Eu Por Aí

Descubra uma pacata e bucólica Londres em Richmond

por Eduardo Gregori
Publicado em 16 de setembro de 2019

Sempre que visito Londres tenho a certeza de estar em uma das esquinas mais agitadas do mundo. É gente de todo o mundo que vem e que vai apressada, que sobe e que desce as escadas do metrô e que cruza as ruas a correr como se não houvesse o amanhã. Por isso é tão fácil distinguir um turista de um morador. Enquanto quem visita tem tempo de sobra para ver as belas paisagens, quem mora parece estar correndo 24 horas contra o relógio. 

Em minha última viagem à capital do Reino Unido, quase no início do Verão europeu, tive o prazer de conhecer um outro lado de Londres que jamais pensei que existisse. Imagine um lugar com muito, mas muito verde, ar puro, belas paisagens e onde o tempo não é importante. Não há correria nem compromissos. Um lugar para simplesmente desfrutar de tudo, da paisagem que mais parece emoldurar um quadro pintado durante um chá das cinco em um parque observando uma plantação de lavanda.

Crawdaddy Club, bar onde os Rolling Stones iniciaram carreira e eram residentes aos domingos

Sim, essa Londres existe e não é preciso cruzar quilômetros para chegar até este refúgio margeado pelo Rio Tâmisa. Apenas 13 quilômetros separam o agitado centro londrino das paisagens de campo de Richmond. O percurso de pouco mais de meia hora pode ser feito confortavelmente de trem suburbano, de metrô, ou até mesmo de barco.

Fui recepcionado em Richmond pelo simpático Paul Jackson, guia da Discovery Richmond que passou o dia a me mostrar as belezas deste lugar tão pitoresco. Paul encontrou-me na estação e em frente já me mostrou um lugar que tem tudo a ver comigo, o antigo Crawdaddy Club, bar onde os Rolling Stones, em 24 de fevereiro de 1963, começaram sua trajetória como banda. Foram residentes tocando sempre aos domingos. No Crawdaddy Club também aconteceu um encontro histórico entre Beatles e Rolling Stones. Dá para imaginar?

O mais gostoso de Richmond é que a cidade pode e deve ser visitada a pé. Cada rua, cada praça ou parque tem o seu encanto. Do Crawdaddy Club caminhamos um pouco e logo chegamos a Green. Este parque com certeza terá um lugar especial na minha memória. Estávamos a observar uma partida de críquete quando uma bola arremessada foi parar justamente na canela de minha mãe, que me acompanhou na viagem. 

Green, parque para aproveitar os raros dias de sol

Mas deixe-me falar do parque. É um espaço verde muito aconchegante, rodeado de edificações históricas como a Richmond Lending Library e o Richmond Theatre, além de casarios imponentes. O dia era de sol, coisa muito rara na Inglaterra, então, mesmo sendo um dia de semana, muita gente estava ali para aproveitar o calor do pré-verão europeu e fazer um piquenique, comer ao ar livre ou simplesmente aproveitar os raios de sol.

Voltando à minha mãe, saímos para procurar gelo para baixar a bola que havia se formado na canela dela e nos deparamos com uma gelateria deliciosa. Entramos na Danieli e saímos dali com o gelo mas também com saborosos gelados. O dia de sol e calor estava mais que propício para um bom gelado. Da porta da gelateria espreitei ruas estreitas e muito simpáticas onde se via lojinhas, restaurantes, pubs e cafés. Resisti à tentação e deixei para mais tarde.

Gelateria Danieli, gelados de variados sabores no centro de Richmond

Atravessando o Green um mapa mostra que ali havia um dos mais importantes palácios da realeza britânica, o Richmond Palace. Os reis Henrique VII e VII e também a Rainha Elizabeth I passaram parte de suas vidas neste local, que foi destruído pelo fogo, mas que ainda guarda partes que podem ser vistas. Percorrendo a propriedade (por fora, pois atualmente é uma área privada), chego a uma rua com casas no mesmo estilo. Paul me conta que a área pertencia ao palácio e eram as casas da criadagem. Hoje são também propriedades privadas ocupadas por moradores locais. Que sorte viver num lugar assim, não é verdade? 

Estrutura do Richmond Palace que resistiu à destruição do fogo

Seguimos para as margens do Tâmisa e Richmond parece ainda mais bonita. As águas límpidas do rio emolduram um grande passeio público, como uma ribeira. Na verdade, esta área já fica em Twickenham, um distrito de Richmond e o parque ganha o nome de Twickenham Green.  Paro para tirar uma foto de uma propriedade com um jardim incrivelmente bem-cuidado. No caminho cafés e restaurantes, barcos para canoagem e de passeio e ainda bancos aconchegantes para sentar e simplesmente apreciar a vista. Muita gente aproveita a paisagem e o caminho fechado ao trânsito para se exercitar, caminhar ou correr ao longo da margem. 

Vista do bucólico Twickenham Green nas margens do Rio Tâmisa

Subo as escadas rumo a outro belo parque no topo da cidade e me deparo com um busto de Bernardo O-Higgins, o libertador do Chile. Richmond tem uma forte ligação com o país andino. O herói chileno passou ali dois anos no final do século 18 e é reverenciado até hoje. Quando de seu aniversário o embaixador chileno encabeça as homenagens. 

Além do Chile, Richmond também tem uma ligação histórica com Portugal. O último monarca luso, Manoel II, exilou-se em Twickenham com sua esposa, a princesa alemã Victoria Augusta de Hohenzolern. Com a revolução que instaurou a república em Portugal e que culminou com o assassinato do rei Carlos e de seu primeiro filho Luiz, restou ao monarca e sua mãe a fugirem para Gibraltar e de lá para Richmond, onde se estabeleceram. 

Gosta de jardinagem? Não é lá a minha atividade preferida, mas no caminho para o topo de Richmond deparei-me com o Buccleuch Gardens, um parque simplesmente deslumbrante, todo ornamentado com plantas, flores, estufas e fontes. O lugar, que foi uma área privada de propriedade de um nobre inglês, foi transformado em parque público e passou a fazer parte do chamado Caminho do Tâmisa, que integra todas as áreas verdes de Richmond. Os jardim são muito bem cuidados e, na primavera e verão, é quando estão ainda mais vistosos, com todas as flores a revelar suas diversas cores e aromas. Sem dúvida um dos lugares mais bonitos da cidade.

Fonte em Buccleuch Gardens: Parque tem jardins impecavelmente cuidados

Na primeira parte da colina paramos para um chá. Além de aconchegante, o parque oferece uma visão privilegiada das margens do Tâmisa. Um canteiro de lavanda destaca-se na imensidão verde. A visão e o perfume deixa tudo ainda mais poético. Subimos até o topo e o que já era lindo fica ainda mais belo. Paul me mostra a reprodução de quadro pintado há alguns séculos e ao tirar a foto da minha frente vejo a mesma paisagem como se o tempo não tivesse passado. Ao longe,  cercadas de verde e às margens do rio, propriedades tipicamente inglesas quase desaparecem engolidas pelo verde. 

Mas nem só de paisagens de tirar o fôlego este parque é feito. Viro-me para a rua e Paul me mostra a casa onde viveu Mick Jagger e sua ex-esposa, a modelo Jerry Hall. Nesta época o cantor já era um rockstar e mantinha uma casa em Richmond para fugir do assédio da imprensa em dos fãs. Jerryl, que ficou com a propriedade, ainda vive lá.  Aliás, Richmond é um refúgio para muitas celebridades, entre elas o cantor Ricky Astley, Brian May e Roger Taylor, guitarrista e baterista do Queen, Pete Thousand, guitarrista do The Who e até mesmo a atriz Angelina Jolie, que morou durante um tempo em Richmond enquanto era casada com Brad Pitt. 

Vista do topo do Buccleuch Gardens, paisagem reproduzida em muitos quadros

Caminhando ladeira acima chegamos a Richmond Park. O parque real é um dos maiores em extensão de toda a Inglaterra são mais de 1 mil hectares de área. É preciso fôlego e tempo para conhecer o lugar. A minha melhor experiência no dia em que visitei Richmond Park foi ter avistado um grupo de veados. Há muitos que vivem no parque, então parei perto de um grupo e pude observa-los por algum tempo. Paul me avisou que é mais seguro permanecer a uma certa distância, uma para não estressar os animais e também para nossa segurança.  Mas em Richmond Park há muito mais para se ver, como uma gigantesca plantação de arbustos, além de flores e trilhas para uma quase infinita pista de caminhada. E quem não quer seguir uma linha estipulada, basta se embrenhar mata adentro. Se quer um verdadeiro contato com a natureza, visite este lugar.

Richmond Park, mais de 1 mil hectares de área verde

Depois de um dia feito de belas paisagens era hora de voltar. E foi aí que Paul nos surpreendeu com um passeio de barco pelo Tâmisa desde Richmond até o centro de Londres. O passeio da Thames River Boats dura cerca de duas horas e revela um Tâmisa com fauna e flora preservados. No caminho avisto aves em seus ninhos nas margens e nas copas das árvores. Nada do barulho de cidade. O silêncio só é quebrado pelo ronco dos motores da embarcação e pela conversa dos passageiros. O passeio pode ficar ainda amais aconchegante acompanhando de uma boa taça de vinho ou mesmo um café quentinho. 

Barco da Thames River Boats atraca na estação de Richmond

Ao longo do caminho vou percebendo a cidade se aproximar. O verde vai dando lugar a construções, casas, prédios altos, hotéis de luxo e, de repente avisto de um lado do rio a London Eye e do outro o icônico prédio do Parlamento. O barco atraca e volto para o hotel com uma visão muito diferente do que a tresloucada Londres pode oferecer ao seu visitante.

Como chegar

Antes de planejar a visita vale lembrar que, se quiser poupar com transportes em Londres (que é bem caro ao converter real para libra), a melhor opção é utilizar o Cartão Oyster. Ele pode ser comprado em qualquer estação do metrô ao custo de 5 libras que são devolvidas ao fim de sua utilização. O Oyster Card é recarregável de diferentes formas: múltiplos de 5 até 90 libras. A cada utilização o saldo é baixado do cartão. Além do carregamento, o Oyster tem também a opção passe que pode ser carregado nas categorias mensal ou anual. Para todas as modalidades há um bom desconto em relação ao preço cheio de uma passagem. Informação sobre preços e onde o cartão pode ser usado e comprado na loja do Visit Britain.

√ – Richmond de trem: Waterloo Station no centro de Londres diretamente a Richmond Station. Percurso de 25 minutos.

√ – Richmond de metrô:  Linha District de Victoria Station, em Westminster até Richmond Station. Percurso de 31 muitos.

 

* Viajei para Londres a convite do Visit Britain, órgão que promove o Reino Unido. Eduardo Gregori , Campinas.com.br e  Eu Por Aí agradecem a Paul Jackson, da Discovery Richmond,  Thames River Boats e Oyster Card.

Sobre Eduardo Gregori


Eduardo Gregori
Travel Journalist / Publisher
info@euporai.pt
 

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