É chegada a hora do Carrasco! Walcyr Carrasco, escritor de vários livros, dramaturgo de diversas peças teatrais, depois de escrever para jornais, já que sua formação é de jornalista, passou a escrever novelas no SBT e na extinta TV Manchete. Após migrar para a Rede Globo conseguiu levantar a audiência do horário das 18 horas com “O Cravo e a Rosa” e “Chocolate com Pimenta”, entre outras, depois promovido ao horário das 19 horas conseguiu se manter, porém se destacou com o sucesso de “Caras & Bocas”. Enfim, resumidamente onde quero chegar é na hora do Carrasco!
Estar no sucinto grupo de autores do horário nobre é uma contemplação, após “Gabriela” uma experiência às 23 horas, é isso? Mais ou menos, nunca começa na hora! A principio nas primeiras chamadas da novela vi uma cara limpa do tipo das novelas de Manoel Carlos, só que em Sampa. Essa sofisticação se mantém, acho que precisava um respiro de sofisticação, “Avenida Brasil” e “Salve Jorge”, opostas em sucesso e audiência tinham algo em comum, pobreza demais. Já dizia Bia Falcão (Fernanda Montenegro em “Belíssima” de Silvio de Abreu) – Pobreza pega, pega feito sarna, não toca em nada que pra não me contagiar! Afinal a vida já é dura, fazer um tour na favela é pra gringo rico que ta enjoado da caretice da Disney com Mickey sorrindo.
Walcyr tem superado minhas expectativas, com um enredo cheio de novidades e suspense a cada capítulo, bons ganchos, e atores fazendo personagens não tão engessados, alguns desses atores fazendo drama agora, depois de fazerem comédia para ele nos antigos horários, são vários, não da pra citar todos.
Por mais falta de frescor que possa oferecer Susana Vieira e Antonio Fagundes, vejo certa renovação perto dos últimos personagens, a volta de Françoise Fourton, aliás onde ela estava? No freezer da Rede Globo e das outras também?
Até Paola Oliveira está surpreendendo, fui obrigado a ceder, Mateus Solano já no primeiro capítulo deixa claro que incorporará a galeria dos grandes vilões. Por hora a trama oferece alguns semi-vilões que prometem muita discórdia e mostram mais “Amor à Grana”, porém já pelos boatos o amor à vida tomará rumos, afinal gente boazinha não da audiência.
Carrasco ofereceu muito sofrimento, injustiça já no primeiro capítulo, o bebê roubado da mãe, não é original, impossível ser original hoje em dia, a forma de se contar é o que importa. Mas o Carrasco nos tortura mesmo é na vinheta de abertura colocando Daniel se esgoelando com aquela música, parece que está psicofonando o Aguinaldo Timóteo que está vivo, enquanto Gonzaguinha se revira no túmulo, é preciso muita maldade no coração pra estragar uma música assim, nem reconheci e toca abaixar o volume a cada comercial. Por que o Daniel não fica no sertão? Por que colocarem ele numa novela cosmopolita, nada a ver!
A novela de Walcyr traz características de “Avenida Brasil”, pois há uma nova linguagem, ambientes tumultuados, gente falando ao mesmo tempo, ambientes menos arrumadinhos e um tratamento de cinema na maneira de filmar. Isso não é imitar é tendência. Walcyr teve tempo de ver isso, porém não justifica dizer que há imitação. Só porque o bebê é encontrado no lixo já acharam que lembrava a “Avenida”, encontrar bebê na caçamba ta nos jornais todos os dias, e desde a Bíblia como Moisés ou a tragédia grega como “Édipo Rei”, bebês são abandonados e achados por outros.
Infelizmente acho a audiência da novela injustiçada perto de outras, pois a trama é de bom gosto, bom elenco e tem muitos assuntos que promete deixar reticências, o que é difícil. Elizabeth Savalla impagável como ex-chacrete e Valdirene (Tatá Werneck) formam boa dupla. Walcyr tem a boa sacada de colocar famosinhos na trama, isso alavanca audiência como acontecia na trama das empreguetes “Cheias de Charme”.
Já há quem comente que no hospital paulistano do horário nobre há vários temas que já passaram pela série “Greys Anatomy”, não sei…
O curioso é um autor passar por tantos horários diferentes e se manter com mais sucessos que fracassos, ele vem aumentar um time que de autores que já estão esgotados com Gilberto Braga, Silvio de Abreu e Glória Perez. Gostei de seu estilo, por hora é bem amarrado, limpo e organizado, uma verdadeira faxina depois da bagunça da Dona Glória e sua feira de Acarí. Agora, vinhetas de abertura de bom gosto são cada vez mais difíceis, o bom gosto dessa, fica na animação de bailarinos dançando em Sampa revelando o lado luz e o lado escuro, mas tire o som pra não estragar. Vida! Vida! Vida! O pior é que coisa ruim fica na cabeça. Calma, Gonzaguinha, não é com você!
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