Liquidificultura

“Boneca Russa Ching-Ling”

por César Póvero
Publicado em 24 de outubro de 2016

Quando eu assisti ao filme “Bonecas Russas”, uma continuação não tão boa, como geralmente acontece, de “Albergue Espanhol”, vi a bela definição, bem poética de que as mulheres são como as bonecas russas, há uma dentro da outra, e depois outra, e outra… assim você vai descobrindo essas outras mulheres que habitam a mesma.

O objeto em si, a boneca russa, nunca me chamou muito atenção como objeto decorativo, apesar de fazer parte de uma cultura e tudo o mais, de uns tempos pra cá, simpatizei com a figura externa, a maior de todas e adquiri numa dessas lojas Ching Ling.

Achei incrível como são mal feitas, desde o encaixe quando você as abre e quer fechá-las e sendo assim não consegue, até a pintura externa que é um grande atrativo.

Fico preocupado com essa invasão ching linquistica que torna tudo o que há no mundo acessível, seja de mau gosto ou não, porém na maioria das vezes de péssima qualidade.

A primeira boneca que abri, a que todos veem, a maior delas que guarda as outras dentro, já tem uma pintura que deixa bem a desejar perto das originais, mas tudo bem,é uma falsificada de preço bem acessível, não se pode reclamar. Porem, chegando em casa, fui abrindo as demais e tirando uma de dentro da outra, é pra rir, elas vão ficando cada vez mais feias e menos pintadas, quase viram uns barbapapas, para quem se lembra disso.

Pensei no que acharia o roteirista do filme se visse as bonecas russas chin lings, será que sua visão mudaria?

A minha mudou, não é otimista, acho que grande parte da humanidade são bonecas russas ching ling, você vai conhecendo as mais e mais internamente e elas vão se apresentando mais e mais sem aquilo que você admirava por fora.

A rapidez das coisas, dos fatos, dos relacionamentos, gerando uma má qualidade no produto final, a desvalorização do todo.

Em contra partida vai se resgatando antigos hábitos do rústico, do artesanal, o feito à mão, o mais demorado e mais saboroso, a qualidade… o bem estar.

Este texto não tem o propósito de falar mal destas lojas que tornam muitos pequenos sonhos possíveis e sim da má qualidade em geral de algumas coisas, objetos, sentimentos, serviços, seres humanos…

 

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