O documentário “Até Onde a Vista Alcança”, uma produção do Laboratório Cisco, de Campinas, fará sua estreia no 53º Festival de Cinema de Gramado, um dos mais importantes eventos do gênero no Brasil e na América Latina. Dirigido pelo documentarista Hidalgo Romero e pela antropóloga Alice Villela, o filme conta com a notável participação da liderança indígena Pawanã Kariri-Xocó e provoca o debate sobre a disputa pela terra sob a perspectiva do povo Kariri-Xocó.
A narrativa acompanha a comovente jornada de três gerações dessa etnia nordestina em uma expedição para reconhecer seu território memorial, ancestralmente subtraído durante os séculos de colonização. Os cantos Kariri-Xocó permeiam o cotidiano da aldeia, sendo parte essencial dos rituais, do trabalho e da vida familiar, o que confere ao filme uma intrínseca e envolvente musicalidade.
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A estreia em Gramado não apenas projeta o cinema do interior de São Paulo e de Campinas para um público mais amplo, mas, acima de tudo, concede visibilidade às comunidades indígenas nordestinas, que frequentemente permanecem invisíveis na mídia. O projeto foi contemplado pelo Programa de Ação Cultural (ProAC) do Estado de São Paulo, pela Lei Paulo Gustavo Municipal de Campinas e recebeu apoio da Wenner-Gren Foundation. Além disso, participou de importantes laboratórios de desenvolvimento de documentários, como BrLab, Brasil CineMundi, Programa Ibermedia e Taturana Lab + Impacta Cine, atestando sua relevância e qualidade.
Após a estreia em Gramado, os diretores Hidalgo Romero e Alice Villela planejam uma campanha de distribuição de impacto social, visando fortalecer a visibilidade das comunidades indígenas nordestinas e ressaltar sua importância na sustentabilidade ambiental da Caatinga, o único bioma integralmente brasileiro. A equipe pretende potencializar ações já em andamento no território, buscando benefícios sociais concretos para a comunidade Kariri-Xocó.
Entre as iniciativas futuras, estão previstas sessões do filme nas próprias aldeias do Nordeste no segundo semestre de 2025. O projeto também buscará fomentar o debate sobre a restauração ambiental do território demarcado, especialmente diante da ameaça da tese do Marco Temporal. Adicionalmente, a campanha do filme apoiará o fortalecimento da Escola de língua Swbatkerá, criada em 2018 na aldeia Kariri-Xocó, visando revigorar a língua Dzubukuá, considerada extinta até pouco tempo.
Três gerações de indígenas Kariri-Xocó unem-se em uma expedição para reconhecer o território memorial de seu povo, subtraído ao longo de séculos de colonização. Sua língua, saberes e até rituais sagrados foram ocultados como estratégia de sobrevivência. Agora, munidos de câmeras, drones, cachimbos, cocares e maracas, eles percorrem os marcos geográficos de seu território em um ‘road movie’ que serve como preparação para novas retomadas, um verdadeiro testemunho de resiliência e ancestralidade.
Hidalgo Romero é membro da produtora Laboratório Cisco desde 2006, onde atua como produtor, diretor e roteirista. Seus trabalhos abordam temas como meio ambiente, direitos humanos, música tradicional e movimentos sociais, destacando-se por sua sensibilidade. Alice Villela é antropóloga visual com doutorado em Antropologia Social e mestrado em Artes, sendo diretora e pesquisadora de filmes realizados em colaboração com povos indígenas.
A dupla já dirigiu “Acontecências” (2009), sobre os Asuriní do Xingu, que foi exibido em prestigiados festivais como o 22º IDFA e o “10º É Tudo Verdade”, recebendo menção honrosa na “37ª Jornada da Bahia’. Também realizaram o média-metragem “A Briga do Cachorro com a Onça” (2013) e os curtas “Toré” (2022) e “Na Volta do Mundo” (2022), consolidando uma trajetória de sucesso e reconhecimento.
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