Alardeado como o oitavo filme de Quentin Tarantino, tendo o número oito também em seu título, Os 8 Odiados (2015), vem acompanhado da proposição de que Tarantino se aposente após seu décimo filme. Verdade ou apenas golpe de marketing, percebe-se que Tarantino deveria estar longe de pensar em uma “aposentadoria” e deveria estar mais preocupado com um cinema/estilo que começa a dar claros sinais de cansaço.
Os 8 Odiados parece uma cópia mal ajambrada de outros filmes do diretor, que chega ao cúmulo de copiar a si mesmo, autorreferênciando-se, em um cinema que parece olhar para o próprio umbigo sem conseguir ver algo ao redor. É nítido que Tarantino, imbuído dessa marca peculiar que tanto fama lhe tenha dado (diálogos longos, sequências verborrágicas, excesso de violência à beira do gore, mudança de foco durante a narrativa, etc), imagine que apenas orquestrar de forma preguiçosa esses elementos seja suficiente para criar um filme. E, quando esse exercício de autorreferência se torna um filme com três horas de duração, onde em seus dois terços iniciais nada acontece, é pedir demais para possamos acompanhar essa narrativa com algum tipo de prazer, a não ser o de ver, o mais breve possível, o seu término.
O filme se passa logo após a Guerra da Secessão Americana, tendo como fio condutor da narrativa o oficial John Ruth (Kurt Russell) que leva uma fugitiva (Jennifer Jason Leigh) para ser enforcada na cidade de Red Rox. No caminho encontra o verdadeiro protagonista do longa, o major Marquis Warren (Samuel L. Jackson), um militar negro que saiu vitorioso contra os escravagistas na guerra. Por causa de uma nevasca são obrigados a parar em uma estalagem onde ficam presos com outros personagens em um ambiente fechado, no qual a violência e um “segredo” se torna o motivo dos atos nada ortodoxos praticados entre eles.
O início parece bem promissor, com uma trilha envolvente do mestre Ennio Morricone, seguimos uma carruagem que atravessa a paisagem gelada, nos colocando logo de cara no suspense no qual Tarantino promete nos envolver. Aos poucos esse suspense vai se diluindo dando lugar a diálogos longos, lentos e enfadonhos que, ao contrário de outros filmes do diretor, não serve a nenhuma função narrativa, tornando-se apenas um exercício de ego, como se Tarantino quisesse nos dizer, forçosamente, o quão exímio roteirista ele é.
Nesse engodo verborrágico desnecessário é depositada toda a ação da narrativa, sempre contada pelas personagens e nunca realizada por elas, a não ser no apoteótico final, marca registrada de Tarantino. Com isso, mesmo com um ótimo elenco, perde-se constantemente o interesse por essas personagens e as historias que estão sendo narradas, numa constante sensação de déjà vu. Já vimos tudo isso anteriormente e de uma maneira muito melhor realizada.
Como disse um amigo, talvez exista um excelente filme de uma hora e meia dentro das três horas de Os 8 Odiados, mas, do jeito que está, é uma grande decepção vinda de um cineasta da envergadura criativa de um Tarantino.
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