também, uma aposta da Bienal em assumir, junto aos artistas, os riscos de uma estreia em via pública.
A programação contempla também o público infantil, com as apresentações da performance “Máquina de Desenhar”, de Michel Groisman e “Alex no País do Lixão” (“Alex aux pays des poubelles”), da brasileira radicada na Bélgica Maria Clara Villa Lobos.
Artistas da dança de Campinas
Como a experiência coreográfica pode tratar da memória da dança? Os diretores Neto Machado e Jorge Alencar evocam essa questão ao articular movimento, palavra e legado em “Biblioteca de Dança”, que estreia na Bienal. Na instalação / ação, os artistas ocupam uma biblioteca como espaço cênico e transformam seus corpos em livros. Como volumes em estantes, artistas ligados à dança ficam disponíveis e recebem o público em uma mesa com poucas cadeiras para compartilhar “capítulos” de obras que marcaram suas vidas por meio de “contações coreográficas” de até 15 minutos.
Nessa primeira ativação, a “Biblioteca de Dança” contará apenas com artistas de dança de Campinas, com uma cena bem variada. O trabalho permite que dois interesses de experimentação caminhem juntos: o de pesquisar novos modos de entender as produções e suas possibilidades e o de documentar de forma ativa e criativa a história da dança.
Cinema e residências
O festival também se propõe a contribuir com o compartilhamento de experiências, técnicas e culturas entre artistas. Dirigidas a estudantes e profissionais do corpo em geral, ações formativas entram na programação com diversos campos de interesse e pesquisa, a partir de um número limitado de inscrições prévias de acordo com cada atividade.
Destaque para as exibições dos documentários “Paris Is Burning” (EUA, 1990, vencedor de “Melhor Documentário” dos festivais de Berlim e Sundance em 1991) e “Strike a pose” (EUA, 2017). Após os filmes, o dançarino e coreógrafo norte-americano José Gutierrez, retratado em ambos, participa de um bate-papo sobre a dança voguing, as contradições entre o glamour e diversão dos bailes versus a realidade de preconceitos e marginalização a que muitos dos entrevistados eram expostos fora deles, a importância dos dançarinos no empoderamento de outras pessoas, questões como estigma, apropriação cultural, mercado e identidade. Gutierrez também ministra uma oficina no Ginásio da Unicamp.
O público da Bienal Sesc de Dança também poderá fazer parte de dois espetáculos com a abertura de vagas para as residências de criação, onde será convidado a participar de processos formativos a fim de atuar como intérprete das apresentações durante o festival.
Luiz de Abreu, diretor do espetáculo “O Lago das Bicicletas”, conduz uma residência para pessoas da comunidade e artistas ampliarem sua prática de bicicleta BMX dentro de um universo artístico. Os participantes colocarão em prática seus aprendizados compondo o corpo de baile da performance, que une dança contemporânea, bicicletas BMX e o balé “O Lago dos Cisnes”.
As artistas Izabelle Frota, Cleyde Silva e Yang Dallas, do piauiense Núcleo do Dirceu, também selecionarão participantes para o “Rasha Show” (foto à dir.), que provoca os presentes a entrarem nas batalhas de break dance. A convocatória está aberta para b.boys, b.girls, dançarinos de wacking, passinho e outros artistas interessados em questões de gênero.
Completam a programação workshops, laboratórios de criação, mesas de debates, instalações, residências e lançamentos de livros alusivos ao tema.
Bienal Sesc de Dança 2017
Data: de 14 a 24 de setembro
Mais informações e venda de ingressos: sescsp.org.br/bienaldedanca
Fotos: Laurent Phillipe, Sammi Landweer e Mauricio Pkemon (divulgação)
Fonte: assessoria de imprensa
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