Pensar Psicanalítico

As mulheres na (da) minha vida – Um percurso por questões de amor e misoginia

por Vagner Couto
Publicado em 21 de outubro de 2022

Numa época de tanta misoginia nesse país tão macho e constrangedor, esse Brasil varonil, venho fazer um depoimento e expressar minha reverência, meus sentimentos e, junto disso, colocar uma pequena reflexão e firmar meu posicionamento.

Se não fosse esta mulher, eu não teria nascido: Zulmira. Que me nutriu, sustentou e orientou.

Se não fosse esta mulher, eu não me saberia jardineiro: Maina.

Se não fosse esta mulher, eu não teria reconhecido o meu rastro: Lúcia.

Se não fosse esta mulher, eu não sei em qual parte do fundo de abismo eu estaria: Silvia.

Se não fosse esta mulher, eu não teria experimentado um sonho: Regina.

Se não fosse esta mulher, eu ainda estaria preso ao que não mais me pôde ser: Cíntia.

Se não fosse esta mulher, eu não seria pai – mesmo eu podendo ser muito melhor do que já pude ser e do que ainda sou: Marizete.

Se não fosse esta mulher, eu não teria vindo com meu amor em praça pública: Mariana.

Se não fossem estas mulheres, eu ainda estaria em busca do meu prumo: Patrícia e Roseli.

Se não fossem estas mulheres, eu não saberia que se poder ser filho de mais que uma mãe: Régula e Lúcia.

Se não fossem estas mulheres, eu não teria tanto colo, acolhimento, conforto, risos, amizades e celebrações: Carla, Suzana, Nélia, Claudinha, Mara, Ana Cris, Teldes, Paulinha, Glaciele, Ana, Maria Antonia, May, Cinthia, Lili, Déborah, Amanda, Sandra, Daniele, Rosinha, Isabel, Zezinha… – alegrias na minha vida.

Se não fossem estas mulheres, eu não teria desenvolvido meu dom de amor: Silvia, Patrícia, Lessa, Denise, Isabela, Soledad, Sâmara, Vera, Kátia, Suely… – e não teria conhecido meu dom de amar e me dar: Claudia.

Se não fossem estas mulheres: Sandra, Jussara, Gisela, Iris, Isabel, Lud, Ilka, Débora, Juliana e outras tantas já citadas e não citadas… – de onde teriam vindo tão bons conselhos?

Se não fossem estas mulheres, com sua inspiração, liderança ou trabalho, o mundo seria muito mais rude e árido do que ainda é: Faith Popcorn, Jacinda Ardern, Nancy Mangabeira, Marilyn Ferguson, Pequenina, Angela Merkel, Monja Cohen, Lúcia Pupo Nogueira, Hannah Arendt, Violeta Parra…

E se não fossem outras mulheres, eu não teria sido posto na roda, onde me descobri, expressei, pude ser, atendi, me senti, quando nos desejamos e me dei e se deram pra mim, quando eu percebi como é bom viver a vida com as graças que elas podem conceder, propiciar, partilhar e celebrar: muitas – assim como eu pude e posso corresponder a tudo isso.

Pela presença das mulheres em minha vida, nas formas de cada uma, eu me soube capaz de ser, muito mais que macho – homem, e muito mais que homem – pessoa, e pude entender e sentir a grandeza e a beleza que é esta força feminina na natureza, na cultura e na história de tudo quanto há – inclusive na minha vida. Fêmeas de grandes asas e grandes garras com suas fibras fortes e flexíveis, com o coração maior que o cérebro, mas, nem por isso, com um senso menor ou menos capaz do que o do homem naquilo que realmente interessa.

Mulheres… provedoras de sensibilidade, compaixão, acolhimento e humanidade, portadoras da força de equilíbrio yin, feminino que nos liga ao ânima que nos anima, sagrado princípio que rege os mistérios de Gaia, Mãe-Terra, Mãe-Natureza…

Então, é por todas essas mulheres… – e por todas as mulheres mais de todos os nomes que não caberiam aqui -, que eu firmo a minha esperança de um mundo melhor, com mais sensibilidade e profundidade, esse nosso mundo tão precisado e ainda prenhe de um olhar mais respeitoso entre todos os seres humanos, de todos os sexos gêneros e denominações, um olhar mais brando, compassivo, acolhedor, um olhar mais afetivo, maternal, amoroso e sensível.

Um olhar por um mundo que tenha mais brandura também com esses homens tão sofridos com o seu próprio machismo – arrogante, guerreiro, invasor, conquistador e dominador. E um olhar que tenha mais consideração e respeito por essas também tão sofridas mulheres – ultrajadas, vilipendiadas, desrespeitadas – por conta desse mesmo machismo arrogante e tudo mais.

Que hoje seja um dia e berço de reflexão profunda e transformadora que nos torne, homens, mais dignos de nossas palavras quando pronunciarmos: minha amiga, minha querida, minha amada ou minha companheira! À todas essas mulheres que já vieram a mim…  e à todas a todas as outras de que sinto suas presenças imprescindíveis no mundo e na vida…  – como disse, minha reverência.

Misoginia

Uma introdução – Misoginia (do grego miseó, “ódio”; e gyné, “mulher”) é o ódio, aversão, desprezo ou preconceito contra mulheres. A misoginia é considerada uma atitude cultural de ódio às mulheres simplesmente porque são femininas. É um aspecto central do preconceito sexista e da ideologia e, como tal, é uma base importante para a opressão das mulheres nas sociedades dominadas pelo homem.

A misoginia pode se manifestar de várias maneiras, incluindo a exclusão social, a discriminação sexual, hostilidade, androcentrismo, o patriarcado, ideias de privilégio masculino, a depreciação e violência contra as mulheres, objetificação sexual, piadas, pornografia, agressões verbais, violência, feminicídio e, ainda, até ao autodesprezo que as mulheres podem ser ensinadas a sentir em relação aos seus próprios corpos.

A misoginia, psicopatologia bem antiga, já é encontrada em vários textos antigos afins com mitologias, filosofias e religiões formadoras do pensamento e da sensibilidade contemporânea. Muitos místicos, filósofos e pensadores cultuados e influentes têm sido descritos como misóginos.

Podemos partir da Grécia Antiga, com Hipócrates, Sócrates e Platão e Aristóteles, acusado de descrever as mulheres como “homens imperfeitos”, como se fosse um macho deformado – tema que Freud abordou. Cícero já apontava a misoginia como causada por medo das mulheres – ao qual deu o nome de ginofobia – e que comumente se expressa por um avesso de raiva, agressão e aversão.

Considerado o preconceito mais antigo do mundo, a misoginia é presente no mundo antigo desde as narrativas de Hesíodo, atravessando o Budismo, o Cristianismo, o Islamismo, o Hinduismo e chegando a místicos, filósofos e pensadores cultuados e influentes como Martinho Lutero, Santo Agostinho, Tomás de Aquino, René Descartes, Thomas Hobbes, John Locke, David Hume, Jean-Jacques Rousseau, G. W. F. Hegel, Arthur Schopenhauer, Friedrich Nietzsche, Charles Darwin, Sigmund Freud e Marx – entre muitos outros, sementeira e raízes de um olhar e pensamento que certamente estão precisando de revisão e atualização.

Por hoje, é isso. Mas voltarei a este assunto.

Como lidar com tudo isso? Psicanálise, terapia, autoconhecimento – algo assim.

  

Para falar com o autor,  ou para enviar seu comentário sobre este texto, use: 19 99760 0201 [zap] ou vagnercouto1@gmail.com

 VAGNER COUTO, psicanalista, é assessor acadêmico do CEFAS, Escola de Psicanálise. Já criou e coordenou a realização de mais de 50 simpósios e outros eventos psicanalíticos e na área de saúde mental junto a instituições como Associação Brasileira de Psicoterapia Analítica de Grupo, Núcleo de Estudos Psicológicos da Unicamp e Sociedade Psicanalítica de Campinas. Nesse ambiente, já contracenou com Gaiarsa, Marta Suplicy, Rubem Alves, Maria Helena Matarazzo, Paulo Gaudêncio, Vera Lamanno, Antonio Muziz de Rezende, Marina Colasanti e Roosevelt Cassorla, entre outros. Tem profunda vivência em práticas holísticas de saúde mental em instituições como Brahma Kumaris, Instituto Eneasat e Laboratório de Práticas Dialógicas. Tem 27 anos de experiência como conselheiro em instituição dedicada ao autoconhecimento, à expansão da consciência e à espiritualidade. Poeta e escritor, é autor dos livros “Admirável momento novo” e “A estrela da manhã”.   Jardineiro, ama plantar árvores e cuidar delas.

 

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