Blog do Vinho

Os vinhos do Pacífico em noite especial no Bellini

por Suzamara Santos
Publicado em 10 de outubro de 2017

Na última sexta-feira tive o prazer de dividir a mesa com Maria Luz Marin (Marilu para os próximos), winemaker da vinícola chilena Casa Marin. Foi um proveitoso jantar harmonizado no Bellini Ristorante, evento que já considero um dos melhores momentos da enogastronomia em Campinas este ano. A cozinha do Bellini, comandada por Cristina Róseo continua impecável em precisão e criatividade. Foi em belo encontro de talentos.

Se você buscar o nome de Maria Luz Marin no Google vai encontrar muitas vezes a palavra “pioneira”. Dentro de um universo sofisticado como é o do vinho, esse adjetivo é bastante lisonjeiro. E merecido. Elegante, discreta e, talvez um pouco tímida (ou seria reservada?), Marilu é referência na enologia da América do Sul e um dos grandes destaques na produção de vinhos brancos neste continente ainda dominado pelos tintos.

E isso é só uma parte do pioneirismo dessa enóloga. Quando resolveu fundar a sua própria vinícola, em 2000, depois de várias passagens por outras casas chilenas, causou surpresa ao escolher Lo Abarca, uma das quatro sub-regiões de San Antonio, a quatro quilômetros do Oceano Pacífico e a 100 quilômetros de Santiago, um terroir até então considerado inadequado para o vinho.

Mas isso é para os que resumem o vinho chileno em Carménère e Cabernet Sauvignon. Seguindo sua intuição e conhecimento, apoiada pelo filho também enólogo, Felipe Marin,(no alto com ela) Marilu deu ênfase aos vinhos brancos e acertou em cheio. Seus Sauvignon Blanc são elegantes, dotados de delicioso frescor e mineralidade e premiados mundo afora. Porém, o catálogo da Casa Marin não descarta os tintos. Ao contrário, Pinot Noir, Carménère e Syrah são igualmente apreciados.

Durante o jantar, entre um prato e outro, Marilu contou parte de sua história e como conseguiu impor, num mercado tão competitivo, vinhos que hoje estão entre os mais citados em guias e publicações especializadas. O desafio maior foi interpretar o terroir. Os vinhedos estão distribuídos em 50 hectares de área, organizados em 52 parcelas, com cinco solos diferentes e quatro intensidades de insolação.

Para extrair o máximo desse conjunto de particularidades, cada parcela é vinificada à parte, o que preserva e amplia a personalidade das varietais. Soma-se a esse mosaico, as temperaturas muito frias da região, a proporcionar lenta maturação às uvas, efeito a ser traduzido mais tarde em vinhos complexos e de elevada acidez. Está explicada a longevidade dos vinhos –  brancos e tintos – da vinícola.

Se existe algum vinho da preferência de Marilu? Ela ama todos, certamente. Mas o Sauvignon Gris Estero Vineyard é o que provoca as conversas mais entusiasmadas. Afinal, trata-se de uma uva que quase ninguém conhece, pouco cultivada e que produz vinhos absolutamente encantadores. A Sauvignon Gris é uma mutação da Sauvignon Blanc, de cor rosada, casca grossa, encorpada e de extensa paleta aromática.

 Apesar de tantas qualidades, desde a praga da filoxera essa uva vem perdendo espaço por seu baixo rendimento. Hoje é uma raridade. Marilu se apaixonou pela Sauvignon Gris quando provou a casta na França e, mais uma vez pioneira, a trouxe para o Chile. A primeira colheita foi em 2003 e a partir daí o catálogo da Casa Marin ganhou um “tesouro”. O Gris acompanhou o primeiro prato do jantar, o Filet de Robalo Grelhado Servido com Vieiras em Redução de Champanhe e Tinta de Lulas. Foi a harmonização da noite, que teve só bons momentos. Para quem não conhece ainda a Casa Marin, seguem aqui os destaques do catálogo da vinícola, seguido do cardápio harmonizado de Cristina Róseo.

 CASA MARIN

  • Casa Marin Cartagena, linha mais popular da marca. Rótulos: Cartagena Sauvignon Blanc, Cartagena Riesling, Cartagena Gewurztraminer e Cartagena Pinot Noir
  • Casa Marin, linha Premium com alguns do melhores vinhos de clima frio do Chile. Rótulos: Sauvignon Blanc Cipreses Vineyard, Sauvignon Gris Estero Vineyard, Riesling Miramar Vineyard, Gewurztraminer Casona Vineyard, Pinot Noir Litoral Vineyard, Syrah Litoral Vineyard
  • Casa Marin Iconos, tintos com estágio em carvalho francês por 12 a 24 meses. Rótulos: Pinot Noir Lo Abarca Hills Vineyard e Syrah Miramar Vineyard
  • Viñedos Lo Abarca, linha mais jovem da casa, criada por Felipe Marin. Rótulos: Nº 1 Pinot Noir, Nº 2 Sauvignon Blanc, Nº 3 Garnacha Syrah

    Se interessou? Mais informações sobre os vinhos da Casa Marin podem ser obtidas na importadora Vinci, site www.vinci.com.br; email: [email protected]; fone: (19) 99920-3004

 JANTAR HARMONIZADO

AMUSE BOUCHE

Ceviche Salmão

Mini-empadinha com Bobo picante de Camarão

Harmonização: Lo Abarca Sauvignon Blanc 2016.

Impressões: comidinhas para abrir o apetite bastante refrescantes com delicada provocação ao paladar, especialmente pela presença sem exagero de ervas. O Sauvignon Blanc comportou-se com elegância, afinal acompanhar pratos aromáticos faz parte de sua história na gastronomia. Gingou bem até com o coentro. Delicioso começo.

ENTRADA

Polpetinha assada com queijo de cabra e abobrinha

Harmonização: Lo Abarca Carménère 2016

Impressões: elaborado com uvas do Vale do Colchagua, um vinho de personalidade marcante, com muita fruta madura, boa acidez e taninos bem trabalhados. O toque sedoso casou bem com a polpetinha assada, o que tornou o queijo de cabra um coadjuvante dispensável.

1º PRATO

Filet de Robalo Grelhado Servido com Vieiras em Redução de Champanhe e Tinta de Lulas

Harmonização: Casa Marin Estero Vineyard Sauvignon Gris

Impressões: a harmonização da noite. Um prato sofisticado e muito bem executado com um vinho original e provocante. A Sauvignon Gris é uma mutação mais complexa e encorpada da Sauvignon Blanc, que, a exemplo da Caménère, encontrou no Chile ambiente ideal para se desenvolver. Prato e vinho se entenderam bem, ambos exibindo originalidade e riqueza de sabores. 

2º PRATO

Ragu de Codorna Servido com Gnocchi de Mandioquinha ao Alfredo.

Harmonização: Casa Marin Litoral Vineyard Pinot Noir 2013

Impressões: mais um acerto da cozinha de Cristina Roseo. Um prato envolvente e aconchegante, com pegada untuosa, apresentado com o ótimo e delicado Casa Marin Litoral Vineyard Pinot Noir 2013. Outro bom momento da noite.

SOBREMESA

Queijos e Pannacotta de frutas vermelhas

Harmonização: Cartagena Gewurztraminer 2016

Impressões: sobremesa leve, pouco açucarada e bastante digestiva e um vinho branco de acidez elevada, elegância aromática e muito frescor. Quem esperava um Gewurztraminer carregado de cítricos e mel, certamente se surpreendeu com caráter discreto desse vinho. Na harmonização, a acidez das frutas vermelhas e do vinho se entenderam e proporcionaram um ótimo encerramento do jantar.

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