Liquidificultura

A Classe Operária vai ao Paraíso das Novelas

por César Póvero
Publicado em 30 de maio de 2012

Nunca eles tiveram tanto destaque, tanto poder como agora no horário nobre da Rede Globo. As novelas sempre tiveram como foco da trama uma grande empresa e uma luxuosa mansão, independente da origem social de seus proprietários no passado. Porém, em “Avenida Brasil”, a família que lidera usufrui de uma decoração de gosto duvidoso. Em meio ao fictício bairro do Divino, um bairro bem popular onde os novos ricos decidiram ostentar sua moradia. Ali pérolas são dadas ao porcos, onde personagens novos ricos dizem absurdos da língua portuguesa ou de cultura em geral. O jogador de futebol Tufão (Murilo Benício) filho da ex-empregada doméstica Muricy (Elaine Giardini).

Assim foram as primeiras cenas que mostraram o bairro e o povo onde morava a pobre Carminha (Adriana Esteves). A mesma receita se repete com “Cheias de Charme” que no primeiro capítulo abriu com cenas da favela onde a personagem Penha (Taís Araujo) mora, e a mesma faz parte do trio de empregadas ou “Empreguetes”. As trilhas sonoras de ambas as novelas exploram o gosto musical também duvidoso realçando o humor das classes C, D, etc.

De maneira que chega a ser exótica, “Avenida Brasil” explorou o universo do Lixão, assustador e sombrio, bem digno das fábulas como já disse aqui anteriormente, núcleo liderado pelos maldosos/bondosos/suspeitos Nilo (José de Abreu) e Mãe Lucinda (Vera Holtz).

Os gostos mudaram, a mesmice cansou e a teledramaturgia aposta em novas receitas, desde temáticas, edição, músicas, etc. A pobreza se tornou atração, bem no estilo turismo na favela. Talvez esta abertura se deva ao “Cidade de Deus” de Fernando Meireles, que abriu a febre do gênero cinematográfico – “Favela Movie”, que aliás acho que já esgotou, pelo menos por mim.

Já na Teledramaturgia abriu novos horizontes. Há alguns anos “Vidas Opostas” com favela e tiroteios deu alguns pontos a mais para a TV Record, fazendo com que a Rede Globo crescesse os olhos e encomendasse de Aguinaldo Silva, “Duas Caras” com a favela do bonzinho Juvenal Antena, pra mim, esta novela foi um coletivo de erros, mas que manteve boa audiência de acordo a antecessora.

Os gostos sempre mudam, esgotam e dão uma virada, há muito tempo o SBT arriscou com o falecido Walter Avancini, “Brasileiras e Brasileiros” (1.990) e foi um fiasco, pois se comprovou que as pessoas NÃO que queriam ver pobreza na TV, queriam, os ricos, os belos, dignos dos protagonistas das novelas de Gilberto Braga ou Silvio de Abreu. Afinal como dizia Bia Falcão (Fernanda Montenegro) em “Belíssima” – Pobreza pega! Pega como sarna! Não toca em nada, que é pra não me contagiar!

Protagonista cafona e que veio lá bem debaixo foi Maria do Carmo Ferreira (Regina Duarte) em “Rainha da Sucata” (1.990) uma suposta sucateira que virou empresária. Na época, seu autor Silvio de Abreu acabava de sair do horário das dezenove horas com a encomenda do horário nobre. Além de apresentar a nova rica exibindo seus deslizes precisou adequar a trama a menos comédia, o que era de seu costume, e mais drama. Parece que nisso o público também mudou e o humor cresceu mais nas tramas das nove.

O público se renova, os hábitos mudam e as novelas como um reflexo de entretenimento da sociedade também mudam, assim como seus autores. Nunca houve uma abertura tão grande para novos autores na Rede Globo dando certo sangue novo. Eles estão em todos os horários das novelas da rede.

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