Cronicando

Bolinha, o carinha!

por Maria Angelica
Publicado em 14 de janeiro de 2021

O ano começou com um convite irrecusável.

– Venham! Amanhã é o aniversário do Bolinha. O Bolinha é esse carinha aqui!

No vídeo, Guilherme apresenta seu amigo. Um Tricerátops, bebê, ainda com seus chifres em formação, com seus olhos verde-amarelos arregalados. O bichinho era um sonho de consumo do meu sobrinho-neto. Quando ele tinha três aninhos, em uma visita à casa de seu primo Felipe, ficou encantado com aquele ovo branco na prateleira ao lado de uma coleção de dinossauros. Quase perdeu o fôlego quando, ao ser aberto, viu dentro do ovo o dinossaurinho herbívoro. Anos atrás, o dei de presente ao então adolescente Felipe, meu sobrinho e afilhado. Em várias oportunidades, o Gui até tentou levar o dino para sua casa. Mas, não conseguiu e recusou, com desprezo, outro Tricerátops, laranja, adulto, e sem os olhos simpáticos do filhote. Desta vez, sabendo falar com propriedade, insistiu, por que não?

– Que tal você me dar esse ovo? Essa foi a pergunta que o Gui repetiu ao primo mais velho.

E foi na virada de 2020 para 2021 que o Felipe, hoje um homem feito, de 32 anos, se rendeu aos pedidos do priminho e, finalmente, o Bolinha mudou de endereço. O Gui saiu do quarto segurando emocionado sua preciosidade. Desceu as escadas com todo cuidado, degrau por degrau, para não deixar cair o ovo-branco-de-plástico com o pequeno dinossauro a dormir de olhos abertos em seu casulo. O novo membro da família imaginária do Gui. Em uma semana, na conta desse garotinho, o dinozinho fez um ano, motivo suficiente para festejar.

– Espero vocês às 7 horas da noite. Vai ter brigadeiro que eu fiz com minha mãe.

E teve brigadeiro, bolinho de cenoura, refrigerante, coxinha e croquete. Decoração com bexigas para o aniversariante Bolinha.
E lá estávamos nós: as duas tias-avós, os pais do Gui, a avó materna e o primo Felipe, barbado, que ele acha por bem chamar de tio.
Cantamos parabéns para o Bolinha. Guilherme, feliz da vida, dançou em cima da cadeira, bateu palmas e, todo sorriso ao lado de seu bichinho-amigo-de-plástico-verde-duro, apagou a velinha de 1 ano. Posamos para as fotografias de praxe, como pede uma ocasião dessas.

Festa organizada pelo Gui para reunir o amor em torno de si. Aos cinco anos, ao contrário de muito marmanjo, já percebeu que a chave não virou de 2020 para 2021. O medo, que não deveria ter, mas tem, o faz pedir que usemos a máscara e não nos deixa abraçá-lo sem lavarmos as mãos. Ele deseja de todo o coração, sentimento que falta aos negacionistas habitantes da terra plana, que a vacina se torne uma realidade o quanto antes para que possa voltar a viver uma vida vizinha do normal, com liberdade para brincar sem o temor que o paralisa, o isola das crianças por causa do outro bichinho, encastelado com suas coroas, este sim mortal.

 

Fotos: Pedro Felipe Pizzolatto D’Abruzzo

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