Faça as Malas

O Rio de Janeiro visto de cima

por Marcos Craveiro
Publicado em 29 de maio de 2015

O Rio de Janeiro não é uma cidade maravilhosa, é uma paisagem maravilhosa para uma cidade. Quem disse isso foi a escritora Elisabeth Bishop. Eu nunca li nada do que ela escreveu, mas isso é o que eu penso.

Desde 1970, quando morei lá, no Leblon, na Rua Dias Ferreira, amo a cidade que escolheria para viver depois de Campinas. Nessa época era praia, música e futebol. Foi o período em que troquei de time. Virei flamenguista, aos vinte anos. Isso posto quero finalizar que amo o Rio de Janeiro. Simples assim.

Se me magoa dizer que ele é uma paisagem absolutamente maravilhosa vista do avião e uma cena de terror no dia a dia, sim, e muito. Já caminhei na lagoa e na orla. Quase me afoguei em Copacabana, virei noites tocando – eu era músico aos 20 anos – e depois indo ao Arpoador pra ver o sol nascer. Namorei lá, morei com meus tios Severino e Irene, gente que eu amo e sou agradecido, depois morei no Itaipú com Donaldo, meu parceiro que já se foi. Vivi uma vida em três anos lá. E tenho muita saudade dessa época em que tinha cabelo.

Hoje eu vejo o Rio refém do tráfico e do contrabando, principalmente de armas. E vejo péssimos políticos, cafajestes, seduzidos pela propina fácil. Um Rio mal administrado e corrompido até suas entranhas. Vejo um Rio de um povo feliz porque é assim, e amedrontado. Em pânico. Eles, os cariocas, são alegres, sorridentes, festeiros e lindos. Mas sofredores que não vêem uma luz no final de seu túnel desgraçado.

Ah!, mas a Olimpíada vai mudar a vida do Rio de Janeiro, seu futuro. Você verá a cidade sem malandros, pedintes, assaltantes e assassinos. Sem tráfico que não aparece aos olhos de quem quer a droga farta das ruas. Será tudo escondidinho.

Era para ser assim, mas o dia a dia da cidade… Ele teima em dizer o contrário. Há pouco mais de vinte dias os assaltantes inauguraram nova maneira de trabalhar (sic). Em vez de armas de fogo, que dão cadeia ou quase, arma branca. Que não dá nada. Metem a faca nos ciclistas, nos corredores do calçadão e na Lagoa Rodrigo de Freitas assassinaram um médico pra roubar bicicleta. Uma vida por 10, 15 mil reais, valor das bicicletas que podem chegar a 30 mil. Eles trocam por droga ou pouco mais de 200 reais. Vale uma vida?

Precisam avisar os turistas que virão ao Rio de Janeiro nas Olimpíadas, os velejadores da Baía totalmente imprópria para o esporte. O Rio de Janeiro é um visto de cima, outro aqui nas ruas.

O Rio de Janeiro é uma imagem maravilhosa de uma cidade que está longe de ser maravilhosa.

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