Blog do Vinho

A visita de Domingos Alves de Sousa, diretamente do Douro

por Suzamara Santos
Publicado em 9 de junho de 2017

Domingos Alves de Sousa é praticamente de casa. Português do Douro, já veio ao Brasil mais de 20 vezes. Em sua nova visita, incluiu Campinas no roteiro e eu fiz questão de conhecê-lo pessoalmente. O enólogo foi ciceroneado na cidade por José Lúcio Natali, da Enoteca Decanter, e se mostrou à vontade para falar de vinhos, da sua terra e da família, enquanto compartilhava alguns de seus rótulos, com um grupo restrito de enófilos. Foi uma degustação bastante descontraída para quem esperava o tom austero e sisudo que erroneamente é associado aos portugueses, especialmente do Douro, berço vinho do Porto, um dos mais tradicionais troféus da vitivinicultura portuguesa.

Aproveitando a deixa, quem pensa que Douro é sinônimo de Porto, precisa conhecer os excelentes tintos e brancos não fortificados que a região fornece. E Alves de Sousa assina alguns deles que, para nossa alegria, podem ser encontrados facilmente no Brasil. É dele o icônico Abandonado, vinho que tem esse nome porque provém de uma área de vinhas velhas que estava praticamente abandonada em sua propriedade. O vinho foi feito pela primeira vez como experiência, sem maiores pretensões.

Pois acabou dando certo, ganhando prêmios e amealhando prestígio mundo afora. Hoje é um dos itens nobres do catálogo da casa, só vinificado em anos de grande safra, raro portanto. O último Abandonado que chegou ao mercado é de 2013. Divertido, o enólogo busca no smartphone uma imagem do vinhedo de onde sai esse belo vinho – plantas em disposição totalmente irregular, longe dos alinhamentos perfeitos de vinhas que se vê em qualquer região produtora do mundo. Parece que nasceram ali por acaso, com sementes sopradas pelo vento.  Está justificado o nome.

Outro rótulo de prestígio da vinícola é o Quinta da Gaivosa, um vinho exuberante que representa bem o estilo de Domingos Alves de Sousa. Ele gosta de criar blends com mais de 30 castas autóctones, muitas oriundas de vinhas antigas, que podem ultrapassar 100 anos. “A minha filosofia é simples. Não copio vinhos”, resume ele. De fato, personalidade não lhe falta. Engenheiro civil que assumiu a enologia em 1987 impulsionado pela tradição familiar, hoje comanda uma empresa absolutamente atual, inclusive no projeto arquitetônico das instalações, de traços retos contrastando, sem ferir, com a paisagem ondulante do Douro (foto à esquerda).

Nesse ambiente futurista pratica-se uma vitivinicultura conectada com a diversidade do apreciador mundial. As linhas Quinta do Vale da Raposa, Quinta das Caldas, Quinta da Gaivosa, Quinta da Estação, Quinta da Aveleda trazem a assinatura de Alves de Sousa. “Faço vinhos honestos, desde os mais descontraídos aos mais complexos.” Isso explica as notas altas e as indicações de “melhor compra” que seus vinhos recebem em aferições internacionais. E nada melhor para animar qualquer conversa do que os deliciosos Estação Branco 2012, Caldas Tinto 2012 e Caldas Reserva TN 2011. Às observações:

 

VINHO 1: ESTAÇÃO BRANCO 2012

Região: Douro DOC

Castas: Malvasia Fina, Rabigato e Viosinho

Álcool: 12,5%

Límpido e brilhante, cor palha com reflexos verdeais. No olfato predominam os aromas da Malvasia Fina, com presença marcante de abacaxi, maçã verde, flor de laranjeira e delicada mineralidade. Na boca, demonstra intenso frescor, ótima acidez e um amargor leve no final, sem açúcar residual perceptível.  Apontado quatro vezes a Melhor Compra pela Revista de Vinhos. Preço: R$ 73.

VINHO 2:  CALDAS 2012

Região: Douro DOC

Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinta Cão (vinhas com mais de 20 anos)

Cor rubi de média intensidade, aromas nítidos de frutas vermelhas, com predominância de framboesa e amora, evoluindo para figo, chocolate e especiarias. Na boca, se mostrou coerente com os aromas; álcool, acidez e taninos bem integrados, com boa estrutura para mais alguns anos de guarda. Preço: R$ 191.

VINHO 3: CALDAS RESERVA TN 2011

Região: Douro DOC

Casta: 100% Touriga Nacional

Produção: 10 mil garrafas

Coloração rubi intensa, brilhante com reflexos violáceos. Elegante no olfato, com aromas secundários, como ameixas pretas, figo, grafite e delicado floral. Na boca, uma bem-vinda conexão com os aromas, taninos macios, ótima acidez e final longo. Vinho bastante equilibrado e agradável. Está na lista de Melhores Compras de Robert Parker. Preço: R$ 199.

Onde comprar: Os vinhos Alves de Sousa podem ser encontrados na Enoteca Decanter, Gramado Mall, Alameda dos Vidoeiros, 455, Bairro das Palmeiras, f. (19) 3295-1994.

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