O primeiro elemento a chamar a atenção no longa “Henfil”, de Ângela Zoé, exibido neste domingo (3) dentro da mostra competitiva da 22ª edição do Cine PE – Festival do Audiovisual, do Recife, é trazer um alento para o gênero documentário: ele tem depoimentos o tempo todo, mas se distancia das famigeradas “talking heads” – entrevistados falando o tempo todo acomodados no sofá.
Ou seja, a diretora retira o imobilismo contido no gênero, algo que parecia predestinado a jamais ser subvertido. Ela ouve depoimentos, mas os entrevistados estão em pé ou narrando para um grupo ou falando tendo ao lado outro interlocutor – que não é o espectador.
Imagine o cartunista Ziraldo contando um episódio, em pé, e olhando para um grupo de animadores, também em pé. A diretora não se importa em abrir o plano e mostrar a quem o cartunista se dirige, como se a câmera fosse uma intrusa no meio de uma conversa particular.
Há ainda outro mérito: usar o criativo mote de dar o pontapé na narrativa a partir de um elemento novo: um grupo de animadores é desafiado a conhecer a história de Henfil através de relatos de amigos e de parceiros de criação e do processo de realização de uma animação a partir dos personagens dele.
Então, a história ganha um frescor. Não só resgata para as novas gerações uma figura importante da cultura brasileira capaz de fazer um humor corrosivo e ostensivo em meio à ditadura, como lhe atualiza a obra.
A diretora contou aos jornalistas que chamou uma profissional para editar o filme que não sabia quem era Henrique de Souza Filho, o Henfil. Pois foi confirmada como editora justamente por essa razão.
Curtas
Na melhor noite dos curtas-metragens, menção especial a três deles: “Não Falo com Estranhos” (Klaus Hastenreiter, Bahia), “Lençol de Inverno” (Bruno Rubim, Minas) e “Insone” (Breno Guerreiro e Débora Pinto, São Paulo).
No primeiro, um adolescente espera na antessala de um dentista para ser atendido. No exíguo espaço ele traça com humor delicioso um belo jogo de encenação. “Lençol de Inverno” traz um diretor maduro, apesar da juventude, dirigindo com propriedade e segurança. De longe a melhor animação do festival, “Insone” tem três minutos para entregar seu cartão de visitas. E entrega.
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