Antes de mais nada, autodeclaro que sou um homem de pele branca e sangue vermelho a escrever sobre um estigma que não senti em minha própria carne ou alma por causa da cor de minha pele – mas que o sinto no pulsar que viceja em meu coração – que autoriza o lugar de fala que ocupo e que se faz a partir da sensibilidade inerente ao humano que me liga, identifica e justifica junto a um povo que também é o meu.
Assim, esse 20 de novembro, Dia da Consciência Negra serve, entre outras coisas, pra lembrar-nos as nossas obscuridades e ignorâncias, e o ainda rastejante desenvolvimento espiritual desse país varonil e constrangedor.
Se esse Dia não existisse, é como se não pudéssemos ver que ainda somos presos ao egoísmo que só toma como real e verdadeiro aquilo que diz respeito ao nosso próprio umbigo. Essa data desmascara e dissolve a dissimulação, o cinismo e o encobrimento que, em nossa sociedade, normaliza e minimiza o racismo e outras segregações.
O racismo, no que me cabe sentir, é um transtorno mental, um complexo de superioridade eugênica, uma equivocada concepção de pureza branca calcada em alucinada distorção, uma falta de luz espiritual.
Calcado em falácias históricas, políticas e religiosas que pretendem tornar os brancos melhores que negros, o preconceito se funda como racismo estrutural e resulta em um agressivo apartheid (apartamento) cultural, social, educacional, profissional e econômico, em que a exclusão, por um lado, e a exploração de outro, perpetuam a desigualdade que permite e incentiva privilégios associados à “brancos” e desvantagens associadas aos “negros.”
Segundo Freud, o complexo de superioridade, base de todas as mazelas aqui citadas, é profundamente ligado ao complexo de inferioridade, e ambos são frequentemente encontrados como expressões diferentes da mesma patologia, coexistindo num mesmo indivíduo ou sociedade.
O complexo de superioridade se comunica com o narcisismo, que é o amor exacerbado de um indivíduo por si próprio ou por sua própria imagem, seu falso eu. O termo “narcisismo” descreve uma forma de existência de uma pessoa egoicamente voltada a si mesma, quando a sua libido, sua energia, está exacerbadamente direcionada aos seus interesses, como uma forma de encobrimento de sentimentos de inferioridade, fracasso ou falha, que se compensam com a arrogância e o autoritarismo.
Outro olhar
Bem… – convenhamos: creio que podemos pactuar a nossa sociedade e nossos eus em termos melhores do que os vigentes. Podemos desenvolver um outro olhar mais inclusivo, tolerante, compreensivo, pacífico, humanista… – que possa acolher a perspectiva de que, como seres humanos, como indivíduos, somos seres únicos, singulares e semelhantes.
Só assim poderemos sair da prisão conceitual que nós mesmo nos impomos, que nos escraviza e nos subjuga ao mais subterrâneo e inconsciente que possamos conceber. Nos livrando de extremismos, ideologias e sectarismos aprisionantes e nos conduzindo a uma condição mais favorável de discernimento. Quando poderemos experimentar como é que é uma consciência que acolha todas as cores e todos os seres como iguais e companheiros de jornada, cada qual com seu propósito e sua missão, e dignos de respeito e consideração.
Que esse dia chegue! E que os atos, reflexões e manifestos desse Dia da Consciência nos ilumine.
COMO LIDAR COM TUDO ISSO?
Psicanálise, terapia, autoconhecimento – algo assim. Para falar particularmente com o autor, use: 19 99760 0201 [zap] ou vagnercouto1@gmail.com
Vagner Couto, psicanalista, com especialização em Psicoterapia Psicanalítica Breve, aperfeiçoamento em Psicoterapia Psicanalítica de Casais e formação em Psicoterapia Energética Corporal, tem mais de 40 anos de vivência em instituição dedicada ao autoconhecimento, à expansão da consciência e à espiritualidade. Assessor acadêmico do CEFAS Escola de Psicanálise no período 2020/2023, é articulista do Blog Pensar Psicanalítico – no Portal Campinas.Com. Criou e coordenou a realização de mais de 100 eventos psicanalíticos e de saúde mental junto às principais instituições destas áreas no país. Jardineiro, ama cultivar pessoas e cuidar delas.
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