Em artigo publicado no Correio Popular dia 21 de junho de 2012, data que começaria o 5º Festival de Cinema de Paulínia, cancelado pelo então prefeito José Pavan Jr. em abril daquele ano, eu escrevi o seguinte texto: “Há tempos penso escrever um livro sobre a história do cinema brasileiro em Paulínia. Diante do atual quadro, no entanto, o livro a ser escrito será sobre o fim de mais um ciclo do cinema nacional, cinema que sofre de DMM (descontinuidade mórbida múltipla). Mas esse livro eu não quero escrever.”
No ano passado, eu voltei atrás. Depois de uma visita a Paulínia, em fevereiro de 2018, decidi escrever um livro sobre a experiência da cidade com o cinema. Revisitá-la me trouxe de volta a história do Polo Cinematográfico e do Festival de Cinema, nascida em 2005 e encerrada em 2014. O que seria um programa banal (almoço com um amigo) se transformou na aventura de escrever este livro sem apoio financeiro e estrutural de qualquer natureza.
Ao caminhar pela cidade, vi a deterioração de um teatro da qualidade como poucos no Brasil, passei em frente aos estúdios vazios e abandonados e contemplei os lugares nos quais jornalistas do país todo, produtores, diretores, artistas e espectadores circularam por um período emblemático da história do cinema na Região Metropolitana de Campinas (RMC) e no Brasil. Depois de produzir cerca de 45 filmes e seis festivais em nove anos, o polo foi extinto em 2014.
No livro “Paulínia – Uma História de Cinema” (Paco Editorial), eu narro cronologicamente a construção de um teatro grandioso para 1,3 mil lugares, dois estúdios pequenos, um médio e um grande, comento bastidores de diversos filmes rodados na região, detalho todos os passos dos seis festivais, conto episódios que só eu presenciei, entrevistei alguns dos protagonistas da história e falo dos desencontros políticos que motivaram o fim da experiência cinematográfica na cidade.
Vários dos filmes rodados na região se transformaram em sucesso nacional, tais como “Chico Xavier” (Daniel Filho), “O Palhaço” (Selton Mello), “Ensaio sobre a Cegueira” (Fernando Meirelles) e “Vai que dá Certo” (Maurício Farias e Calvito Leal). Até “Tropa de Elite 2” (José Padilha), a maior bilheteria do cinema brasileiro, com mais de 11 milhões de ingressos vendidos, recebeu suporte financeiro de Paulínia para o lançamento, que aconteceu nacionalmente na cidade, atraindo imprensa do Brasil inteiro.
Tudo isso é escrito em primeira pessoa, o que faz do narrador um personagem do livro: o jornalista que acompanhou o processo desde o primeiro anúncio da construção do polo até o desmanche de uma estrutura que em pouco tempo passou a ser o centro das atenções do audiovisual brasileiro.
Autor do prefácio, o presidente da Associação Brasileira de Críticos de Cinema – Abraccine, Paulo Henrique Silva, escreve: “É esse rico bastidor que vemos detalhado na escrita refinada, saborosa e levemente irônica de João Nunes, então jornalista do jornal Correio Popular de Campinas, testemunha privilegiada do nascimento e da falência do festival. A história do festival está profundamente identificada com o autor. Em cada linha registrada neste livro, a sensação é de que Nunes está contando um pouco de suas inquietações de vida.”
O lançamento será no final de outubro (em data ainda indefinida), no Facca Bar (Rua Conceição, 157, centro).
Trecho
“Afora os prazeres pessoais do meu trabalho, havia algo muito mais relevante acontecendo: parte do cenário dos filmes brasileiros sofrera mudança radical. Nos filmes rodados em Paulínia e na região metropolitana não havia Cristo Redentor nem Avenida Paulista, tampouco Masp ou Pão de Açúcar ou panorâmica sobre a grande cidade ou praia de Copacabana. Havia outros brasis – e eles são muitos. Se fosse apenas esse o ganho do polo de Paulínia, já teria sido bastante. A mudança de cenário foi apenas um deles – e revestido de profundo significado.”
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