Estava de boas, curtindo o mundo encantado de Downton Abbey (série na Netflix), quando fui fisgada por esta cena, lá pelos 30 minutos do episódio 4, da temporada 5. O indefectível mordomo Carson (Jim Carter), responsável pela adega dos aristocratas Crawley, aparece decantando um vinho que, pelo cuidado com que a operação é realizada, deve ser daqueles anciões com sedimento depositado no fundo. A sequência não mostra o rótulo, mas aposto que se trata de um Chateaux Margaux ou um Haut-Brion, os puros-sangues citados na obra. O que me deixou hipnotizada é a engenhoca que ele utiliza para inclinar lentamente a garrafa na hora de transferir o vinho para o decantador. A garrafa é acomodada numa estrutura de metal e, por meio de uma manivela, ela vai sendo emborcada devagar, cirurgicamente.
Amigos iniciados, alguém tem um instrumento desse em casa? Adoraria ter um. Pesquisei na internet e descobri que a peça é antiga, rara e custa cerca de R$ 3 mil. Deve existir versões modernas, mas essas não têm graça – o charme é adquirir um item de museu. Obviamente, desisti de incluir o objeto ao meu modesto acervo de acessórios, embora considere o decantador (desses normais para enófilos normais) essencial no dia a dia, especialmente quando nos deparamos com aqueles tintos potentes, que saem intrépidos da garrafa, pedindo oxigênio. Esses vinhos realmente têm muito o que ganhar com a decantação, pois o procedimento permite que a bebida mostre a sua elegância com total franqueza.
Aromas, álcool e taninos ficam mais amistosos e, se houver algum sedimento depositado, ele se mantém na garrafa e não vai nos incomodar na taça. Além disso, um vinho servido no decantador traz uma bem-vinda imponência à mesa. Ouso exagerar: a peça ganha ares de escultura contemporânea com o impacto da cor vermelha na transparência do cristal. A boa notícia é que o mercado tem muitas opções de decantadores (ou decanters) e não são tão caros como o conjunto usado pelo mordomo Carson. Alguns apresentam design arrojado, com curvas sinuosas (a cristaleira Riedel é craque em criar designs malucos), outros são sóbrios, tradicionais, práticos para o dia a dia.
QUEM VAI LAVAR DEPOIS?
Quando alguém pede a minha opinião sobre qual decantador escolher, vou logo perguntando: “Quem vai lavar?” Sim, porque alguns modelos são lindos, chiques e arrojados, mas não foram feitos para encarar a pia e, com vinho, você já sabe, todo cuidado é pouco. O detergente, por exemplo, deve ser mantido longe se não quiser tomar vinho com aroma de ovo mais tarde. Já os modelos clássicos, daqueles de fundo bojudo e redondo, aguentam melhor a dura rotina dos deliciosos tintos encorpados.
Não sei quanto a você, mas eu sou daquelas que morre de ciúmes dos acessórios e, sendo assim, não autorizo ninguém a desempenhar a delicada operação de lavar decantadores e taças depois do uso. E aí vem a pergunta: se o detergente é banido, como higienizar os cristais? Hã… hããã… Existem alguns truques caseiros que funcionam muito bem. Dia desses falei sobre isso em redes sociais e vários amigos apreciadores de vinho deram seus pitacos. Aqui vão alguns:
– Arroz e água
– Vinagre de vinho branco
– Sal grosso e água
– Sabão de máquina de lavar e água
– Sal e vinagre
– Bicarbonato de sódio e água
Se não gostar dessas alternativas, existe também no mercado, esferas de aço inox específicas para decantadores. Basta deixar as bolinhas com água descansarem no decantador, depois agitar delicadamente e enxaguar. Pensa que é fácil? É, sim. Saúde!
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