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Recital de cello e cravo encanta público no Sesc na comemoração dos 130 anos da Aliança Francesa

por Danilo Leite Fernandes
Publicado em 10 de agosto de 2015

O duo formado pelo violoncelista francês Romain Garioud e o cravista gaúcho Fernando Cordella fez um recital de música de câmara magnífico na noite da última quinta-feira, dia 6, para cerca de 150 pessoas que lotaram o Teatro do Sesc Campinas.

A apresentação fez parte das comemorações dos 130 anos da Aliança Francesa no Brasil e foi realizado por meio de uma parceria com o Sesc, com entrada gratuita.

Autores de obras brilhantes tanto no plano harmônico quanto na utilização dos dois instrumentos, os dois músicos talentosos exploraram a liberdade e a fantasia, oferecendo um repertório composto por de obras do alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750), do segundo filho de Johann, Carl Phillip Emanuel Bach (1714-1788), do italiano Luigi Boccherini (1743-1805) e do compositor francês contemporâneo Fabrice Gregorutti.

Romain Garioud, 41 anos, pertence à jovem e brilhante geração francesa de violoncelistas. Recebeu muitos prêmios internacionais, entre eles estão o 12º Concurso Internacional Tchaikovsky (Moscou), 7º Concurso Internacional Rostropovitch e o Concurso Internacional de Vina del Mar (Chile). Foi premiado como violoncelista por unanimidade no Conservatório Nacional Superior de Música de Paris.

O cravista Fernando Cordella, diplomado em 2005 pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, é diretor artístico da Confraria Música Antiga StudioClio e da Sociedade Bach Porto Alegre, maestro e diretor artístico da OSINCA – Orquestra Sinfônica de Carazinho. Cordella foi considerado melhor intérprete de música clássica com o disco “Cravos – de Frescobaldi a Mozart”, no concurso “Açorianos 2011”, em Porto Alegre.

O duo começou tocando a complexa Sonata em Sol menor, BWV 1020 (originalmente para violino), de Johann Sebastian Bach, com três movimentos (Allegro, Adagio e Allegro).

Nesta peça, já deu pra ver que Romain, conforme esperado pelo currículo apresentado, é realmente um cellista de altíssimo nível, um dos melhores que eu já ouvi tocar e, acredite, eu já ouvi caras muito bons.

A agradável surpresa foi o Fernando, que eu não conhecia e que se revelou um excelente instrumentista. Deu conta de tocar o Bach, sempre um imenso desafio para qualquer cravista, e tocou sempre em grande harmonia com Romain, outro desafio hercúleo por se tratar de um virtuose.

Em seguida, Fernando apresentou o duo, agradeceu a presença de todos, falou sobre a peça anterior, que é atribuída a Johann Sebastian Bach, mas que talvez tenha sido escrita por seu filho Carl Phillip Emanuel, e explicou que ela foi composta originalmente para cravo e violino. Mas também há uma versão para cravo e flauta.

Após as explicações, eles tocaram a belíssima Sonata em Lá Maior, Nº 6,, g.4, de Luigi Boccherini, também em três movimentos (Adagio, Allegro e Affetuoso).

Nesta peça escrita pelo compositor que revolucionou o violoncelo no final do século 18 (segundo comentou o primeiro violoncelista do Theatro Municipal de São Paulo, Raïff Dantas Barreto, que estava sentado ao meu lado), Romain mostrou toda sua técnica impecável, precisão, clareza e elegância no toque e na postura. Mão esquerda absolutamente perfeita, como se pôde constatar no velocíssimo e intenso Allegro. O Affetuoso é poesia pura, e Romain fez dinâmicas brilhantes nele.

Após um breve intervalo de três minutos, no qual os músicos saíram do palco pra um breve descanso, eles retornaram e Romain explicou em inglês (e Fernando traduziu) que iriam tocar a peça “In Memoriam” do compositor francês contemporâneo Fabrice Gregorutti, que está sendo estreada mundialmente nesta turnê brasileira do duo, que já passou por três cidades gaúchas nos últimos seis dias e vai ainda passar por São Paulo (dias 11) e Rio de Janeiro (dia 14).

Soubemos depois que a peça é “in memoriam” do grande compositor francês Olivier Messiaen (1908-1992), certamente uma influência/referência importante na vida de Gregorutti. E a obra lembra mesmo o estilo de Messiaen e da música erudita contemporânea.

Fernando agradeceu ao Sesc, à Aliança Francesa, ao professor de cravo da Unicamp, Edmundo Hora, pelo empréstimo do cravo e as aulas particulares (“o que vocês ouviram de bom aqui foi ele que me ensinou”) e ao público presente e Romain anunciou, novamente em inglês, só que dessa vez sem tradução de Fernando (que como tradutor se revelou um ótimo cravista) a peça de encerramento: Sonata em ré maior (originalmente para viola da gamba), Carl Philipp Emanuel Bach, em três movimentos (Adagio ma non tanto, Arioso e Allegro di molto).

O público aplaudiu com entusiasmo e de pé, os músicos sorridentes agradeceram e, depois de 1h10min de concerto, todos saíram dali felizes, muito melhores do que entraram.

Fotos: Danilo Leite Fernandes 

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