Cinema

Fernanda Torres: totalmente histórica!

6 de janeiro de 2025

(*) Por Sara Silva

Assim como Fernanda Torres, também duvidava que ela pudesse vencer o Globo de Ouro 2025 de melhor atriz de drama. Depois da experiência que tive assistindo “A Substância”, tenho dito pelas mesas de bar entre amigos que, na minha opinião (um mero achismo de quem já adorou mais cinema e especialista de coisa nenhuma) seria muito difícil tirar alguma estatueta de Demi Moore, mas como a ‘rival’ disputava na categoria de melhor atriz de comédia ou musical (oi?? Mas melhor assim…), talvez houvesse chance, embora a lista de concorrentes fosse ‘estelar’ demais: Nicole Kidman, Angelina Jolie, Tilda Swinton, Pamela Anderson e Kate Winslet.

Falo sobre a nossa eterna Vani logo mais. Assim, entre as outras performances, só estreou por aqui até agora o belíssimo filme do diretor espanhol Pedro Almodóvar (seu primeiro falado em inglês), “O Quarto ao Lado”, em que Tilda Swinton brilha como a repórter de guerra que sofre com o tratamento de um câncer e pede ajuda para a amiga escritora Ingrid (Julianne Moore) ao decidir pelo seu próprio fim, tema este bastante atual e que deveria ser mais discutido, o que acabou acontecendo recentemente quando nos atravessou a notícia da decisão do poeta Antonio Cicero pela morte assistida na Suíça.

Enfim, achei que Swinton poderia levar. Seria MUITO merecido. Que atuação profunda de um personagem com tanta dignidade quanto Eunice Paiva. Aliás, a reação da atriz ao ouvir o nome de Fernanda Torres como vencedora foi a mais efusiva entre as concorrentes e, é claro, ganhou ‘meme’ com RG brasileiro.

Tilda Swinton me faz lembrar de um filme com ela que está entre os mais malucos e engraçados que já assisti, e que traz um elenco sensacional: “Queime Depois de Ler”,  dos irmãos Ethan e Joel Coen, com Brad Pitt, George Clooney, Frances McDormand, Richard Jenkins, J.K. Simmons e John Malkovich, seu marido na história, mas ela também é amante do personagem de Clooney. Uma sucessão de doideiras inacreditáveis com um humor peculiar dos Coen. Enfim, #ficaadica.

Entre as demais, fiquei curiosa mesmo para assistir “Lee”, em que Kate Winslet interpreta a fotógrafa da Segunda Guerra Mundial Lee Miller (aliás, curioso, Tilda também é repórter de guerra no filme do Almodóvar). Adoro Kate Winslet, acho que ela sempre merece. Atriz super premiada, com Oscar por “O Leitor” em 2009, ela também já levou quatro Globos de Ouro, e neste mesmo ano de 2009 teve a façanha de ganhar dois: como melhor atriz coadjuvante pelo mesmo filme, e melhor atriz em filme dramático por um outro incrível, em que repetiu a parceria com Leonardo DiCaprio: “Foi Apenas um Sonho”.

Mas o filme de que mais gosto mesmo com a Kate é “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças”, Oscar merecido de melhor roteiro original para o brilhante Charlie Kaufman, em 2005, em que ela também recebeu indicação como melhor atriz, assim como parceiro de cena, um surpreendente Jim Carrey em papel dramático. Para mim, é um dos melhores filmes sobre relacionamento amoroso. Ponto.

E ainda teremos várias idas ao cinema pela frente para conferir Nicole Kidman em “Babygirl” (dela minhas melhores lembranças são “De Olhos Bem Fechados”, do eterno Stanley Kubrick, e “Moulin Rouge”), Angelina Jolie com sua Maria Callas (da atriz acho impactante “Garota Interrompida”) e uma surpreendente Pamela Anderson em “The Last Showgirl” (confesso que não conheço o trabalho da atriz, nunca vi “Baywatch”). Tudo parece interessantíssimo, no mínimo.

E o que dizer de Nanda? (Não parece que todo mundo ficou amigo dela?)

Essa mulher ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes aos 20 anos por seu desempenho em “Eu Sei que Vou te Amar”, de Arnaldo Jabor, um dos meus filmes nacionais preferidos, ao lado, inclusive, de “Terra Estrangeira”, sua primeira parceria com Walter Salles.

Até que vem Vani (na verdade, Vanilce…). Além de esta ser também uma abreviação do nome de minha mãe (Ivanir, no caso), esta criação da brilhante Fernanda Young ao lado de seu marido, Alexandre Machado, é uma força caótica da natureza. Tive a tristeza de acompanhar a série por pouco tempo, porque me mudei para outro país logo após a estreia, e quando voltei tinha sido lançado “Os Normais – O Filme”. Uma amiga já tinha me falado: “você tem que assistir”, e foi uma das primeiras coisas que fiz de volta a este ‘solo pátrio’ onde ela dançou “Eguinha pocotó”. Uma delícia de quarteto que ainda tinha Marisa Orth, Evandro Mesquita, além de Luiz Fernando Guimarães. Simplesmente demais!

E aí veio Fátima de “Tapas & Beijos”, uma dobradinha incrível com Andréa Beltrão, outra gigante da nossa arte. Como não adorar?

Assim, Fernanda Torres e sua mãe, Fernanda Montenegro, sempre povoaram nossas vidas com tantas personagens memoráveis que nos enchem de orgulho. E aí vem “Ainda Estou Aqui” (Selton Mello merece um capítulo a parte).

Vi em uma entrevista de Nanda dizendo que conhecemos muito o Marcelo Rubens Paiva, que ele é um escritor famoso no Brasil, e sabemos que o pai dele foi assassinado na ditadura militar, mas não sabíamos muito bem como aconteceu essa história. E para quem não leu o livro, descobre na tela o tamanho dessa violência brutal que assola uma família. E o gigantismo de uma mulher obrigada a fazer um luto sem um corpo, com sua dor contida diante de cinco filhos, que acaba lutando pelo reconhecimento do crime contra seu marido pela ditadura brasileira e celebrando um atestado de óbito 25 anos depois.

Não conheço ninguém que não chorou assistindo ao filme. Na minha sessão também houve aplausos, e eu estava tentando não sair com a cara tão inchada, sem sucesso.

Sendo assim, não deveria ter sido uma surpresa quando o anúncio foi feito. E o clima de final da Copa do Mundo veio com o troféu: é nosso! É merecido! É histórico! É muito emocionante!

Ainda estamos em êxtase! E que venha o Oscar!

(*) Sara Silva é jornalista editora do Campinas.com.br

Imagem – reprodução youtube goldenglobes.com

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