Cinema Literal

Mulheres dão tom no festival do Recife

por João Nunes
Publicado em 1 de junho de 2018

Com o tradicional cinema São Luiz (inaugurado em 1952) praticamente lotado em seus 800 lugares, começou nesta quinta (31) a 22ª edição do Cine PE – Festival do Audiovisual, do Recife, que teve a mulher como tema. A começar pela cerimônia que homenageou a cineasta pernambucana Kátia Mesel.

E se alguns curtas-metragens privilegiaram a violência contra a mulher como base de suas narrativas, o longa “Mulheres Alteradas”, do diretor estreante Luís Pinheiro, exibido fora de concurso, buscou no humor a arma para evidenciar o papel feminino na sociedade contemporânea.

Com a data de estreia marcada para o dia 21 de junho nos cinemas, o filme se baseia na personagem da cartunista argentina Maitena Burundarena, criada em meados de 1990 e adaptada para a tela grande pelo também cartunista, o brasileiro Caco Galhardo – o autor do roteiro.

Na coletiva de imprensa com o diretor, eu lhe perguntei justamente sobre a questão, hoje, mais que nunca em pauta: como ele defendia um filme sobre mulheres dirigido e roteirizado por homens. A resposta é boa: ele foi convidado pela produtora Andrea Barata Ribeiro, mas que não teve problemas porque dirigiu pensando no outro, independentemente do gênero.

Foi contestado por um participante do debate, para quem, é impossível ignorar o gênero, assim como a questão social. Luís Pinheiro relativizou ao dizer que a postura dele é não pensar no gênero para poder realizar o trabalho.

Exemplifica ao se colocar no papel de amigo das causas femininas, pois tem mãe, mulher e duas filhas “minhas quatro mulheres alteradas”. Além disso, se justifica, lembrando que dirigiu várias séries de TV cujos protagonistas eram mulheres o que lhe dá certa intimidade com o tema.

O filme

“Mulheres Alteradas” contrapõe a um tipo de cinema brasileiro de comédia no qual o riso costuma ser conquistado à base de escatologias ou alto nível de bobagens e algumas vulgaridades. Ele nunca apela, as cenas de sexo são propositalmente fakes e, quando beira a baixaria, consegue escapar usando de sutis subterfúgios.

Alessandra Negrini surpreende. Ela é uma boa atriz, mas poucas vezes deve ter sido tão exigida. E não se trata de trabalho fácil, pelo contrário, é dificílimo porque tange tanto a comédia quanto o drama. E a atriz dá conta do recado com muita sobra. Eis mais um contraponto do filme: se permitir ser bom, sendo comédia e chamando atenção para o trabalho de ator.

Santoro

Depois de ter desistido de vir ao Recife por causa da mudança das datas (resultado da greve dos caminhoneiros), Rodrigo Santoro voltou atrás e estará no festival. Neste sábado (2) ele será o homenageado.

Fotos: Felipe Souto Maior (divulgação)

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