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“Foxcatcher”: o prenúncio de uma tragédia

por Luiz Andreghetto
Publicado em 12 de fevereiro de 2015

Um campeão olímpico de luta greco-romana, Mark Schultz (Channing Tatum) que sempre treinou com seu irmão mais velho, David (Mark Ruffalo), recebe um convite inusitado para fazer parte da equipe Foxcatcher do milionário John du Pont (Steve Carell, quase irreconhecível com um nariz postiço). Essa é a premissa do filme “Foxcatcher – uma história que chocou o mundo” (2015), que a princípio pode parecer apenas mais um filme sobre esporte, principalmente de um esporte muito pouco visto, mas está bem longe disso. O esporte entra apenas como o mote inicial na vida dessas personagens e do elo que as ligam e as fazem se encontrar na busca por vitórias e autoestima.

Entre lutas, treinos e competições, “Foxcatcher” prescinde de uma estranheza quase palpável. Influenciado pelas personagens principais, criadas através de grandes silêncios, o diretor Bennett Miller (Capote), deixa incutir em seu filme uma atmosfera lenta, à beira da contemplação, dialogando com a personalidade desses seres tão diferentes à procura de um sentido maior para a vida. Infelizmente, ao deixar-se influenciar por essa proposta, Miller nos entrega um filme extremamente lento, com diálogos nos quais o que realmente precisa ser dito fica subentendido, ninguém fala o que gostaria de dizer, apenas fala aquilo que o outro quer ou pode ouvir. Esse ritmo lento atrapalha a construção da narrativa, mas nos deixa imbuído de uma grande tensão para o que vem depois. A tragédia é prenunciada nesse ritmo que, mesmo por vezes cansativo, nos faz acompanhar a jornada desses três homens tão singulares em sua natureza humana. Sentimentos e intenções são escondidos, principalmente por Du Pont, que vive uma vida controlada à sombra da matriarca da família e o peso de um sobrenome que figura entre as famílias mais abastadas da América. Schultz, por sua vez, outrora um campeão olímpico, não mais consegue colher os louros dos áureos tempos, entregando-se cada vez mais em um espiral de violência reprimida e sentimentos contraditórios. Cabe a David ser o elo do bom senso entre essas personagens tão amarguradas.

“Foxcatcher” oferece uma grande chance aos seus atores: Channing Tatum prova de uma vez que é um ator melhor do que vemos em bobagens como Magic Mike, Steve Carrell faz o mesmo caminho de outros comediantes, como Jim Carrey, Adam Sandler e Bill Murray, que mostram uma insuspeita veia dramática e Mark Ruffalo continua provando que é um dos atores mais versáteis e interessantes da atualidade.

Uma pena que, ao final, com um clímax bem apressado, o contrário do que havia sendo construído na narrativa até então, fique a sensação de um filme arrastado, mesmo com excelentes atores e uma história que poderia ter sido mais bem contada.

 

 

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