Faça as Malas

Serginho Escadinha vai, Tite vem

por Marcos Craveiro
Publicado em 5 de setembro de 2016

Sergio Dutra dos Santos tem 40 anos e é bicampeão Olímpico de vôlei, em Atenas (2004) e Rio (2016), e prata em Pequim (2008) e Londres (2012). Tá bom, mas tem mais duas Copas do Mundo em 2003 e 2007 e ainda, de quebra, levou o heptacampeonato em Ligas Mundiais entre 2001 e 2009. E não acabou por que ele não acaba. Tem mais dois Mundiais em 2002 e 2006.

E foi num domingo de sol e calor em céu aberto, num estádio de futebol para 40 mil torcedores e não numa quadra em ginásio fechado como de costume no vôlei, que ele se despediu.

Parou com a seleção, mas vai desfilar seu jogo de responsabilidade por mais uns dois anos em clube. Um moleque muito sério nas quadras com a responsabilidade de defender e orientar seu time de trás pra frente. Marcar os adversários e gritar o lance que vem. O cara é incansável, malandro e craque acima de tudo. Talento puro. Ninguém é insubstituível em nada, mas ele é como Pelé. Único. O vôlei não fica mais pobre sem Serginho, mas vai faltar sempre… ”ele”.

“Eu só agradeço ao voleibol, às pessoas que sempre torceram pelo Brasil. Foram muitos anos dedicados à seleção. Não quero ser agradecido, quero agradecer. Pelas pessoas que sempre se importaram com a gente. As pessoas sempre tem que acreditar nos seus sonhos. Eu me sinto igual a todas as pessoas que estão aqui assistindo. Não vamos deixar de lutar, vamos fazer do Brasil melhor, vamos correr atrás dos nossos sonhos.” (Sergio Dutra dos Santos).

Serginho parece que não acaba nunca.

Vamos pro Tite que senão eu choro de novo me lembrando da final contra a Itália. E confesso, chorei um pouco de ver a nova seleção. Como eu queria sentir isso de novo, me emocionar, torcer desesperadamente e correr na sala de casa como um moleque de 66 anos que eu sou. Apaixonado por um time que eu vi muitas vezes campeão e pelo qual, Deus me perdoe, não torcia mais. Algumas vezes, de tanta raiva, torcia para o adversário matar logo o jogo. Time ruim, técnicos ruins, ultrapassados e arrogantes. Jogadores negociados a cada convocação. Uma vergonha nacional em vez de orgulho de seu povo. A baixa estima do nosso torcedor tinha chegado até a imprensa. Mesmo querendo ser correto a gente escorregava.

O ouro Olímpico veio, e eu tenho certeza disso, pelas mãos de quem deveria estar no comando. O cara que montou o time com amor e competência. O treinador da base, o que conhecia os caras e que tinha o respeito deles. Rogério Micale.

Muito bem, agora temos o Tite, com anos de atraso. Mas temos. Passamos pelo Dunga, pelo Mano, Felipão.

E finalmente a diretoria da CBF, no bico do corvo, à beira de uma desonrosa desclassificação para uma Copa do Mundo, acordou. Ou se viu obrigada pela situação, não sei bem. Trouxeram Tite, sua comissão técnica, sua responsabilidade com o correto, com o futuro, com o ser humano e com o trabalho como ele tem que ser feito. Tite representa nova maneira de se relacionar. Com os jogadores sabendo que são estrelas e grandes nomes do esporte. Cuida dessa relação com carinho e profissionalismo. Juntos. Não bate, ensina. Não passa a mão na cabeça, indica caminhos corretos dentro e fora de campo. Traz novas lideranças, desafoga quem tem que jogar de cabeça fria como Neymar. Consertou o erro de deixar a responsabilidade técnica e de ser o capitão do time sobre a cabeça de quem devermos deixar livre e leve para criar, ser feliz.

Nosso adversário próximo e os mais distantes vão sentir a mão desse cara que encanta o país e a imprensa com sua competência profissional e o respeito pelo relacionamento com todos. Tite merece esse momento por trazer já, a brisa de um tempo que estamos esperando há anos.

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