Meu interesse pelo vinho não é de hoje, aliás, já passa de 15 anos. E mesmo com essa razoável estrada sempre me surpreendo com as novidades. A descoberta da semana é a uva enantio, que me foi apresentada no jantar harmonizado com vinhos da Itália, na simpática e ainda “cheirando a tinta” Birreria Mazzucco (R. Dr. Vieira Bueno, 132, Cambuí, f. 19 3308-3924). Uma grata experiência, sem dúvida. O vinho, um Roeno Enantio DOCG 2010, que acompanhou um Prime Ribe Dry Aged com legumes baby grelhados (segundo prato da noite), é um varietal 100% enantio, o que deu uma noção precisa do caráter da cepa.
A uva é cultivada na província de Verona, especificamente em Valdadige Terradeifort. Itália. Produz vinhos encorpados, com bela coloração rubi e clara vocação para a guarda. É uma das cepas mais antigas que existem, citada aqui e ali como praticamente extinta, o que torna a sua apreciação ainda mais instigante. O Roeno Enantio servido na harmonização, estagiou por 15 meses em carvalho e seis em garrafa antes de chegar ao mercado. Seus mais de sete anos de envelhecimento foram denunciados pelo leve tom acastanhado do halo. Embora já evoluído, apresentava estrutura para mais uma boa temporada em adega – de cinco anos em diante, na minha percepção. No nariz, agradável presença de geleia de frutas escuras, como amora e framboesa, e toques sutis de anis e cravo. Na boca, boa acidez, taninos bem integrados e álcool na casa dos 14%. Um vinho que pede uma proteína para acompanhar e, assim, brilhou a opção pelo Prime Ribe Dry Aged do cardápio assinado pelos chefs Paulo Mazzucco e Luigi Gomes, pai e filho que comandam a cozinha da birreria. A seleção de rótulos foi escolhida por Fabrício Bagarolli, da Vecchio Mondo, www.vecchiomondo.com.br, que distribui esses vinhos por aqui.
Procurei saber mais sobre a cepa e descobri que ela é caracterizada pela resistência a condições adversas de clima e alta imunidade a ataque de pragas. Na Antiguidade, os romanos desfrutavam de suas propriedades curativas e outros benefícios à saúde. Favorecidas por essa genética especial e pelo solo arenoso ao lado do Rio Ádige, na Itália, algumas vinhas sobreviveram ao flagelo da filoxera e, hoje, são anciãs com mais de 100 anos de idade. A vinícola Roeno produz vinhos com uvas de pés francos (não enxertados), o que podemos dizer que são quase uma exclusividade. Ah, sim, em alguns textos a cepa é apresentada como Lambrusca a Foglia Frastagliatta, mas cuidado para não confundir com a Lambrusco da Emilia-Romana. Saúde!
CARDÁPIO COMPLETO
Roeno Matti Prosecco DOC 2014, 100% prosecco, álcool 11%, charmat, Vêneto, Itália: acompanhou a entrada de Endívias Recheadas com Ricota Temperada. Vinho fresco, com ligeiro toque herbáceo que gingou fácil com o basílico do recheio e o amargor da folha.
Roeno Le Fratte Chardonnay DOC 2013, 100% chardonnay, álcool 13%, Vêneto, Itália: servido com o primeiro prato, Risoto de Gorgonzola com Pera. Vinho com seis meses de descanso em inox e sem passagem por carvalho, o que o enfatizou o frescor da uva. Boa harmonização.
Roeno Enantio DOCG 2010, 100% enantio, álcool 14%, Vêneto, Itália: escoltou o Prime Ribe Dry Aged com Legumes Baby Grelhados. Ponto alto da noite, o vinho se destacou pela raridade e pela ótima parceria com a carne vermelha.
Lini 910 Moscato Spumante V.S.Q., álcool 6,5%, Emilia Romagna, Itália: servido com o Canolli com Creme de Avelã. O baixo teor de álcool preserva o açúcar natural da uva, tornando o vinho descontraído e leve. Doçura do vinho e da sobremesa equivalentes, sem excessos.
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