Cinema Literal

Cássia Kiss emociona público do Recife

por João Nunes
Publicado em 2 de junho de 2018

Homenagens em festivais são corriqueiras. O homenageado recita um discurso mais ou menos previsível, agradece ao festival, diz estar emocionado, faz uma piada ou citação e termina com uma frase de efeito. Ao receber homenagem no 22ª edição do Cine PE – Festival do Audiovisual, do Recife, nesta sexta-feira (1º de junho), Cassia Kiss protagonizou um dos momentos mais emocionantes em cerimônias desse tipo.

Quebrou o protocolo ao empunhar o microfone e, mesmo antes de um anúncio da apresentadora, desandou a falar sobre a carreira, o ofício do ator, até ser interrompida: “Cássia, deixe-me chamar a pessoa que vai lhe entregar o troféu. O nome dele é Gabriel Leone (ator de Os Dias Eram Assim, TV Globo)”. E ela quebrou o protocolo outra vez. Nem esperou o ator subir ao palco e desceu para encontrá-lo na plateia e se demorou no abraço até a apresentadora dizer: “Gabriel, traz ela pro palco”;

E ele também emocionou: “Não preparei nada porque não preciso me preparar para falar com você”. Ela o abraça seguidamente e faz o discurso: “Aprendi que o essencial do ator é a verdade. Seja verdadeiro no que diz e faça; isto é o suficiente”. Prossegue: “A vida é um drama, mas eu gosto da vida”. E finaliza dizendo ter aprendido que o importante não é julgar, mas compreender e que isto faz toda a diferença.

Neste sábado (2) falando com os jornalistas, deu uma aula de vida. Afirmou que não tem formação acadêmica, mas aprendeu lendo literatura e isso lhe ajudou a ter compreensão do mundo. E justificou os muitos abraços a Gabriel: “Não tenho nenhuma rede social, detesto tirar foto. Gosto de abraços. Quando me pedem para tirar fotos, eu digo: foto, não, te dou um abraço”.

Filmes

O melhor curta da noite foi “Uma Balada para Jack Lane”, do pernambucano Djalma Galindo, sobre um personagem folclórico da região que usava da fantasia para fugir da realidade incorporando personagens clássicos do cinema. Ótimos personagens e muito boa direção – a inserção de filmes na narrativa enriquece e muito a produção.

Dos dois longas, muitos méritos para “Os Príncipes”, do veterano Luiz Rosemberg Filho. No passado dizíamos que esse filme era um soco no estômago, mas diante do que se vê na tela, a expressão virou coisa de criança. O filme é uma porrada no estômago, no queixo, na cara. Muita violência, nudez, sexo, palavrões e um cenário caótico de desilusão extrema, cínica, niilista.

Há uma cena de assassinato ao final que beira o insuportável – de revirar o estômago. Contudo, traz a assinatura de Rosemberg Filho na direção segura e inventiva. O contraponto de tamanha violência está na fotografia belíssima de Alisson Prodelik, nas ótimas atuações e em uma cena dança de Patrícia Niedermeier. Um dos atores, Orã Figueiredo define bem o que vimos na tela: “O Rosemberg não quer agradar a plateia”.

Fotos: crédito – Felipe Souto Maior (divulgação)

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