Bem-estar

10 de Outubro – Dia Mundial da Saúde Mental e do Bem-Estar para Todos

10 de outubro de 2024

(*) Por Antonio Terzis

Em 10 de outubro é celebrado o Dia Mundial da Saúde Mental e do Bem-Estar para Todos, uma propriedade global. Escrever sobre as áreas relacionadas à saúde mental evoca, em nosso íntimo, uma sensação de bem-estar, satisfação e, ao mesmo tempo, de ansiedade e inquietude.

Difíceis são nossos tempos. Não sei se mais ou menos afortunados que outros, mas, sem dúvida, extremamente diversificados.

Ao final do século XIX, o espaço sanatorial era considerado o único modo de tratar o paciente com problemas de saúde mental. A longa permanência no asilo tornou-se o único tratamento possível para todas as enfermidades mentais, resultando em um exército de internados atendidos no vazio. A instituição do asilo se espalhou pela maioria das regiões do mundo onde se constituíam estados de direito, respeitando as liberdades individuais — ou seja, nos países ocidentais com regimes democráticos, ou potencialmente democráticos, e também naqueles que passavam por reformas. Países onde a ordem feudal lentamente caía, enquanto a noção jurídica e filosófica de sujeito começava a se estabelecer.

Com o surgimento de distintos métodos de tratamento psíquico, e ainda mais com a psicanálise, os pacientes psiquiátricos passaram a ser menos considerados como simples objetos de classificação. A partir de então, o conceito de tratamento e cura mudou. O tratamento moral não se reduzia mais a uma técnica de persuasão. O sofrimento psíquico do paciente passou a ser compreendido a partir do trabalho do inconsciente, por meio de uma relação transferencial. A técnica consistia em dar a palavra ao paciente, e já não ao médico; ao inconsciente, e não ao consciente; a um inconsciente verbalizado. A psicanálise lançava as bases de uma clínica fundada na escuta benevolente.

Freud apontava os limites da vontade de cura, introduzindo a dúvida no cerne da relação terapêutica: o pedido de um sujeito pode, de fato, expressar o desejo de jamais se curar ou ser tratado. Na psicanálise, por outro lado, não se utiliza o termo “doente”, mas sim “analisante”, aquele que aceita, por meio da transferência, analisar seu sofrimento psíquico de maneira dinâmica, e não de forma queixosa ou passiva.

Assim, a psicanálise nasceu das ruínas de um sistema de pensamento que havia centralizado o asilo, a filantropia, a cura e, posteriormente, a incredulidade. Freud considerava que o método psicanalítico só se aplicava às neuroses, mas foi criticado por seus primeiros discípulos — quase todos psiquiatras — que viam nesse método um instrumento de transformação do ambiente asilar.

Os progressos no campo da saúde mental são impressionantes. A neurologia e a psiquiatria há tempos deixaram de ser meros instrumentos de diagnóstico e se tornaram especialidades clínicas que exigem constante atualização. Às vezes, as mudanças que ocorrem nos surpreendem. Assim, as ideias neuropsicológicas de Freud, no final do século XIX, estão sendo revisadas com honestidade científica, e sua capacidade visionária é reconhecida. Freud, para sua época, carecia de recursos para demonstrar a verdade de muitos de seus conceitos. Hoje, esses conceitos são confirmados, como a teoria dos sonhos. A experiência clínica e teórica aproxima os pensadores e os força a refletir sobre suas verdades.

Na psiquiatria e na psicanálise, ainda há muito a ser descoberto. Dia após dia, novos procedimentos terapêuticos, novas formas psicomorfológicas e novas técnicas surgem para aliviar, melhorar ou curar os problemas mentais, e solucionar os conflitos que afligem o indivíduo, o grupo a que pertence, a família que constitui e a sociedade da qual faz parte.

Descobrimos novas estruturas patológicas, que forçam os profissionais de saúde mental a reformular diagnósticos e projetar medidas preventivas ou terapêuticas diversas. O agente de saúde mental e sua equipe interdisciplinar devem saber integrar essas novas estruturas e conhecimentos, sem se deixar levar pela fantasia de que são os psiquiatras, psicanalistas ou psicólogos que salvarão o mundo.

Pensemos, assim como todos os que anseiam por uma humanidade verdadeiramente humana, que a ciência deve estar a serviço do homem e o saber, a serviço de uma vida melhor. Relembramos o apóstolo Paulo: “Só a verdade os fará livres”. Afirmamos que o amor, a liberdade e o direito de viver com saúde, constituindo famílias com responsabilidade humana, trabalho e estudo, nos permitem projetar o futuro e contribuir, ainda que modestamente, para aumentar o número dos que construirão um mundo melhor, mais digno, mais humano, com fé em seu destino.

Em nome do Centro de Formação e Assistência à Saúde – CEFAS, agradeço a todos os colegas pelo esforço em contribuir para o bem-estar e a saúde mental.

(*) Dr. Antonio Terzis é diretor e professor do CEFAS – Escola de Psicanálise, em Campinas

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