Blog do Vinho

Brunello di Montalcino, o belo tesouro da Toscana

por Suzamara Santos
Publicado em 11 de maio de 2017

A degustação “Top Il Brunello de Montalcino”, realizada na sede da Associação Brasileira de Sommeliers – ABS Campinas, foi um presente para os apaixonados por vinho. Não é todo dia que temos o privilégio de degustar um painel com cinco grandes Brunelli de marcas e safras diferentes, que, embora plenos em aromas e sabores e exibindo pontuações elevadas dos principais críticos internacionais (Robert Parker e Wine Spectator incluídos), anunciavam um envelhecimento altivo de muitos anos pela frente.

Com apresentação e seleção de Bruno Vianna, presidente da ABS-Campinas, ficou demonstrado que o vinho ícone da Itália, apesar de relativamente recente na enologia, merece o protagonismo que ostenta na cena vitivinícola mundial, desde a segunda metade do século 20, quando começou a chamar a atenção pela qualidade e exuberância. A série contou ainda com um Rosso di Montalcino, que surpreendeu pela diversidade aromática, e deu um tempero a mais para a noite.

Até a segunda metade do século 20, os Brunelli eram quase lendas, tidos como raridades acessíveis apenas a apreciadores muitos especiais. A história começou a mudar em 1966, quando se tornou um dos primeiros vinhos a serem reconhecidos como um DOC, o sistema italiano de denominação de origem. E, em 1980, foi o primeiro vinho a receber a classificação de DOCG (Denominazione di Origine Controllata e Garantita), o que lhe trouxe, além de mais prestígio, mais controle das normas de elaboração exigidas pela legislação local. Hoje, Montalcino, uma graciosa comuna medieval, situada na Toscana, é sinônimo de grandes vinhos.

Por lá, viceja a uva sangiovese (ou brunello), favorecida pelo clima quente e seco em relação à Toscana e pelos solos de diversas eras geológicas. Nas áreas baixas, ao sul, o terreno é mais argiloso com deposição de camadas de maior altitude e resulta em vinhos mais opulentos. Nas áreas altas, predomina a composição de marne com xisto e pedra calcária (alberese), que torna os vinhos mais aromáticos. Além dos Brunelli e Rosso, são famosos também Moscadello do Montalcino (DOC), o Sant’Antimo DOC e alguns IGT (Indicazione Geográfica Típica).    

Como regra, um Brunello tem que estagiar por, no mínimo, dois anos em carvalho, mais quatro meses em garrafa e só pode ser comercializado cinco anos pós-colheita. Para ser reconhecido como um Riserva, distinção ainda superior, os prazos são mais extensos: só sai da vinícola com seis meses em garrafa e seis anos pós-colheita. Ou seja, chegam ao mercado com uma boa estrada. O resultado são bebidas de grande estrutura e complexidade, com vocação para longa guarda e muita fidelidade ao terroir e à safra. Foi o que vimos na degustação desta semana. Vinhos agradáveis, intensos, profundos e com um belo futuro pela frente. Vamos às observações dos seis vinhos:

_ Canalicchio di Sopra Rosso di Montalcino, 2014, 100% Sangiovese, Toscana (Itália), álcool 13,5%: baixa intensidade de cor, tonalidade rubi com discreto halo castanho. No nariz, presença de baunilha, frutas vermelhas como cereja e morango, notas balsâmicas. Na boca, acidez elevada, fresco, taninos macios, corpo médio, baixa intensidade gustativa. Representante Grand Cru, R$ 229.

_ Allegrini San Polo Brunello di Montalcino 2012, 100% Sangiovese, Toscana (Itália), álcool 14%: intensidade de cor média, halo granado mostrando evolução. No nariz, riqueza aromática, notas de tostado, cacau, tabaco e leve floral; os aromas evoluíram para café e estragão no final da noite. Na boca, mostrou-se equilibrado, boa acidez e persistência média, porém, não manteve o impacto causado pelos aromas. Pelo menos mais cinco anos de guarda. Representante Inovini, R$ 500.

_ La Colombina Brunello di Montalcino 2010, 100% Sangiovese, Toscana (Itália), álcool 15%: Intensidade de cor “média mais”, já apresentando reflexos alaranjados, confirmando sua evolução. Aromas terciários elegantes, como alcaçuz, anis, tabaco, amêndoa, ameixa, balsâmico, figo. Na boca, mostrou-se equilibrado, com taninos macios, ótima acidez e bom corpo. Mas merece ficar mais uns cinco anos na adega. Representante Tahaa, R$ 390.

_ Fuligni Brunello di Montalcino Riserva 2010, 100% Sangiovese, Toscana (Itália), álcool 14,5%: Intensidade de cor “média mais”, halo castanho com leve tom alaranjado. Foi o vinho que menos desempenhou, o que surpreendeu os presentes por se tratar de um Riserva da excelente safra de 2010. Chegou com os aromas fechados e assim permaneceu durante toda a sessão. Na boca, mostrou taninos macios e alguma opulência. Representante Mistral, R$ 1.018.

_ Il Poggione Brunello di Montalcino Riserva Vigna Paganelli 2007, 100% Sangiovese, Toscana (Itália), álcool 14,5%: cor mais intensa do que a dos vinhos anteriores, com toques atijolados. No nariz, deliciosos aromas terciários, como trufas, cogumelos, tabaco, alcaçuz, figo, azeitona, sous-bois. Na boca, correspondeu à riqueza dos aromas, muito elegante, ótima acidez, taninos macios. Representante Nova Fazendinha R$ 650.

_ Pieve Santa Restituta/Gaja Brunello di Montalcino Sugarille 2006, 100% Sangiovese, Toscana (Itália), álcool 15%: alta intensidade de cor, com nítido halo granado, mostrando sua evolução. Aromas terciários complexos com sous-bois, anis, trufas, casca de laranja, alcaçuz, ameixa preta, fumo de rolo. Na boca, se mostrou à altura dos aromas, com agradáveis taninos, ótima acidez, boa persistência. O melhor vinho da noite. Representante Mistral R$ 1.357,91. 

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