– Que desafio, meus caros. Como é que a gente vai fazer pra arrebanhar o povo dessa vez?
– Vai ser um pega-pra-capar, e não acredito que algum candidato se dê maravilhosamente bem. Sente o drama: a gente anuncia uma live, tal dia e tal hora. Vêm os outros e canibalizam, marcam no mesmo horário e no mesmo dia, só pra jogar caca no ventilador.
– Mas aí perde todo mundo, já que dilui a audiência.
– Então, mas ganha quem fizer impulsionamento, link patrocinado, mídia programática e por aí vai. Vale a regra do off-line, quem tem mais verba leva vantagem. Nada muda esta verdade, fio. Desde que o mundo é mundo.
– Ou ganha quem promover o showmício mais arrasador. Figurinha carimbada, sertanejo de prestígio…
– De que showmício você tá falando, esqueceu da pandemia? Junta-povo dá cadeia.
– Então vai na base da live também, fazer o quê?
– Isso não vai acabar bem, nada é igual ao cecê da multidão, aquela coisa de levantar a galera na oratória, inflamar a plebe!!! E o negócio do show só funciona porque o povão quer ver de perto os ídolos. Se for só live o sujeito prefere ficar pendurado no youtube, tem coisa em definição muito melhor. Do artista preferido e na hora que quiser. Live fica travando, tem delay, a fala começa e a boca mexe uma semana depois. Não dá, não dá.
– Mas na live a gente coloca o candidato junto com o artista. E é ao vivo, né? É diferente. Entre não ter nada e ter live, é melhor ter live.
– E santinho, como é que vamos fazer sem aquelas montanhas de entupir bueiro?
– Tá mais pra janela pop-up dessa vez, velho. E-mail marketing, sei lá pra que lado correr, juro mesmo…
– Nossa, que tosco. Que primitivo. O cara lá, vendo o que gosta na internet, e estoura uma pop-up na cara dele, sem mais aquela. Vote fulano. Isso é invasivo, em vez de alavancar a candidatura acaba criando rejeição. Fora que tem legislação eleitoral, não pode sair fazendo o que der na telha.
– Olha, outra coisa. Em vez de ficar gastando em sites locais, grupos de facebook da cidade e coisas assim, a gente pode torrar tudo com um dia inteiro na home de um UOL da vida, um G1, sei lá… tá certo que é caro, mas já pensou o prestígio? Aquele buxixo no dia seguinte: “viu o candidato ontem? Tava lá no G1, da Globo”.
– Tudo bem, mas e a dispersão de verba? Home de portal gigante é só pra peso pesado, fio. Vai ter gente do Brasil todo vendo um candidato local, que ninguém conhece, e que só pode receber voto aqui. Precisa ser muito burro pra fazer isso.
– Bom, carro de som continua valendo. Mesmo com a população dentro de casa, o carro passa anunciando e todo mundo escuta. Avisa o comitê pra manter a verba do carro de som.
– Só complementando, gente. Tem um pessoal, de primeiro time da MPB, que topa vender uma live genérica. Eles têm um showzinho padrão, já pronto, onde só mudam o nome e o número do candidato, no fundo do vídeo. Como se o figurão estivesse apoiando, tipo um cabo eleitoral. Só que o cara não fala nada, segue cantando e boa. É uma forma de escapar da live tradicional, pagando bem menos. Mas o impacto não é lá essas coisas…
– Tem também disparo em massa…
– TSE proibiu, já a partir desta eleição.
– Eu conheço um camarada que faz sem deixar rastro. E faz no amor à causa, dá pra ele um pão com mortadela e tá tudo certo.
– Pão com mortadela… tem delivery disso aí?
Esta é uma obra de ficção.
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