O Amor e a Dor caminharam por muito tempo de mãos dadas e assim seguiram…
Passaram por diversos lugares, estradas, esquinas, pontes, becos, edifícios, jardins, campos, florestas e rochedos.
O Amor despertava o interesse de muitos, todos o cobiçavam e o desejavam, mas não o valorizavam, queriam apenas sugá-lo. Logo a Dor o alertou, que ele estava sendo usado por sua beleza, apenas como um objeto de desejo. Brigavam por ele, o queriam, mas não sabiam aproveitá-lo em sua essência.
O Amor não acreditou na parceira, achou que ela não havia aprendido nada com ele e que mais uma vez ela estava indo as raias do pessimismo. Entretido em meio a tantas pessoas que o queriam, ele não viu a Dor partir devagar, deixando-se perder…
perder…
perder-se…
seguir…
em meio a multidão vazia.
A Dor saiu caminhando pelo mundo e tentando encontrar seu habitat natural (do qual se perdeu antes do naufrágio, muito antes de encontrar o Amor) então seguiu e viveu entre os famintos, os que não tinham teto, os abandonados, as vítimas das enfermidades, a exploração infantil, acidentados por pressa, violência nos lares, os criminosos, as injustiças, as guerras inúteis. Encarou de frente a face da miséria, do horror e da morte, o que a fez descobrir que ela, a Dor, não era tão feia quanto sempre havia achado.
Ali entre tantas trincheiras de sofrimento, a Dor sentiu-se um pouco mais forte. Fez de tudo para aliviar a dor de todos que encontrava e assim descobriu que tinha esse poder. Com isso a Dor não percebeu, mas ficou mais leve e se tornou ainda mais forte, imponente e bela.
A única coisa que tirava a tranquilidade da Dor, além de ter perdido o Amor, era o volume que crescia em sua barriga. Aquela deformidade lhe causava muito medo, mesmo assim evitava pensar que aquilo poderia ter alguma consequência séria. Mais dia, menos dia, acordaria e sua barriga voltaria à forma natural.
Já havia se passado alguns meses, nove pelos seus cálculos, e em sua missão solitária perdida por uma avenida escura e decadente na calada da noite, em uma grande metrópole, viu as letras grandes em néon lilás de uma casa noturna, piscavam, piscavam, oferecendo… vendendo, alugando… homens o divulgavam na porta, bem na calçada pra que você degustasse tal iguaria, o Amor…
A Dor até que pensou em seguir em frente sem olhar pra trás, mas não conseguiu, seu amor era mais forte por mais que doesse, respirou fundo e esperando o pior adentrou o tal lugar…
então viu…
o Amor…
Fim da segunda parte, continua…
(Se ainda não leu a primeira parte deste conto, entre no link abaixo:)
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Créditos da imagem: Salvador Dali.
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