Não é de hoje que me perguntam se, afinal, devemos acreditar nos resultados de concursos, rankings e listas de melhores vinhos tão presentes no nosso dia a dia? E na semana passada, não foi diferente, pois no último texto publicado aqui, noticiei que todos os 97 rótulos selecionados para Concurso de Espumantes Brasileiros haviam recebido Medalha de Ouro, ou seja, 100%.
E aqui vai a minha opinião sobre esse assunto: concursos, rankings, listas, eventos, feiras e pontuações são importantes para dar visibilidade não só aos rótulos, mas à cultura do vinho em geral. Isso não quer dizer que as garrafas premiadas em uma mostra internacional são as melhores do mundo. Prefiro dizer que são as melhores entre as concorrentes naquele determinado evento.
Isso porque muitas vinícolas não enviam seus vinhos para concursos e muito menos para avaliação de críticos especializados. Por filosofia de trabalho, questão financeira ou qualquer outro motivo, esses produtores optam por outras estratégias de divulgação e comercialização de seus vinhos. Reiterando, quando lemos que um vinho recebeu ouro no evento X é prudente entender que se trata do universo daquele evento X, não mais. Ainda: contenha o ufanismo quando vir notícias como “vinho brasileiro de R$ 50 está entre os 10 melhores do mundo”.
Bem, considerando esse universo X, a dúvida permanece: devemos sair com a lista de premiados nas mãos na hora de comprar vinhos? Sim e não. Afinal, não deixa de ser uma referência. Porém, atenção: o tal vinho premiado agradou à banca de degustadores, que faz um julgamento técnico, mas pode decepcioná-lo por não fazer o seu estilo. Costumo citar Robert Parker e os famosos “vinhos parkerizados”. Lá pelos anos 1970/1980, o incensado crítico americano influenciou a enologia mundial com seu suposto gosto pelos vinhos potentes, com muita fruta, cor e álcool.
Isso levou a uma “inundação” de vinhos à la Parker no mundo inteiro. Hoje, essa tendência está bem mais contida e os vinhos elegantes, complexos e discretos voltaram a ser referências inquestionáveis de qualidade. Moral da história: Parker faz um trabalho sério em favor do vinho, mas ele não é único critério para fazer boas escolhas. Mesmo porque, voltando ao raciocínio anterior, ele prova muitos vinhos de qualidade para a sua revista The Wine Advocate, mas deixa de provar muitos outros.
Outra coisa importante nesse universo de premiações, é que as regras não são as mesmas em todas as aferições. Há concursos em que para ganhar Ouro, o vinho tem que receber nota acima de 95 pontos; em outras provas, a meta é mais generosa – com 88 pontos já leva a dourada para a casa. Muito comum ainda é vermos ótimas peças de marketing anunciando que tal vinho ganhou Medalha de Ouro em tal lugar, mas que não informa que outros trocentos rótulos também ganharam a mesma honraria. Sim, há concursos que distribuem centenas de medalhas em todas as categorias.
Há casos ainda de vinhos muito bem-sucedidos em determinada safra que não conseguem repetir o mesmo padrão nos anos seguintes. Daí o sucesso daquela marca fica limitado não só ao evento, mas também ao ano. Por fim, uma informação extra que devemos considerar é que alguns organizadores de concursos comercializam aos produtores agraciados o selo do concurso, destinado a enfeitar as garrafas e alavancar as vendas posteriormente.
Se sou a favor disso tudo? Sou sim, trata-se de um mercado. Mas sou a favor também de informação clara e transparente para o consumidor (alguém pensou em ética?). A quem me pede sugestões sobre como escolher o vinho, eu compartilho o meu próprio critério. Experimentar sempre, variar as escolhas, explorar as uvas, conhecer marcas, viajar pelos países, aproveitar bons preços e curtir as descobertas. Simples assim!
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