Com um título nacional bem genérico (o original é o poético Cloud Atlas – atlas das nuvens) o filme A Viagem nos entrega àquilo que seu título promete: uma viagem através do tempo, acompanhando diversas vidas que possam fazer parte de uma mesma alma, ou várias vidas que descendam de apenas uma alma. Como toda viagem que se preze existem ótimos momentos com outros nem tão bons assim, momentos nos quais ficamos cansados e entediados, com outros que nos causam impacto.
Com o slogan “tudo está conectado”, A Viagem pretende nos fazer refletir sobre a nossa existência; como o destino, o livro arbítrio e a reencarnação podem moldar o que somos hoje. Em determinado momento um dos personagens diz que “somos apenas uma pequena gota no oceano, mas várias gotas juntas formam um oceano”, portanto, de acordo com a Lei de Newton, cada ação possui uma reação, sempre estivemos e sempre estaremos conectados, sejam através de nossas escolhas, decisões ou omissões.
A princípio essa adaptação do livro de David Mitchell, Cloud Atlas, vem credenciada com grandes nomes em sua concepção: os diretores (Andy e Lana Wachowski) de um clássico moderno, Matrix (1999), e o diretor alemão (Tom Tykwer) responsável por um dos grandes cults dos anos 90, Corra, Lola, Corra (1998). Mas, em algum momento, essa junção não deu certo, seja pelo excesso criativo dos envolvidos, seja pela pretensão na abordagem dessa viagem atemporal.
A Viagem é um filme histérico, no qual seu exagero está a serviço de histórias confusas com passagens desnecessárias e momentos que beiram o kitsch. Se não bastasse tudo isso somos obrigados a aguentar quase três horas de duração com sequências de imagens desconexas (muitas delas belíssimas – vale destacar a cena das louças caindo e se quebrando) com uma história que pode ser resumida em poucas linhas: a reencarnação de almas em diferentes momentos da história da humanidade, levando consigo acontecimentos e marcas nos corpos daqueles que as habita. Sua necessidade de virtuosismo, da busca pela imagem perfeita, por uma profundidade quase metafísica em sua concepção é o que nos tira o envolvimento.
Seus excessos estão à serviço de uma narrativa que opta por complicar, ao invés de simplificar, que em nenhum momento joga suas intenções à clara, deixando o espectador simplesmente entediado com tantas idas e vindas no tempo, sendo que o desfecho de todas elas apelam, na maioria das vezes, para clichês melodramáticos (suicídio, amor através do tempo, mártir assassinada, etc).
São seis histórias, na qual acompanhamos alguns personagens em diferentes vidas e o quanto de uma vida acaba interferindo na outra. Essa premissa inicial é interessante, principalmente ao acrescentar alguns subtextos e metáforas visuais de admirável plasticidade. Algumas dessas seis histórias funcionam a perfeição (principalmente a história passada na nova Seul e a do compositor à procura da sinfonia perfeita, que através de uma metalinguagem propícia acaba sendo utilizada como trilha sonora do filme), mas que não são suficientes para salvar o filme de seu pedantismo pseudo-didático.
O que fica dessa experiência é uma viagem na qual compramos um pacote inteiro, mas conseguimos apenas aproveitar alguns passeios. O caminho é longo e demorado e muitas vezes nem vale a pena trilhá-lo, mas, quem se encorajar nessa empreitada, lembre-se de aproveitar as belas imagens de uma viagem mais conflituosa do que prazerosa.
Veja o trailer:
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