Nos últimos anos, o Galleria Shoppping se fixou como referência dos campineiros interessados em um cinema menos comercial – ou alternativo, de arte, independente, qualquer que seja a denominação. Mas, doze meses atrás, o complexo de cinco salas foi fechado, passou por reforma radical, trocou de bandeira (agora pertence ao Cinépolis) e está sendo reaberto nesta quinta, 20 de junho.
No coquetel de lançamento conversei com o presidente da empresa no Brasil, Luiz Gonzaga Assis De Luca. Evoco o papel que o Galleria teve juntos aos campineiros e ele confirma que, sim, haverá lugar dependendo do calendário (julho, por exemplo é mês de férias e filmes de entretenimento ganham espaço) para um tipo de produção adulta com apelo mais artístico. “Fizemos um acordo com a Pandora, que distribui filmes de arte; ela acaba de comprar seis títulos que estiveram em Cannes, em maio”.
Se esse segmento está garantido, uma sala mais sofisticada como a 4D existente no Shopping JK, em São Paulo, foi descartada. É muito caro, diz ele, não há muitos títulos disponíveis e tampouco demanda. Um exemplo de filme no qual esse equipamento foi usado é “Gravidade” (2013, vencedor de sete Oscar incluindo o diretor mexicano Alfonso Cuarón). Entre outras atrações, a cadeira do espectador se move de acordo com o movimento da nave espacial do filme.
Todas as quatro salas encolheram. O local desta entrevista, que tinha 200 cadeiras, foi reduzido a 72. “Ficou um ambiente mais íntimo, como se o espectador estivesse em casa”, diz De Luca. As poltronas são maiores, assim como a distância entre elas, é possível incliná-la ao ponto de parecer uma cama e há uma mesinha capaz de abrigar muito mais que um combo de pipoca com refri: trata-se de uma mesa para refeições. Pode ser panqueca, sanduíche, churros ou crepes. Ah, e tem entrada para carregar o celular.
A quinta sala, a ser inaugurada em 15 dias, será dedicada às crianças e está dotada de tobogã e piscina de bolinhas. Essa sala chamada “Junior” é uma das duas no Brasil – a outra fica no Alphaville Barueri, em São Paulo.
De Luca assume que é um cinema concebido para jovens de alto poder aquisitivo (a menor média de entrada está na faixa de R$ 49). Sim, porque o adulto acostumado a exigir silêncio durante as sessões não vai gostar muito da ideia de ver um filme de Almodóvar ao som comilanças várias e de óbvios celulares acesos e sendo usados. Aliás, a guerra contra celulares no cinema há muito está perdida. “Exigir que jovens não façam barulho é impossível”, afirma.
Por que não deixar reservada pelo menos uma das salas fora do conceito VIP? O presidente da empresa garante que o índice de salas comuns em Campinas é um dos mais altos do Brasil. “Existe uma sala convencional para cada 22 mil habitantes; esses são números de países europeus”. Assim, com base pesquisas e estudos, o novo complexo chega para atender a uma demanda de mercado.
Crise? Que crise?
Eu tinha uma percepção de que o cinema físico criado no século 19 estava em crise diante da concorrência das múltiplas plataformas atuais, tais como Netflix, todos os serviços da TV fechada, os celulares, o amplo universo da internet e todas as suas possibilidades.
O presidente do complexo garante que a Netflix, especializada em séries, não é concorrente do cinema. “O espectador dela não vê televisão, mas vai ao cinema.” Ademais, reforça, o streaming será fragmentado – a própria Disney já anunciou o dela – e De Luca aposta na convivência entre as partes.
Os números citados por ele são recordes. No ano passado foram 176 milhões de espectadores nos cinemas brasileiros, mas com uma contradição: estes 176 milhões, na verdade, são 30 milhões de brasileiros (de uma população de 200 milhões) que vão ao cinema seis vezes ao ano.
A inauguração das quatro salas do Galleria desmente essa percepção. De acordo com De Luca, o aumento do número de salas de cinema é visível. No mundo todo, em poucos anos o número de salas saltou de 96 mil para 150 mil. No Brasil, não fosse a crise econômica, diz ele, o crescimento teria sido muito maior. O país tem, hoje, o maior número de salas de cinema desde a década de 1970. São cerca de 3,4 mil – 400 delas do Cinépolis.
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