“Rush – No Limite da Emoção”: rivalidade e obsessão nas pistas da Fórmula 1

“Eu sou Niki Lauda, ele é James Hunt e, por uma rivalidade que ninguém sabe como chegou a esse ponto, estamos a ponto de guiar como idiotas”

Dois homens de personalidades opostas e ao mesmo tempo complementares, pilotos de corrida de Fórmula 1, rivais na pista, protagonizam um campeonato, com direito a acidentes e reviravoltas de último segundo, que só poderia sair da mente muito fértil de um roteirista. Sendo assim, o mais interessante é que o filme “Rush – No Limite da Emoção” (2013) não é nenhuma obra de ficção, mostra um campeonato quase mítico para os adoradores de F1, o Grande Prêmio do Japão de 1976 e seu inesperado final e a rivalidade entre os pilotos Nikki Lauda (ótima interpretação do ator Daniel Bruhl) e James Hunt (o Thor, Chris Hemsworth). Com uma história que facilmente pode ser pesquisada na internet, em uma corrida de automobilismo da qual já sabemos o desfecho, o filme é prodígio em nos proporcionar altas doses de tensão a cada freada, nos colocando, praticamente, dentro do cockpit desses carros velozes. 

Grande parte dos méritos do filme vai para o excelente roteiro do inglês Peter Morgan, que nos mostra dois personagens críveis, com qualidades e defeitos, que se completam mutuamente, pois falta a cada um deles o que o outro possui em excesso: carisma, agressividade e uma vida repleta de diversão em Hunt e pragmatismo, precisão e seriedade em Lauda.

Segunda colaboração entre Morgan e o diretor Ron Howard, a primeira foi com “Frost/Nixon (2008)”, talvez uma das melhores e mais sóbrias obras de Howard, que possui vários filmes inexpressivos na carreira (“Um sonho distante”, “O Jornal”, “Corretores do Amor”, “Willow” e “A luta pela esperança”, apenas para ficar em alguns exemplos), torna-se ele mesmo um filme atípico na filmografia deste cineasta: ágil e dinâmico nas sequências de corrida e com momentos de reflexão sobre a obsessão que leva esses dois homens a arriscarem a própria vida em busca da superaração de suas limitações.

O material humano de Morgan adicionado à técnica certeira de Howard cria um excelente painel sobre os bastidores da F1, em um momento ainda de romantismo desse esporte. Sem a infraestrutura e a segurança que existe hoje em dia nessas corridas, Howard recria o clima de quase selvageria da época, em um esporte no qual os acidentes eram constantes, morrendo, pelo menos, um a cada nova temporada. Howard capta esse fervoroso clima dos anos 70 através de uma fotografia granulada, cortes rápidos e ásperos, com ângulos de visão privilegiados da corrida, garantindo nosso envolvimento emocional com os personagens através de manobras arriscadas e imprudentes. Pouco retratada no cinema (talvez as duas exceções sejam “Grand Prix”, de 1954, e “Meu momento, minha vida”, de 1977), a Fórmula 1 consegue com “Rush” preencher, com muita qualidade, essa lacuna. Paralelamente nos mostra um “duelo” que irá se repetir alguns anos depois em outra rivalidade consumada nas pistas, muito mais midiática e conhecida de todos nós: Ayrton Senna e Alain Proust. 

“Rush” é um retrato desses homens obstinados, que não medem esforços para alcançar seus objetivos e mostra que, em qualquer grande rivalidade, também existe respeito e reconhecimento de que alguém também pode ser tão bom, ou até melhor, do que nós. Mais importante do que as barreiras técnicas de um grande campeonato de corrida, ultrapassar e vencer as barreiras físicas e emocionais que os amedrontam, acaba tornando-se a grande vitória desses homens, pois, quando a corrida acaba, ainda existe uma vida à espera.

Para quem curte o tema, existe um excelente documentário da BBC na internet que fala sobre os anos 60/70, conhecido como os anos sangrentos da Fórmula 1, sendo a morte de pilotos durante as corridas algo “comum”. Infelizmente não possui legendas em português (clique aqui para assistir).

Veja abaixo o trailer de “Rush – No Limite da Emoção” (veja onde o filme está passando em Campinas):