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“O Regresso”: vingança e luta pela sobrevivência

por Luiz Andreghetto
Publicado em 28 de fevereiro de 2016

Com um início auspicioso no México com o filme “Amores Brutos” (2000) e sua estreia em solo americano com “21 gramas” (2003), tudo que Alejandro González Iñárritu faz é seguir por um caminho decrescente em sua filmografia, com obras que pretendem ser totalizantes nos assuntos que abordam: a globalização em “Babel” (2006), a pobreza em “Biutiful” (2010) e os bastidores do universo artístico em “Birdman” (2014). Claro que em questões de sucesso financeiro e prêmios ao redor do mundo, Iñárritu é um dos grandes diretores da atualidade (prova disso é que poderá ganhar seu segundo Oscar de melhor diretor um ano após sua primeira estatueta por “Birdman”, caso raro na história da Academia, aconteceu anteriormente com John Ford nos anos 1940 e Joseph L. Mankiewicz nos anos 1950), mas que ainda anseia por um reconhecimento fora do mainstream.

“O Regresso” (2015) conta a história de vingança de Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) que, após ver seu filho ser morto por John Fitzgerald (Tom Hardy), persegue-o para matá-lo, mesmo tendo que quase “ressuscitar” para dar conta de realizar essa façanha. Assiste-se com prazer (meio sádico, diga-se de passagem) essa jornada em meio às paisagens gélidas e inóspitas filmadas no Canadá, com cenas impactantes, principalmente a do ataque da ursa, perdoando assim a inocuidade dessa história de vingança, praticamente retirada do filme “Fúria Selvagem” (1971), de Richard C. Sarafin.

O que não dá pra ser perdoado é a insistência de Iñárritu em querer ser um grande “autor” cinematográfico e sua pretensão em alcançar isso, em “O Regresso”, emulando o diretor americano Terrence Malick. Egresso do novo cinema americano dos anos 1970, é com Malick que Iñárritu mantém suas maiores aproximações, utilizando para isso os mesmos momentos de silêncio e contemplação, narração em off como fluxo de consciência, a natureza como força motriz da narrativa, câmera que aponta insistentemente para o céu, etc. A obsessão é tão grande para emular Malick que Iñárritu utiliza parte de sua equipe técnica: o diretor de fotografia (Emmanuel Lubezki), o  desenhista de produção (Jack Fish) e a figurinista (Jacqueline West) habitués nas produções desse diretor (“Novo mundo”, “Árvore da vida”, “Amor pleno”, “Cavaleiro de copas”). Iñárritu parece desesperado por um reconhecimento autoral que ainda lhe falta, mas nesse afã acaba por se comprometer com obras que apenas deixa visível o tamanho do ego de um diretor obcecado pelos artifícios técnicos das imagens que cria, deixando-se embevecer-se na beleza de planos e enquadramentos que beiram o artificialismo.

Não foi dessa vez que Iñárritu conseguiu dar um passo além daquilo que já estamos acostumados em sua filmografia e, caso você não se importe com a famigerada obsessão do diretor pelo virtuosismo imagético, “O Regresso” pode ser um ótimo filme, incômodo em alguns momentos, devido a sua violência gráfica excessiva (que muito lembra Tarantino), mas ainda gratificante na interpretação de Leonardo DiCaprio e na belíssima direção de fotografia.

Veja os indicados ao Oscar 2016

Confira a programação de “O Regresso” nos cinemas de Campinas 

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