Dia dos Namorados: tinto ou branco, vinho é a bebida amiga do amor. Foto: Banco de Imagem
Na minha aula de harmonização, que integra o curso de Enologia, no Instituto Franco-Brasileiro de Gastronomia (IFBG), acontece uma coisa que me diverte muito. Em um dos slides que exibo para comentar o tema, contraponho dois exemplos de compatibilização, completamente antagônicos. Um deles, traz uma carne vermelha, bem robusta, de longa cocção, ao lado de um vinho encorpado, daqueles sobre o qual dizemos que são “de cortar com a faca”. A outra foto, mostra um risoto de frutos do mar, salpicado de elementos verdes, ladeado por um vinho branco, gelado, remetendo a frescor, comedimento, elegância.
E a minha diversão é perguntar aos alunos qual desses pratos eles consideram mais interessante para um primeiro jantar romântico. Se você, como eu, pensou que o risoto com vinho branco ia arrasar, saiba que somos minoria absoluta nesse ranking. Como assim, um prato pesado para o primeiro encontro, indago? Então, lembro aos entusiastas da proteína poderosa que aquela opção vai exigir cuidado extra. Sigo com exemplos: taninos um pouco mais rústicos provocam adstringência na boca, indesejável para quem tem planos para a etapa seguinte da conquista, certo? Além disso, o fio dental tem que estar às mãos na primeira ida ao toalete após a refeição e aproveitar a oportunidade de checar se os antocianos do vinho não deixaram o seu sorriso azulado. E chego a considerar ainda o empenho orgânico necessário para digerir tal receita.
Qual desses pratos você escolheria para o primeiro encontro?
Já o risoto de frutos do mar acompanhado de um branco gelado vai na direção oposta. É mais gentil, mantém a boca molhada, não produz efeitos violáceos nos dentes e nem maltrata o organismo. Além disso, remete a um bem-vindo refinamento à mesa que, com certeza, conta ponto se o objetivo é impressionar a outra parte. Os argumentos pró-vinho branco parecem ser irrefutáveis, não? Não. Existem outros a serem levados em conta, ensinam os alunos. Os convictos conquistadores vêm na composição com vinho tinto a energia certa um encontro amoroso.
Para eles, a cor vermelha da bebida remete a apetite, volúpia, fome, desejo. É… falando assim… Já o risoto e o tom palha do vinho mostram uma mesa pálida, comedida, recatada. Precisa falar mais? Não há distinção de gênero quanto à preferência pelo prato mais potente. Aliás, as mulheres são especialmente falantes ao justificar a escolha e trazem sempre um viés malicioso, muito cativante. Os poucos que dizem preferir o risoto e vinho branco, argumentam que este seria só para o quebra-gelo e que, bem-sucedido o encontro, o próximo investimento, ou seja, o segundo jantar, não devem faltar taninos e proteína “de verdade” no romance.
Faz sentido tudo isso, não?! É claro que esse exercício em sala de aula não tem nenhum rigor científico, pois não se trata de uma pesquisa. É, no máximo, uma enquete espontânea que serve para demonstrar que a escolha dos experts nem sempre atente à expectativa do cliente. Quem lida com vinho deve, necessariamente, ter a cabeça aberta e estar disposto a virar as costas para o óbvio. Em se tratando de romance, então, melhor deixar fluir. Bom Dia dos Namorados.
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