Dona Bininha tinha uma figura frágil. Corpo sem substância, cabelos oleosos, olhar triste. Era baiana, de fala mansa. Trazia no rosto o sofrimento indizível da pobreza e do descaso. Dona Bininha era a matriarca da família, formada por filhos, noras, netos e agregados. Todos abrigados numa casa popular com 40 m2. Lar de muita algazarra e pouca comida.
Vizinho de dona Bininha e amigo de seus netos e agregados, frequentava diariamente aquela casa, que carecia de asseio aqui, ali e acolá também. Por estar sempre brincando naqueles cômodos, acompanhava com frequência a preparação do almoço do clã, que ficava a cargo da velha senhora. Invariavelmente, o cardápio era composto por arroz, feijão, farinha de mandioca e uma insinuação de carne de panela, acompanhada de grandes batatas coradas com a ajuda de pó de urucum.
Demasiadamente simples, a comida era um bocado aromática. E as batatas, ah as batatas, eram lindas! Sempre tive vontade de prová-las, mas não o fazia porque era repelido pela ausência das boas práticas de higiene. Assim que aprendi a cozinhar, tentei reproduzir as batatas de dona Bininha inúmeras vezes.
Em nenhuma obtive resultado semelhante ao dela no que toca ao aspecto. Hoje, fico pensando se não deveria ter abdicado de minhas suscetibilidades e provado a comida de dona Bininha. Afinal, o que não mata, engorda. E, pelo que sei, dona Binha morreu foi de velhice e não por qualquer complicação gastrintestinal.
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