O cinema nacional, atualmente, vem se mostrando uma filmografia de extremos: oscila entre comédias populares e filmes mais autorais que primam por um nicho de mercado mais intelectual. Falta nesse sistema uma terceira via: um filme que não seja tão popular e raso como a maioria das comédias que vem sendo produzidas ou que também não seja tão elucubrado a ponto de interessar a poucos espectadores. O filme A Busca (2013) de Luciano Moura, vem para preencher essa lacuna. Percebe-se no filme essa clara necessidade de, ao mesmo tempo em que não cede as exigências fáceis de um mercado consumidor ávido por narrativas mais próximas do novelesco e do popular, manter um diálogo com o grande público, apostando em uma narrativa mais intimista e humana.
O filme acompanha a busca desesperada de um pai pelo filho que foge de casa e deixa algumas pistas soltas pelo caminho. Luciano Moura (diretor e também roteirista do longa, juntamente com Elena Soares) opta por uma narrativa que prima pela emoção e pela transformação psicológica do personagem central. Ao escolher esse afastamento de uma linguagem próxima ao televisivo (coisa que o público brasileiro adora, vide os grandes sucessos de bilheteria do atual cinema nacional) coloca, em contrapartida, como ator central de sua jornada, o conhecidíssimo Wagner Moura. Claro que Wagner Moura não é um ator qualquer, mesmo sendo reconhecido popularmente, é um ator de grandes recursos dramáticos, impregnando o filme com as angústias e os sofrimentos de um pai à procura do filho sumido.
Wagner Moura disse, em uma entrevista, que o filme é a versão adulta do Procurando Nemo, do qual mantém a mesma premissa. Nemo é um produto feito para o público infantil que vem impregnado de uma discussão mais profunda em seu interior: a perda de um ente querido, a necessidade de se construir uma personalidade própria, as diferenças entre pais e filhos, etc, sendo que ambos se modificam nessa jornada. Em A Busca, diferente de Nemo, a ação está centrada apenas no pai, é através dele que vemos e sentimos todos os meandros da história. Esse maniqueísmo na visão narrativa do filme é uma escolha do diretor, mas incomoda um pouco por não nos deixar ver o que se passa com o filho. Com algumas situações que beiram o inverosímel, essa trajetória do protagonista consegue manter nosso interesse graças à irretocável interpretação do ator Wagner Moura.
Relações tumultuadas entre pais e filhos são constantes dentro da história do cinema, sendo que aqui o filme não nos traz nenhuma novidade em relação a essa discussão. O que o filme pretende é ser um divertimento com qualidade, apostando em uma narrativa que lembra um pouco o cinema argentino, intimista em seu conteúdo, mas com grande força na dramaticidade de sua realização.
Apesar de tantas qualidades o filme deixa a desejar em sua resolução, não cumprindo aquilo que a tensão criada, que vai em uma crescente, promete. Ao deixar uma ponta tão importante do roteiro solta, perdendo um pouco do seu impacto e diminuindo a força que essa jornada tinha até então, tanto para o pai, quanto para o filho, o filme ignora um acerto com o passado, nos roubando o entendimento de uma situação que é o cerne dessa narrativa. O filme falha em um aprofundamento maior desse conflito que move a história e leva Pedro, o filho, em sua fuga.
Mas, mesmo assim, é uma ótima opção para quem está cansado das comédias escrachadas que tanto assola o cinema nacional.
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