Cinema Literal

Rodrigo Santoro se emociona em homenagem

por João Nunes
Publicado em 3 de junho de 2018

Emocionado, por três vezes o ator Rodrigo Santoro teve de interromper o discurso de agradecimento durante a homenagem recebida neste sábado (2) do 22ª edição do Cine PE – Festival do Audiovisual, do Recife. A justificativa: dezessete anos atrás, na capital pernambucana, o ainda quase garoto foi premiado como melhor ator pelo filme “Bicho de Sete Cabeças” (Laís Bodanzky, 2001).

Ele conta que foi comemorar em um local com música ao vivo em homenagem a Chico Science (músico morto em 1997) e sentiu uma força inacreditável. Tantos anos depois, consagrado no Brasil e fora dele, recebeu o troféu das mãos de Cássia Kiss, a mãe do ator no filme – também premiada naquela ocasião.

No vídeo do Canal Brasil exibido no festival, Rodrigo fala algo essencial para entendê-lo: “viemos aqui para aprender”. Isto explica porque o ator é capaz de transmitir mensagem positiva (pediu para todos nos unirmos com responsabilidade pelo bem do Brasil), ser gentil com o garçom que lhe trouxe água durante a coletiva de imprensa, demonstrar generosidade em todas as respostas aos jornalistas e dizer frases como: “nada deve ser visto como negativo, depende de como encaramos aquilo que nos acontece”.

Bênção

Aos jornalistas, contou como algo ruim acabou sendo uma bênção. Quando fez “300” (Zack Snyder, 2006) contracenava com uma fita crepe (a marcação do seu companheiro (a) de cena) em uma sala vazia e tendo de carregar um figurino pesadíssimo que consumia seis horas para ser montado e duas para ser desfeito. Pois este trabalho o revelou para o mundo.

Ele diz que assiste a tudo, independentemente da procedência. Entre os brasileiros, cita “Boi Neon” (do pernambucano Gabriel Mascaro, 2015), filme que o impressionou e o levou a entrar em contato com o diretor sugerindo futura parceria. “Vejo e leio tudo o que posso porque tenho prazer, mantenho conversas com colegas atores, diretores e, quando me interesso por alguém, fico pensando em como abordá-lo, ou seja, eu vou atrás”.

Segundo ele, não há fórmula para escolher um projeto. Trata-se de uma combinação de vários fatores. Exemplifica com um dos trabalhos mais recentes, “O Tradutor” (ainda inédito), dirigido pelos irmãos cubanos Rodrigo e Sebastián Barriuso. Eles o procuram e Rodrigo quis saber a razão. A resposta: “É a história do nosso pai e nós queremos que você o represente”. O ator conclui dizendo ser impossível recusar um convite desses.

A escolha de um projeto depende 70% do instinto, afirma. O restante vem do tempo que se acumula de experiência, ou do elenco que compõe aquele trabalho. Em “Bicho de Sete Cabeças” dividiu a cena com Paulo Autran e Othon Bastos. “O que aprendi com eles vou levar para a vida toda”.

Brasil

Ao contrário do que se pensa, Rodrigo continua a morar no Brasil. “Leio tudo sobre o cinema brasileiro, falo com diretores e atores, vou a festivais manter contato com realizadores”. Tem dois projetos de produções nacionais, mas ele não divulga porque ainda não estão assinados.

Ele diz que nunca planejou trabalhar fora. Saiu para divulgar filmes como “Abril Despedaçado” (Walter Salles, 2001) e “Carandiru” (Hector Babenco, 2003) e as chances apareceram. “Não pus a mochila nas costas e fui para Hollywood com o projeto de trabalhar, foi uma consequência. Porém, nunca me desrespeitei, pois só realizei aquilo que eu quis”. Aceitou convites, fez pequenos papéis e tudo devagar, de acordo com a personalidade dele.

Rodrigo termina a entrevista falando da importância do trabalho em equipe. “Não é demagogia, todo mundo é importante, não existe um filme sem uma equipe, é um fato: um precisa do outro”. Ter produzido “Heleno” (José Henrique Fonseca, 2012) ajudou a entender isso, pois estava acostumado a chegar no set, a luz estava marcada, indicavam onde ele deveria ficar, fazia a cena e ia embora. Como produtor teve “muita dor de cabeça”, mas compreendeu a importância de cada elemento da equipe.

Fotos: Felipe Souto Maior (divulgação)

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