Para Crianças

Moonrise Kingdom (2012): a inocência do primeiro amor

por Kátia Nunes
Publicado em 28 de janeiro de 2013

Alguns podem não gostar do diretor Wes Anderson e acusá-lo de estar sempre fazendo filmes muito parecidos, seja dentro de sua temática preferida (personagens desajustados, famílias disfuncionais, humor non sense) ou esteticamente “milimetrados” (planos longos, enquadramentos rigorosos que quase beiram a artificialidade, excesso de objetos em cena). Isso até pode ser verdade em um primeiro momento, mas o que o coloca em um lugar privilegiado entre os diretores/autores do cinema independente americano são justamente essas características: ao transitar por um mesmo universo em suas narrativas cinematográficas, Anderson constrói um mundo à parte, ora excessivamente teatral e composto, ora lírico e leve como uma fábula infantil, sem perder o sarcasmo e a ironia que lhe é tão peculiar.

Em “Moonrise Kingdom” ele nos apresenta um mundo adulto filtrado pelo olhar de dois pré-adolescentes, um garoto (Jared Gilman) e uma garota (Kara Hayward), ambos de doze anos, que se apaixonam e querem fugir juntos. Ela vive na casa dos pais enquanto ele vive em um acampamento de escoteiros. A história passa-se em 1965, um período de “inocência” norte-americana que seria perdida com o início da Guerra do Vietnã. Simples em seu conteúdo, mas extremamente elaborado em sua forma, Anderson mostra um mundo adulto, recheado de ironia, que não entende esses protagonistas e age de maneira equivocada e atrapalhada. A pureza e a inocência desse amor, dessa verdade e liberdade no existir que, ambos os adolescentes buscam, não consegue ser entendido pelos adultos, que há tempos se deixaram impregnar por uma existência apática.

Nesse universo de personagens afetivamente desajustados, Anderson passeia com extrema leveza, construindo enquadramentos que nos remete a um palco italiano, parece que estamos assistindo uma peça de teatro, pela maneira com que ele trabalha a frontalidade dessas imagens, sensação que logo é interrompida pelos longos travellings que realiza, tanto na vertical, quanto na horizontal.

Misturando drama e comédia, com uma direção de fotografia belíssima e diálogos muito bem escritos, Anderson reúne um elenco de grandes astros (Bruce Willis, Edward Norton, Bill Murray, Frances McDormand, Tilda Swinton, Harvey Keitel) que faz um contraponto muito interessante com os jovens protagonistas, ambos iniciantes no cinema, que roubam o filme com uma interpretação na medida certa, nos proporcionando a identificação necessária para prosseguirmos nessa jornada.

Pode não ser o melhor filme da carreira de Anderson, como Três é demais (Rushmore, 1998), Os Excêntricos Tenenbauns (The Royal Tenenbauns, 2001) e Viagem a Darjeeling (The Darjeeling Limited, 2007), mas continua sendo uma obra extremamente original, que utiliza seu enunciado para nos proporcionar uma experiência bela, repleta de melancolia e ternura.

Veja o trailer:

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