Li que Marta ficou de fora da lista das melhores do mundo FIFA. Ela venceu e levou em 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010. Cinco títulos merecidos. Ela enfrentou sempre grandes jogadoras, mas estava muito acima delas.
Desta vez está de fora. Marta piorou? As outras estão muito melhores que ela? Não, não é isso. Ela joga hoje tecnicamente pelo menos dez vezes mais do que qualquer outra jogadora do planeta. Fisicamente é outro papo. Está mais madura. Mas é também muito mais experiente. Antevê a jogada, sente a colocação da zaga, monta seu esquema na hora, frames de tempo e executa. Fez isso ao longo de anos, mas o corpo não tem mais aquela velocidade, arranque, explosão. A cabeça pensa, o corpo não obedece.
Uma vez ouvi do então presidente Elias Kalil do Atlético Mineiro, numa viagem à Argentina, precisamente em Rosário, onde o Atlético perdeu o título da Sulamericana para o Rosário Central, uma história sobre Garrincha.
Ele disse que o Botafogo jogava partidas show, com a presença obrigatória do Mané. O jogo a que me refiro foi no interior de Minas. Campo pequeno, lotado, melhor, superlotado. Gente saindo pelo ladrão, se me entende o amigo. Time modesto da cidade. No vestiário o treinador falou assim ao lateral esquerdo, negro de 18 anos, saúde de ferro, coração bombando sangue a 120 de tanta expectativa. Ele ia marcar Mané Garrincha, uma lenda viva: “ Meu filho não se assuste com Mané. Ele é somente um homem como você. E sai de um lado e de outro. Se sair pela esquerda você tira a bola dele. Se sair pela direita também. Como? Cerca ele, presta atenção. Ele não vai atravessar você no meio”.
E lá se foi o negão e sua esperança de parar o maior ponta direita da história do futebol mundial. Um gênio.
No intervalo do jogo, 2 a 0 para o Fogão e um show de Mané Garrincha. Com sua experiência e genialidade machucou o menino de 18 anos e muito fôlego. Um baile, um sapeca Iaiá.
O treinador chegou bem perto do suado lateral, que chorava pela humilhação de ter levado um vareio de bola, logo ele, que iria entrar para a história da cidade como o cara que parou Mané Garrincha. E perguntou ao pé da orelha do pobre lateral menino: “ eu não te falei que ele saia pela direita ou pela esquerda, que não atravessava? O que aconteceu”? Assustado, mas firme e sabedor da lavada que havia tomado, ele respondeu: “O pobrema professor, é que ele “ataia”.
Marta pode estar tranqüila, vai jogar muita bola ainda e deixar um rastro de alegria e brilho no caminho. Hoje, com toda sua bola, categoria, experiência, ela vai jogar no “ataio”. Ao ver Marta na rede, alegre e festiva depois do gol, carregando a bola debaixo do braço, a marcadora vai olhar pra treinadora e soltar a do negão do interior de Minas: “Professora, ela ataia”.
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