A ação da polícia que resultou na morte do publicitário Ricardo de Aquino no dia 18 de julho em São Paulo após uma atuação desastrada e infeliz, além de provocar comoção por ser mais uma vítima inocente de um gesto de violência gratuita também nos faz refletir sobre os dois lados envolvidos nessa tragédia: o cidadão e o policial.
Quando somos abordados em uma blitz sabemos que aquelas pessoas são policiais, mas eles não sabem quem somos nós. São pais e mães de família que trabalham sob constante tensão, com risco iminente de perder a vida diariamente em uma situação violenta e que nunca sabem com quem estão lidando, seja em uma barreira policial ou mesmo em uma abordagem na rua. Soma-se a isso os recentes assassinatos de policiais e os ataques a suas bases que contribuem para um medo maior de uma categoria já tão fragilizada.
Por outro lado a população também está cada vez mais tensa. Apesar da criminalidade ter seus índices reduzidos no Estado de São Paulo e a taxa de homicídios caído bastante nos últimos dez anos, as mudanças nos tipos de crimes como arrastões em bares, restaurantes, assaltos em condomínios de apartamentos e ataques a ônibus acabam aumentando a sensação de violência e a desconfiança. Situações como estas e a morte do publicitário provocam na sociedade um temor ainda maior dos bandidos e também da própria polícia. O inverso também ocorre, o receio do policial na próxima abordagem.
Como participo de muitos compromissos e estou sempre rodando tenho sido abordado em blitz policiais com muita frequência. Quando passo por esta situação, já tenho em mente e adoto um procedimento padrão: encosto o veículo em um local iluminado e com movimento, acendo a luz interna, abaixo o vidro, coloco as mãos ao volante e aguardo as orientações do policial. Agindo assim nunca tive problemas e pude prosseguir tranquilamente. Só para esclarecer, os deputados federais não possuem carros com placas oficiais, portanto são veículos iguais ao de qualquer outra pessoa.
Mas temos que compreender que cada um reage de um jeito diante de uma situação como esta. Por isso é tão importante que a Polícia Militar e a sociedade afinem a sua comunicação para que enganos dramáticos como o do publicitário Aquino não voltem a acontecer. Vimos sempre a PM fornecendo orientações sobre como as pessoas devem se portar na rua para não chamar atenção de bandidos, o que devem fazer quando viajam e deixam a casa sozinha por vários dias, etc.
Tudo isso é comunicação e seria muito bem-vindo que a polícia mostrasse de uma forma eficiente como são feitas estas abordagens, como o cidadão deve agir e, principalmente, que essas ações fazem parte de procedimentos de rotina necessários para manter a segurança. Por outro lado, também seria benéfico a população ter esse canal estreito com a polícia para se informar, tirar suas dúvidas e manter o diálogo com esta categoria tão importante no nosso dia a dia.
São formas de manter a reciprocidade para que a sociedade se sinta sempre amparada e a polícia, se for para ser ameaça, que seja só pelos bandidos e não por pessoas de bem que, em um momento de stress tenha atitudes inadvertidas e coloquem tudo a perder. Restabelecer a confiança é fundamental para que a polícia tenha foco apenas no combate ao crime e que nenhum cidadão idôneo se sinta mais ameaçado ao ver uma viatura policial.
Guilherme Campos
Deputado federal PSD-SP