Blog do Vinho

O vinho depois da pandemia

por Suzamara Santos
Publicado em 27 de maio de 2020

Muitos estão se perguntando como vai ficar o mundo do vinho pós-pandemia. A pergunta, na real, devia ser como será o mundo pós-pandemia, considerando que o vinho  não constitui um universo apartado do resto. Que vamos todos (pelos menos a grande maioria) ficar mais pobres parece ser consenso entre os que estão tentando vislumbrar o futuro. Mas o que significa isso? (Ilustram esse post as criações da pintora francesa de Francine Van Hove).

Não precisa ter bola de cristal para concluir que haverá reflexo no comércio e hábitos relacionados ao vinho. Isso vai da prateleira de supermercado, onde buscamos aquela garrafa despretensiosa para acompanhar a pizza da noite, até a escolha do melhor rótulo para harmonizar com aquele prato incrível do restaurante eleito para celebrar datas especiais.

Seremos forçados a simplificar a vida. Vinhos bons terão que chegar aos consumidores a preços viáveis. Os que podem dispor de um salário mínimo (estou sendo modesta, pois há quem gaste muito mais) num único jantar serão poucos e, muito provavelmente, insuficientes para manter a roda girando neste mercado tão especial.

Também parecerá fora de contexto a ostentação de cristais, adegas, abridores, termômetros, decantadores e todo um catálogo de acessórios caros que fascinam os fetichistas do vinho. Não, não vamos abolir o glamour que envolve essa bebida, mas desfrutaremos de toda a sua elegância com um consumo justo, conduzido pelo bom senso.

Esses pitacos aleatórios remetem a um preciso manifesto divulgado por 170 acadêmicos holandeses que propõe, em cinco pontos, uma mudança de paradigma econômico mundial pós-crise. Compartilho a publicação do El Clarín, Chile, de 27-04-20, com tradução de Wagner Fernandes de Azevedo. Não é sobre vinho, mas aplica-se também a ele.

A VIDA PÓS-CRISE EM 5 PONTOS

Aparentemente a Holanda é o país que com mais força está tomando o desafio de reestruturar sua economia a partir do que vivemos no presente. Nesse contexto, 170 acadêmicos holandeses escreveram um manifesto em cinco pontos para a mudança econômica pós-crise da covid-19, baseado nos princípios do decrescimento:

  1. Passar de uma economia focada no crescimento do PIB, a diferenciar entre setores que podem crescer e requerem investimentos (setores públicos críticos, energias limpas, educação, saúde) e setores que devem decrescer radicalmente (petróleo, gás, mineração, publicidade, etc.).
  2. Construir uma estrutura econômica baseada na redistribuição. Que estabelece uma renda básica universal, um sistema universal de serviços públicos, um forte imposto sobre a renda, ao lucro e à riqueza, horários de trabalho reduzidos e trabalhos compartilhados, e que reconhece os trabalhos de cuidado.
  3. Transformar a agricultura para uma regenerativa. Baseada na conservação da biodiversidade, sustentável e baseada em produção local e vegetariana, ademais de condições de emprego e salário justas.
  4. Reduzir o consumo e as viagens. Com uma drástica mudança de viagens luxuosas e de consumo desenfreado, a um consumo e viagens básicas, necessárias, sustentáveis e satisfatórios.
  5. Cancelamento da dívida. Especialmente de trabalhadores e donos de pequenos negócios, assim como de países do Sul Global (tanto a dívida a países como a instituições financeiras internacionais).

 

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